É Hora de Ativar o Plano B
Lester Brown - Revista Época nº 523 de 26/05/2008
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No verão passado, os especialistas ficaram pasmados diante da acentuada perda de gelo marítimo no Ártico. Uma área de quase duas vezes o tamanho da Grã-Bretanha desapareceu em uma única semana. A calota de gelo da Groenlândia está derretendo tão rapidamente que está provocando pequenos terremotos à medida que imensos blocos, pesando bilhões de toneladas, se soltam das plataformas e caem no mar. A Plataforma de Gelo da Antártica Ocidental também está derretendo muito mais rapidamente que o previsto.
Se não conseguirmos reduzir as emissões de gás carbônico rápido o bastante para salvar essas duas imensas plataformas de gelo, o nível dos mares subirá 12 metros, inundando muitas cidades costeiras do mundo e criando mais de 600 milhões de refugiados do avanço das águas marítimas.
O acréscimo anual de 70 milhões de pessoas à população mundial está concentrado em países onde os níveis dos lençóis freáticos estão baixando, os poços secando, as florestas encolhendo, os solos erodindo e os campos desertificando-se. Nos países dominados por essas tendências, governos mais fracos estão se desintegrando. A cada ano aumenta o número de nações que entram em colapso, e o colapso de países é um sinal precoce do colapso de uma civilização.
Com a continuidade inalterada de nossa rotina (plano A), essas tendências também prevalecerão. Cada vez mais nações entrarão em colapso, até que a própria civilização comece a se desintegrar. O que precisamos é do plano B.
É hora para o plano B
O plano B, conforme delineado em meu livro "Plan B 3.0: Mobilizing to Save Civilization" (em português, algo como "Plano B 3.0: Mobilizar para Salvar a Civilização), é um plano abrangente para reverter todas as tendências que estão minando gradativamente a civilização. Suas quatro metas primordiais são: a estabilização do clima e a da população, a erradicação da pobreza e a restauração dos ecossistemas da Terra.
O foco central da iniciativa para a estabilização do clima é um detalhado plano para reduzir as emissões de gás carbônico em 80% até o ano 2020, para manter o aumento da temperatura global num mínimo. Essa iniciativa tem três componentes – aumentar a eficiência energética, desenvolver fontes renováveis de energia e expandir a cobertura florestal da Terra. A meta é eliminar todas as usinas elétricas movidas a carvão.
Embora tenham sido feitos esforços nas últimas décadas para aumentar a eficiência do uso de energia, esse potencial ainda é inexplorado. Talvez a maneira mais rápida, fácil e proveitosa de reduzir as emissões globais de carbono seja simplesmente substituir as lâmpadas incandescentes pelas compactas lâmpadas fluorescentes, que gastam apenas 25% da energia. O uso de lâmpadas mais eficientes pode reduzir o gasto mundial de eletricidade em 12% – o suficiente para fechar 70% de todas as usinas de eletricidade movidas a carvão do mundo.
Poços de petróleo secam e o carvão parece ser finito, mas os recursos eólicos do mundo não podem ser esgotados. A meta é desenvolver 3 milhões de megawatts de capacidade eólica até o ano 2020 – o suficiente para suprir 40% da eletricidade do mundo. Isso implicaria a fabricação de 1,5 milhão de turbinas de vento, cada uma com capacidade de 2 megawatts. Essas turbinas poderiam ser produzidas em linhas de montagem desativadas, reabrindo-se fábricas de automóveis fechadas; da mesma forma como aviões de bombardeio foram montados em fábricas de carros durante a Segunda Guerra Mundial.
As tecnologias para o uso da energia solar proporcionam oportunidades empolgantes para nos tirar da eterna rotina do carbono. Por exemplo, os aquecedores solares de água instalados sobre telhados estão se alastrando rapidamente pela Europa e pela China. E há usinas térmicas solares em grande escala planejadas, ou já em fase de construção, na Califórnia, Flórida, Espanha e Argélia. Além disso, as vendas de painéis solares estão dobrando a cada dois anos.
O que precisamos fazer é viável
Essas metas não estão baseadas no que convencionalmente se acredita ser politicamente viável, mas no que acreditamos ser necessário para evitar uma mudança climática irreversível. É uma resposta frontal e total, proporcional à ameaça que o aquecimento global representa para nosso futuro. Nós temos as tecnologias para construir uma nova economia – uma que seja movida por fontes de energia tão duráveis quanto o próprio Sol. O que precisamos agora é mobilizar a disposição política.
Os dois desafios dominantes são reestruturar os impostos para fazer com que o mercado conte a verdade ecológica e reorganizar as prioridades fiscais para conseguir os recursos necessários para restaurar a Terra, erradicar a pobreza e estabilizar o crescimento populacional.
É hora de tomar uma decisão: como civilizações anteriores que se envolveram em problemas ambientais, temos de fazer uma escolha. Podemos continuar vivendo como fizemos até agora e ver nossa economia entrar em declínio e a civilização se desintegrar, ou podemos adotar o plano B e ser a geração que se mobiliza para salvar a civilização. Nossa geração tomará a decisão que afetará a vida na Terra para todas as gerações futuras.
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Lester Brown: "É hora de tomar uma decisão: como civilizações anteriores que se envolveram em problemas ambientais, temos de fazer uma escolha. Podemos continuar vivendo como fizemos até agora e ver nossa economia entrar em declínio e a civilização se desintegrar, ou podemos adotar o plano B e ser a geração que se mobiliza para salvar a civilização. Nossa geração tomará a decisão que afetará a vida na Terra para todas as gerações futuras". Drauzio Milagres.
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