Cisma Gay?
Walter Fanganiello Maierovitch - Revista Carta Capital nº 472 de 28/11/2007
http://www.cartacapital.com.br/edicoes/472/cisma-gay
Walter Fanganiello Maierovitch - Revista Carta Capital nº 472 de 28/11/2007
http://www.cartacapital.com.br/edicoes/472/cisma-gay
Desmond Tutu sai em defesa de padres homossexuais contra o arcebispo de Canterbury - "Enquanto o mundo sofre com a pobreza, a Aids e as guerras, a Igreja desperdiça energia discutindo se deve ou não aceitar padres gays".
O diabo entrou para a Igreja, afirmou o arcebispo nigeriano Peter Akinola. Referia-se à ordenação, no lotado estádio de hóquei de New Hampshire (EUA), do bispo Gene Robinson. O novo bispo era divorciado, tinha dois filhos e se declarava gay. Mantinha união há mais de 14 anos com outro homem, sob o mesmo teto.
Não bastasse, no mesmo ano de 2003, um provimento da diocese de New Westminster, no Canadá, autorizava os padres anglicanos, em cerimônia pública, a abençoar as uniões homossexuais. A partir daí, a Igreja da Inglaterra, com o arcebispo de Canterbury à frente dos tradicionalistas, começou a perseguição aos clérigos gays.
Esse arcebispo, Rowan Williams, de 57 anos, casado e pai de dois filhos, é a principal autoridade eclesiástica anglicana, que conta com mais de 77 milhões de fiéis pelo planeta. Segundo os tradicionalistas, o erro começou em março de 1994, quando, ao pensar em marcar posição contrária à Igreja Católica Apostólica Romana, a anglicana de Bristol ordenou padres do sexo feminino.
Na terça-feira 20, Williams e seus seguidores foram tachados de conduta homofóbica, ou seja, de aversão e discriminação contra os padres homossexuais. O responsável pelas acusações foi o prestigioso arcebispo sul-africano Desmond Tutu, vencedor do Nobel da Paz de 1984, em função da sua luta contra o apartheid.
Numa entrevista à BBC de Londres, Tutu, de 76 anos, quatro filhos e aposentado, bateu pesado em Williams: "Se Deus fosse contra os padres homossexuais, eu não o seguiria nunca". Falou Tutu, primeiro bispo negro da África, de um grande equívoco em se considerar a homossexualidade uma escolha pessoal. Com ironia acrescentou: "Só um louco faria a opção por ser gay e ter uma existência exposta ao ódio. Seria como escolher ser negro numa sociedade racista".
A posição de Tutu não é nova em relação aos padres homossexuais. Em janeiro de 2007, no Fórum Social de Nairóbi (Quênia), ele comparou a homofobia ao racismo. E aproveitou para cutucar a Igreja Católica Romana, dirigida por Bento XVI, ao lembrar que Deus acolhe a todos, sem distinções, e que o uso de preservativo é importante na prevenção à Aids.
Pouco antes, em 2006, Tutu mostrara-se favorável à pretensão de Michael Barlowe, um gay declarado da diocese de Newark, de se tornar bispo. Nem o avançado câncer de próstata tira o ânimo de Tutu no combate pela igualdade. E ele consegue ser veemente, sem perder o sorriso. Assim, sustentou que as religiões, nos dias de hoje, têm uma obsessão pelas questões de sexualidade, em especial com relação à condenação a padres gays. Sobre o arcebispo Williams, de Canterbury, avisa ter ele "esquecido de mostrar que Nosso Senhor é acolhedor".
Para muitos, um novo cisma, agora no âmbito interno, pode estar em fermentação. Não será diverso, no campo das paixões amorosas, do ocorrido a partir de 1532, quando o rei Henrique VIII, da dinastia Tudor, rompeu com o papa Clemente VII. Este estava interessado em agradar ao rei da Espanha e seguramente era um dos leitores atentos dos manuscritos de Maquiavel, que advogava a política do êxito e do domínio a todo custo.
Em 1509, Henrique VIII casara com Catarina de Aragão, depois de conseguir uma dispensa papal. Isso porque Catarina era viúva de Arthur, irmão mais velho do rei Henrique VIII. As frustrações do rei começaram com o nascimento da princesa Maria, que ficou conhecida na história por Maria de Tudor. Catarina não poderia mais engravidar e lhe dar um herdeiro.
O rei apaixona-se então perdidamente por Ana Bolena, uma dama de honra da rainha e irmã de uma das suas amantes. Com Ana grávida, o rei busca anular o casamento com Catarina e o papa Clemente VII se opõe ao pedido. Para o casamento com Ana sair, o primaz de Canterbury, de inclinações protestantes, resolveu desafiar o papa e anulou o casamento de Henrique e Catarina.
Enquanto o papa cassava os atos do primaz, o Parlamento, a partir de 1534, preparava o Act of Succession, ou seja, o conjunto de leis que anulava o casamento com Catarina, convalidava o de Ana Bolena e, de quebra, negava a supremacia espiritual do papa, transformando o rei da Inglaterra em chefe da Igreja. Com o cisma, nasce a Igreja da Inglaterra, que se separa da Católica Apostólica Romana.
No momento, outra questão de união afetiva, entre pessoas do mesmo sexo e com um dos conviventes sendo clérigo, balança as estruturas da Igreja Anglicana. Do lado dos gays, pesam a autoridade e a lucidez de Tutu, que acaba de lançar o livro intitulado God Has a Dream. Nele está escrito que, se Deus tem um sonho recorrente, deve ser o de uma família humana a acolher a todos.
Na entrevista à BBC, Tutu desabafou: "Enquanto o mundo sofre com a pobreza, a Aids e as guerras, a Igreja desperdiça energia discutindo se deve ou não aceitar padres gays".
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Desmond Tutu foi muito feliz com essa frase: "Enquanto o mundo sofre com a pobreza, a Aids e as guerras, a Igreja desperdiça energia discutindo se deve ou não aceitar padres gays". Infelizmente, a Igreja Apostólica Romana, sob o "comando" do Papa Bento XVI, se aproximará cada vez mais dos tempos da Inquisição do que das ações pautadas no amor às pessoas e no respeito às diferenças. Drauzio Milagres.
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