Tratamentos para a Alma
Adriana Prado e Greice Rodrigues - Revista EstoÉ nº 2025 de 21/08/2008
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Médicos e  hospitais começam a adotar a espiritualidadee a esperança  como recursos para o combate de doenças.
  
  
  
   Força
Força
Tito e Fátima  incentivam postura positiva.
 (foto de Paulo  Jares)
  
 
Há uma revolução em  curso na medicina que mudará para sempre a forma de tratar o paciente. Médicos e  instituições hospitalares do mundo todo começam a incluir nas suas rotinas de  maneira sistemática e definitiva a prática de estimular nos pacientes o  fortalecimento da esperança, do otimismo, do bom humor e da  espiritualidade. O objetivo é simples: despertar ou fortificar nos  indivíduos condições emocionais positivas, já abalizadas pela ciência como  recursos eficazes no combate a doenças. Esses elementos funcionariam, na  verdade, como remédios para a alma - mas com repercussões benéficas para o  corpo. No Brasil, a nova postura faz parte do cotidiano de instituições do porte  do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, da Rede Sarah Kubitschek e do  Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), no Rio de Janeiro, três  referências nacionais na área de reabilitação física. Nos Estados Unidos, o  conceito integra a filosofia de trabalho, entre outros centros, do Instituto  Nacional do Câncer, um dos mais importantes pólos de pesquisa sobre a  enfermidade do planeta, e da renomada Clínica Mayo, conhecida por estudos de  grande repercussão e tratamentos de primeira linha.
  
  
 
A adoção desta postura teve origem primeiro na constatação  empírica de que atitudes mais positivas traziam benefício aos pacientes. Isso  começou a ser observado principalmente em centros de tratamento de doenças  graves como câncer e males que exigem do indivíduo uma força monumental. No  dia-a-dia, os médicos percebiam que os doentes apoiados em algum tipo de fé e  que mantinham a esperança na recuperação de fato apresentavam melhores  prognósticos. A partir daí, pesquisadores ligados principalmente a essas  instituições iniciaram estudos sobre o tema.
  
  
 
Hoje há dezenas  deles. Um exemplo é um trabalho publicado na edição deste mês da revista  científica BMC Câncer sugerindo que o otimismo é um fator de  proteção contra o câncer de mama. "Verificamos que mulheres expostas a  eventos negativos têm mais risco de contrair a doença do que aquelas que  apresentam maiores sentimentos de felicidade e positivismo", explicou Ronit  Peled, da Universidade de Neguev, de Israel, autor da pesquisa. Na última edição  do Annals of Family Medicine - publicação de várias sociedades científicas  voltadas ao estudo de medicina da família - há outra mostra do que vem sendo  obtido. Uma pesquisa divulgada na revista revelou que homens otimistas em  relação à própria saúde de alguma forma ficaram mais protegidos de doenças  cardiovasculares. Os cientistas acompanharam 2,8 mil voluntários durante 15  anos. Eles constataram que a incidência de morte por infarto  ou acidente vascular cerebral foi três vezes menor entre aqueles que no início  estavam mais confiantes em manter uma boa condição física. Provas dos efeitos da  adoção da espiritualidade na melhora da saúde também começaram a surgir. Nos  estudos sobre o tema, a prática aparece associada à redução da ansiedade, da  depressão e à diminuição da dor, entre outras  repercussões.
  
  
  
  
 
Diversão
 Pacientes da  Rede Sarah praticam remo para melhorar a disposição.
 (foto de Paulo  Jares)
  
  
  
 
A partir de  informações como essas, os cientistas resolveram identificar o que levava a esse  impacto. Chegaram basicamente a duas razões. Uma é de  natureza comportamental. Em geral, quem é otimista, tem esperança e cultiva  alguma fé costuma ter hábitos mais saudáveis. Além disso, essas pessoas seguem  melhor o tratamento. "Uma postura positiva leva a gestos positivos. Os pacientes  se cuidam mais, alimentam-se bem, fazem direito a fisioterapia, mesmo que ela  seja dolorosa", explica a clínica geral carioca Cláudia  Coutinho.
  
  
 
A outra explicação tem fundamento biológico. Está provado  que a manutenção de um estado de espírito mais seguro e esperançoso desencadeia  no organismo uma cadeia de reações que só trazem o bem. "Se o paciente é  otimista, encara um problema de saúde como um desafio a ser vencido. Nesse caso,  as alterações ocorridas no corpo poderão ser usadas a seu favor", explica o  pesquisador Ricardo Monezi, do Instituto de Medicina Comportamental da  Universidade Federal de São Paulo. O bom humor, por exemplo, é capaz de promover  o aumento da produção de hormônios que fortalecem o sistema de defesa,  fundamental quando o corpo precisa lutar contra inimigos. Além disso, o riso  provoca relaxamento de vários grupos musculares, melhora as funções cardíacas e  respiratórias e aumenta a oxigenação dos tecidos.
  
  
   
É esse arcabouço de informações que permite hoje o uso, na  prática, da espiritualidade, do otimismo, da esperança e do bom humor como  recursos terapêuticos dentro da medicina. Nos Estados Unidos, por  exemplo, pesquisadores da Universidade do Alabama preparam-se para começar a  aplicar um tratamento batizado de "terapia da esperança". O sistema consiste em  ajudar os pacientes a construir e a manter a esperança diante da doença. "O  primeiro passo é auxiliá-los a encontrar um objetivo importante que dê sentido a  suas vidas. Depois, aumentar a motivação para alcançá-lo e orientá-los sobre os  caminhos a serem seguidos", explicou à ISTOÉ Jennifer Cheavens, da Universidade  de Ohio e participante do grupo que desenvolveu a novidade. Essa construção é  feita com base em técnicas usadas na terapia cognitivo-comportamental, cujo  objetivo é treinar o indivíduo a pensar e a agir de forma diferente para  conseguir lidar de modo mais eficiente diante de condições adversas. O  treinamento é feito com duas sessões semanais realizadas durante dois meses. A  terapia será usada em portadores de deficiências visuais e nas pessoas  responsáveis por seus cuidados. "Acreditamos que ela ajudará muito na redução da  depressão e de outros problemas associados à perda da visão. Os pacientes  ficarão mais motivados a lutar contra as dificuldades e a participar dos  trabalhos de reabilitação", explicou à ISTOÉ Laura Dreer, professora do  departamento de oftalmologia da Universidade do Alabama, nos  EUA.
 
No Brasil, a inclusão da ferramenta na prática médica está  mudando a rotina dos hospitais. No Instituto de Ortopedia, no Rio de Janeiro,  por exemplo, o trabalho médico é acompanhado pelo suporte psicológico, dedicado  especialmente a fortalecer uma atitude mais positiva. O trabalho, claro, não é  simples. Os pacientes costumam ser vítimas de traumas medulares ocorridos em  situações como acidentes ou quedas. De uma hora para outra, têm a vida  totalmente limitada. "Por isso, precisamos ajudá-los a enfrentar a nova  situação. Eles têm de passar por uma reabilitação física e emocional", explica a  psicóloga Fátima Alves, responsável pelo grupo. E quem faz isso usando o  otimismo e a esperança como armas sai ganhando. "Mostramos principalmente aos  mais descrentes que a postura positiva no enfrentamento da doença é um remédio",  afirma Tito Rocha, coordenador da unidade hospitalar do instituto. Em breve,  eles abrirão um grupo para incentivar o cultivo da espiritualidade pelos  doentes.
  
  
  
  
  
Ensino
 Santos dá cursos  sobre espiritualidade a estudantes de medicina.
  
  
  
 
Na Rede Sarah,  os pacientes são estimulados a participar de atividades que melhorem o humor e a  disposição. Entre eles, estão o remo, a dança e os jogos. "No processo de  reabilitação, esses recursos são fundamentais", afirma Lúcia Willadino Braga,  presidente da Rede Sarah e considerada uma das melhores neurocientistas do País.  "A doença deixa de ser o foco. Quando isso acontece, a recuperação é acelerada.  O paciente fica menos tempo internado e retorna às suas atividades mais  rapidamente", afirma. Constatações semelhantes são obtidas no InCor, em São  Paulo. Lá, quem está internado recebe suporte psicológico para não entrar em  depressão - já considerada fator de risco para doenças cardíacas - e manter o  otimismo. "É preciso dar força para o espírito para que o corpo se recupere",  afirma o cardiologista Carlos Pastore, diretor de serviços médicos da  instituição.
  
  
 
Talvez o  símbolo mais emblemático do fim do preconceito da medicina ocidental contra  questões relativas à emoções e espiritualidade seja o que está acontecendo na  Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a mais tradicional do  País. Em novembro, a instituição sediará um evento para  mostrar aos profissionais de saúde a importância de recursos como a  espiritualidade e o bom humor na recuperação de pacientes. O curso será  ministrado pelo geriatra Franklin dos Santos, professor de pós-graduação da  disciplina de emergências médicas da universidade. No programa, há um bom espaço  para ensinar os médicos e enfermeiros a usarem essas ferramentas.  "Discutimos como isso deve ser aplicado na prática", diz o médico, que tem dado  palestras pelas escolas de medicina do País inteiro.
  
  
 
Nos Estados  Unidos, também há um esforço para treinar os profissionais de saúde. Só para se  ter uma idéia, o Instituto Nacional de Câncer americano criou uma espécie de  guia para orientar médicos, enfermeiros e psicólogos sobre como usar a  espiritualidade do paciente a seu favor. Todo esse interesse é o sinal mais  patente de que a revolução vai durar. Por isso, ninguém deve se surpreender se  quando chegar ao consultório médico for indagado sobre suas condições de saúde,  obviamente, mas também sobre sua relação com a espiritualidade ou disposição de  esperança. "Questões como essas devem começar a ser cada vez mais levantadas",  defende Brick Johnstone, professor de psicologia médica da Universidade  Missouri-Columbia, nos EUA.
  
  
  
  
  
 
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  A amizade contra  a depressão.
 Bernardete de  Araújo, 53 anos.
 (foto de Murillo  Constantino)
  
  
  
 
A engenheira  paulista viu praticamente desaparecer a esperança de retomar sua vida normal  quando estava no auge da depressão, há cinco anos. Tinha parado de trabalhar e  vivia sem ânimo. Com a medicação correta e o apoio dos amigos da Associação  Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos  reencontrou a força que precisava. "Retomei minha vida",  conta.
  
  
  
 
 
  O remédio do bom  humor.
 Eliane Furtado,  49 anos.
 (foto de Paulo  Jares)
  
  
  
 
Desde que  recebeu o diagnóstico de câncer no intestino, no ano passado, a consultora de  marketing carioca decidiu que manter o bom humor seria sua grande arma. "Claro  que em alguns momentos eu fiquei triste. Mas resolvi que não me deixaria abater  e que continuaria a rir muito", lembra ela, autora do livro Câncer: sentença ou  renovação?
  
  
  
  
  
  Fé em  família.
 Michelle  Silvério, 26 anos.
 (foto de Murillo  Constantino)
  
  
  
 
A Assistente  Administrativa ficou 77 dias internada na UTI, sendo 22 deles em coma profundo.  Ela estava com infecção generalizada. Durante sua internação, a família se  manteve confiante. "Eles mantiveram a fé e a esperança. Todos os dias se reuniam  para orar. E quando saí do coma jamais duvidei da minha recuperação", conta  Michelle.
  
  
  
  
  
  Nos braços do  otimismo.
 Jésus Franco, 77  anos
  
  
  
 
A família do  aposentado mineiro é bem unida. Quando ele descobriu que estava com uma infecção  no intestino e teria de passar por uma cirurgia, recebeu o apoio de todos e foi  embalado por uma corrente de otimismo. "Todos diziam que eu melhoraria. E  torciam para isso", diz ele, hoje em franca recuperação.
  
  
   
   
   
    
   
  
  
  
  
  
   
 
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