Boas Companhias?
Thomaz Wood Jr. - Revista Carta capital nº 470 de 14/11/2007
http://www.cartacapital.com.br/boas-companhias/
Um ponto em comum entre o encontro de pesquisadores
da Academy of Management e o último livro de Robert Reich
é a polêmica em torno do papel social das empresas.
Todos os anos, as grandes tribos científicas reúnem-se para discutir o estado das coisas no mundo da gestão. Os encontros da Academy of Management atraem professores e pesquisadores de variados rincões. Em 2007, o hipercongresso, ocorrido na Filadélfia, registrou nada menos que 7.962 participantes, vindos de 81 países.
O grande vizinho do Norte, inventor das artes e artimanhas do management, teve o maior contingente: 4.454 participantes. Inglaterra, com 441, Canadá, com 420, e Taiwan, com 226, seguiram a lista das maiores delegações. Pindorama ficou em um expressivo bloco intermediário, com 81 participantes, abaixo da China, com 103, e Israel, com 88. Em sete dias, ocorreram 766 sessões de apresentação de trabalhos, 351 workshops e 88 eventos sociais.
O evento tem diferentes significados para diferentes públicos. Para os recém-doutores, é uma grande feira de recrutamento. Em jogo: postos de professor em programas de MBA em todo o mundo. Para os pesquisadores mais experientes, é uma oportunidade de discutir trabalhos e rever amigos.
As sessões diurnas de estratégia e comportamento organizacional são menos disputadas do que as festas noturnas patrocinadas por escolas, como a New York University e a francesa (de alma americana) Insead. Para os visitantes d'além-mar, como este escriba, é uma chance para ver para onde sopram os ventos do conhecimento sobre a vida corporativa.
A pauta é variada, a refletir a diversidade de interesses da comunidade. No amplo espectro de interesse dos pesquisadores, tudo se encaixa: de estudos sobre empreendedorismo a pesquisas sobre carreira e recursos humanos; de divagações sobre espiritualidade nas empresas a trabalhos sobre gestão de conflitos; de investigações práticas sobre internacionalização e logística a discussões mais críticas sobre gênero e diversidade nas organizações.
No amplo coração da Academy of Management, há lugar para todas as correntes, dos admiradores do popularíssimo guru Peter Drucker aos seguidores dos pensadores críticos Max Horkheimer e Michel Foucault. Naturalmente, marinheiros de primeira viagem experimentam vertigens e náuseas com tamanha heterogeneidade.
Atravessar a semana de congresso exige um bom astrolábio. O tema geral deste ano – Doing Good by Doing Well – refletiu o espírito do grupo. Após os múltiplos escândalos corporativos do início do milênio, muitos professores experimentaram a incômoda culpa pelo comportamento selvagem de seus ex-pupilos. O atual morador da Casa Branca, vale lembrar, é egresso do MBA de Harvard.
Na abertura do programa, os organizadores Angelo De-Nisi, James P. Walsh e Jimmy Le registraram que as organizações devem servir tanto a seus grupos de interesse, gerando lucros e resultados, como atender a demandas mais amplas, ajudando a sociedade. O trio expressou a crença (ou esperança) de parte considerável da comunidade científica, de que empresas podem ser bem-sucedidas e tornarem-se boas cidadãs.
Será possível ou mesmo desejável? Coincidentemente, 30 dias após o encontro da Academy of Management, Robert Reich lançou o livro Supercapitalism: The Transformation of Business, Democracy and Everyday Life (Editora Alfred A. Knopf). O renomado pesquisador é professor de Políticas Públicas da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e foi secretário do Trabalho no governo Clinton.
Em sua nova obra, um dos alvos de Reich é justamente a moda da responsabilidade social corporativa que, segundo ele, não é mais do que "gestão esperta". Pior, a prática enfraquece a democracia, pois leva o público a acreditar que questões sociais essenciais estão sendo tratadas, o que desestimula reformas mais amplas e profundas. A posição não é nova, porém, ganha com Reich uma voz de peso.
Até agora, as principais críticas vinham de duas fontes. Primeiro, dos mais ortodoxos defensores do livre mercado, que vêem as iniciativas de responsabilidade social corporativa como um desvio de foco, que tira a empresa de objetivo principal – gerar lucro – e, conseqüentemente, prejudicam a sociedade, em lugar de ajudá-la.
Segundo, de alguns pesquisadores em estudos organizacionais, que argumentam que os programas implementados pelas empresas têm como objetivo principal melhorar a própria imagem e não gerar impacto social, motivo pelo qual as verbas gastas com a divulgação dos programas eventualmente rivalizam ou ultrapassam as verbas efetivamente aplicadas nos próprios programas. Nos anais da Academy of Management, ou nas páginas de Reich, a dúvida sobre o papel social das empresas está longe de ser resolvida.
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É um excelente tema para um grande debate, mas creio sim que as empresas deveriam ter uma responsabilidade/papel social. Um abraço. Drauzio Milagres.
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