Lester Brown (Foto: Evy  Mages)  
 
 
No  verão passado, os especialistas ficaram pasmados diante da acentuada perda de  gelo marítimo no Ártico. Uma área de quase duas vezes o tamanho da Grã-Bretanha  desapareceu em uma única semana. A calota de gelo da Groenlândia está derretendo  tão rapidamente que está provocando pequenos terremotos à medida que imensos  blocos, pesando bilhões de toneladas, se soltam das plataformas e caem no mar. A  Plataforma de Gelo da Antártica Ocidental também está derretendo muito mais  rapidamente que o previsto.
 
Se  não conseguirmos reduzir as emissões de gás carbônico rápido o bastante para  salvar essas duas imensas plataformas de gelo, o nível dos mares subirá 12  metros, inundando muitas cidades costeiras do mundo e criando mais de 600  milhões de refugiados do avanço das águas marítimas.
 
O  acréscimo anual de 70 milhões de pessoas à população mundial está concentrado em  países onde os níveis dos lençóis freáticos estão baixando, os poços secando, as  florestas encolhendo, os solos erodindo e os campos desertificando-se. Nos  países dominados por essas tendências, governos mais fracos estão se  desintegrando. A cada ano aumenta o número de nações que entram em colapso, e o  colapso de países é um sinal precoce do colapso de uma  civilização.
 
Com a  continuidade inalterada de nossa rotina (plano A), essas tendências também  prevalecerão. Cada vez mais nações entrarão em colapso, até que a própria  civilização comece a se desintegrar. O que precisamos é do plano  B.
 
 
 
É  hora para o plano B
 
O  plano B, conforme delineado em meu livro "Plan B 3.0: Mobilizing to Save  Civilization" (em português, algo como "Plano B 3.0: Mobilizar para Salvar a  Civilização), é um plano abrangente para reverter todas as tendências que estão  minando gradativamente a civilização. Suas quatro metas primordiais são: a  estabilização do clima e a da população, a erradicação da pobreza e a  restauração dos ecossistemas da Terra.
 
O  foco central da iniciativa para a estabilização do clima é um detalhado plano  para reduzir as emissões de gás carbônico em 80% até o ano 2020, para manter o  aumento da temperatura global num mínimo. Essa iniciativa tem três componentes –  aumentar a eficiência energética, desenvolver fontes renováveis de energia e  expandir a cobertura florestal da Terra. A meta é eliminar todas as usinas  elétricas movidas a carvão.
 
Embora tenham sido feitos esforços nas últimas décadas para  aumentar a eficiência do uso de energia, esse potencial ainda é inexplorado.  Talvez a maneira mais rápida, fácil e proveitosa de reduzir as emissões globais  de carbono seja simplesmente substituir as lâmpadas incandescentes pelas  compactas lâmpadas fluorescentes, que gastam apenas 25% da energia. O uso de  lâmpadas mais eficientes pode reduzir o gasto mundial de eletricidade em 12% – o  suficiente para fechar 70% de todas as usinas de eletricidade movidas a carvão  do mundo.
 
Poços  de petróleo secam e o carvão parece ser finito, mas os recursos eólicos do mundo  não podem ser esgotados. A meta é desenvolver 3 milhões de megawatts de  capacidade eólica até o ano 2020 – o suficiente para suprir 40% da eletricidade  do mundo. Isso implicaria a fabricação de 1,5 milhão de turbinas de vento, cada  uma com capacidade de 2 megawatts. Essas turbinas poderiam ser produzidas em  linhas de montagem desativadas, reabrindo-se fábricas de automóveis fechadas; da  mesma forma como aviões de bombardeio foram montados em fábricas de carros  durante a Segunda Guerra Mundial.
 
As  tecnologias para o uso da energia solar proporcionam oportunidades empolgantes  para nos tirar da eterna rotina do carbono. Por exemplo, os aquecedores solares  de água instalados sobre telhados estão se alastrando rapidamente pela Europa e  pela China. E há usinas térmicas solares em grande escala planejadas, ou já em  fase de construção, na Califórnia, Flórida, Espanha e Argélia. Além disso, as  vendas de painéis solares estão dobrando a cada dois anos.
 
 
 
O  que precisamos fazer é viável
Essas  metas não estão baseadas no que convencionalmente se acredita ser politicamente  viável, mas no que acreditamos ser necessário para evitar uma mudança climática  irreversível. É uma resposta frontal e total, proporcional à ameaça que o  aquecimento global representa para nosso futuro. Nós temos as tecnologias para  construir uma nova economia – uma que seja movida por fontes de energia tão  duráveis quanto o próprio Sol. O que precisamos agora é mobilizar a disposição  política.
Os  dois desafios dominantes são reestruturar os impostos para fazer com que o  mercado conte a verdade ecológica e reorganizar as prioridades fiscais para  conseguir os recursos necessários para restaurar a Terra, erradicar a pobreza e  estabilizar o crescimento populacional.
 
É  hora de tomar uma decisão: como civilizações anteriores que se envolveram em  problemas ambientais, temos de fazer uma escolha. Podemos continuar vivendo como  fizemos até agora e ver nossa economia entrar em declínio e a civilização se  desintegrar, ou podemos adotar o plano B e ser a geração que se mobiliza para  salvar a civilização. Nossa geração tomará a decisão que afetará a vida na Terra  para todas as gerações futuras.