Ondas de Terror
Wálter Fanganiello Maierovitch - Revista Carta Capital nº 507 de 06/08/2008
http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=1675
Na semana, a Al-Qaeda jogou, no Iraque, uma nova e inesperada cartada. Resultado: 57 mortos e 300 feridos. Os alvos foram os xiitas e os curdos, a demonstrar que Ayman al-Zawahiri, ideólogo alqaedista e o segundo na hierarquia, abandonou o discurso da unidade islâmica e partiu para o conflito interétnico.
A aproximação de lideranças xiitas e curdas ao governo do Iraque e, por via indireta, a aceitação de objetivos perseguidos pelo invasor norte-americano, acrescidas da expulsão de simpatizantes alqaedistas de tradicionais regiões sunitas iraquianas, representaram o fim do sonho de união islâmica por uma jihad global, sob a direção da Al-Qaeda.
Nas ações sangrentas contra xiitas e curdos, a Al-Qaeda utilizou quatro mulheres camicases. Conseguiram driblar a vigilância das chamadas "Filhas do Iraque", adestradas a identificar e a interceptar as mulheres-bombas manobradas pela Al-Qaeda.
O primeiro ataque ocorreu em Bagdá, quando centenas de peregrinos xiitas deslocavam-se ao mausoléu de Moussa al-Kadhimi. Houve uma explosão e a multidão passou a correr em três direções, onde estavam posicionadas três mulheres camicases. Elas tinham escondido, debaixo das tradicionais vestes negras (em árabe, abaya), os explosivos empregados nas detonações. Os três atentados de Bagdá resultaram em 30 mortes, crianças e idosos incluídos.
Na seqüência, em Kirkuk, ao norte do Iraque, uma camicase posicionou-se no centro de manifestação pública organizada pelos curdos. A explosão provocou 25 mortes e 180 pessoas saíram feridas com gravidade.
Em 2007, ocorreram oito atentados com mulheres camicases, ao passo que no primeiro semestre de 2008 foram 24, ou seja, três vezes mais. Para a Casa Branca, numa análise tendenciosa, as vitórias das tropas norte-americanas reduziram o número de combatentes alqaedistas dispostos ao martírio. Isso teria levado ao emprego de mulheres. Os 007 europeus acreditam que o móvel é a vingança, por parte de mulheres desesperadas pelas perdas de filhos, maridos, pais e familiares. Pelos levantamentos, a mulher-bomba provém de áreas pobres e a média de idade oscila entre 15 e 35 anos.
Contra xiitas e curdos, a Al-Qaeda utiliza as mulheres camicases.
Aziz, vice de Saddam, pode ir à forca.
E Bush autoriza a execução do soldado Ronald Gray.
Outro tipo de explosão, a atentar contra direitos humanos e a abalar o Iraque e o Vaticano, está na iminência de acontecer. Nos próximos dias, sairá a sentença de Tareq Aziz, vice-primeiro-ministro do ditador Saddam Hussein, único católico do então regime e com ótimo trânsito no Ocidente. Às vésperas da invasão do Iraque, Aziz foi recebido pelo papa João Paulo II. Sua ligação com o Ocidente era tão forte a ponto de se ter especulado sobre uma colaboração com a CIA.
O processo contra Aziz foi instaurado cinco anos após a sua prisão, ou seja, em 29 de abril último. Ele é acusado de ter mandado matar 42 comerciantes iraquianos, que, em 1992 e por ocasião do embargo ao Iraque, especulavam de modo a provocar a alta nos preços de produtos alimentares básicos.
Aziz não conta com assistência de advogado, pois o contratado teve de se exilar na Jordânia, por ameaças de morte. Nas audiências havidas em abril e maio deste ano, Aziz defendeu-se sozinho e corre o risco de ser condenado à forca, conforme sucedeu com Saddam, em 30 de dezembro de 2006.
Já começaram as pressões internacionais em favor de Aziz. Para a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, por exemplo, sua prisão é "ilegal, ilegítima e arbitrária". Vale lembrar que o Iraque seguiu os EUA, a China e a Rússia, ou melhor, votou contra a proposta alemã de moratória (suspensão) da pena de morte, aprovada em Assembléia Especial, mas sem força de vincular os Estados membros.
Outro tipo de terror a marcar a semana vem dos EUA. Pela lei norte-americana, toda condenação à pena de morte por Corte Marcial precisa ser referendada pelo presidente dos EUA. Na terça-feira 29, o presidente W. Bush autorizou a execução do soldado Ronald Gray, de 42 anos de idade.
Gray está preso desde 1988 e acabou condenado por cinco homicídios, quatro consumados e um tentado, e oito estupros. Os crimes ocorreram entre 1986 e 1987 numa base militar. Para os defensores, Gray tem problemas mentais e estava impossibilitado de compreender a natureza delituosa dos seus atos.
A última licença para matar havia sido dada em 1957, na presidência do texano e republicano Dwight Eisenhower. O seu sucessor democrata, John Kennedy, converteu a pena capital imposta ao marinheiro Jimmie Henderson em pena de prisão perpétua.
O presidente Bush, defensor da pena de morte, não quis deixar para seu sucessor a decisão sobre a execução de Gray. Certamente, desejou completar o seu currículo, pontuado por desumanidades, assassinatos, terrorismo de Estado e crimes contra a humanidade.
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