A Ética Exige Olhar Além do Óbvio e Buscar a Terceira Margem do Rio
Instituto Ethos - 04/06/2008
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O tom pacífico, lembrando-nos de ter cuidado e proteção pela vida, abriu a mesa redonda "Ética da Sustentabilidade: Compromisso com a Sociedade", na Conferência Internacional Ethos 2008. Moderada pelo presidente da AccountAbillity, Simon Zadek, o debate contou com a presença de Mario Sergio Cortella, filósofo, mestre e doutor em educação pela PUC-SP, e de Georg Kell, chefe executivo do Pacto Global das Nações Unidas.
As questões iniciais, levantadas pelo moderador, balizaram o debate: Por que fazemos o que fazemos? Como entendemos o processo de mudança? Como traduzimos isso para o entendimento de responsabilidade social empresarial (RSE)? Como fazer a combinação correta para que as mudanças sejam compreendidas e virem práticas efetivas nas empresas?
Cortella lembrou uma citação do escritor e político britânico Benjamin Disraeli, que dizia que "a vida é muito curta para ser pequena". Para Cortella, a ética da sustentabilidade tem como valor mais forte o não-apequenamento da vida e, para isso, é preciso criar consciência sobre a mortalidade. Para o filósofo, precisamos de regras que nos lembrem que somos mortais - a própria idéia da mortalidade ajuda a percepção de que não temos todos os direitos. Nessa linha de raciocínio, Cortella acredita que o valor ético mais importante para a construção de uma consciência de sustentabilidade é a humildade - que, para ele, é diferente de subserviência. "É preciso entender que a ética da sustentabilidade é viver a vida com humildade. Nossa tarefa é levar a vida com mais graça, com mais cuidado", afirmou Cortella.
Lembrando sempre o significado e a origem das palavras, o educador ressaltou que felicidade não pode ser separada da idéia de fertilidade: "Vida fértil é aquela que acontece na sua máxima condição, ou seja, com sustentabilidade. A ética da sustentabilidade é aquela que contribui para uma vida fértil, sem ameaçar a vitalidade do conjunto da vida, que se encontra ameaçada pela nossa própria arrogância".
Desejo de paz está em todos nós
Georg Kell acredita que todos, independentemente do local em que tenham sido criados ou onde vivam, têm aspirações semelhantes, como a melhoria das condições de vida. "O desejo de paz, colaboração e cooperação está em todos nós. A própria Organização das Nações Unidas foi fundada com essa premissa", acrescenta.
Kell lembrou que em 2008 comemoramos os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. "É um marco, um avanço". Comemoramos, também neste ano, o décimo aniversário de fundação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Dez anos significam muito para o movimento de RSE, mesmo sabendo que a maturidade está distante. A dúvida é: como serão os próximos dez anos no cenário dos direitos humanos e da responsabilidade social empresarial?
Seguindo a temática empresarial, Georg Kell ressaltou que organizações são feitas de pessoas e essas pessoas têm escolhas. "Vivemos em um tempo definido por lógicas políticas e econômicas, mas temos a capacidade de criar valores e de conectá-los a essas lógicas", afirma. Kell acredita que existe uma terceira força, além do bem e do mal: o desejo de descobrir.
Muitas empresas, em todo o mundo, reconhecem que precisam lidar com problemas, sejam eles ambientais, sociais ou de outra natureza. São, em algumas situações, oportunistas, mas o mercado global está conectado a tal ponto que as deixa vulneráveis. "O risco é maior hoje em dia devido à interconectividade. Há oportunidades de expansão e mais acesso a diferentes mercados. Por isso, criar valores e conectá-los é fundamental", afirma Kell. Para ele, valores bem fundamentados podem promover uma cultura de sustentabilidade: "É repetindo e revivendo histórias que aprendemos a lição".
"A mesma consciência que traz o problema à tona, cria a capacidade de solucioná-lo", diz Cortella. "O mundo vive sob uma economia clara, baseada em regras de mercado. Temos de fazer com que os paradigmas da sustentabilidade definam as regras de mercado." O educador utilizou-se de outra expressão conhecida para explicar essa relação econômica: "O mercado ou a vida". Segundo ele, estamos edificando a humanidade em meras aparências, quando, na verdade, deveríamos solidificar a vida em valores éticos. E a construção de uma sociedade ética não é algo simples, nem superficial, nem evidente. "A terceira margem do rio não está no lugar óbvio", diz.
A ética, por sua vez, não é algo cosmético, não pode ser considerada etiqueta. "Agir com ética é crer na necessidade de não fazer qualquer negócio", diz. Cortella citou o educador Paulo Freire, afirmando que "é preciso ter esperança, mas a esperança do verbo 'esperançar' e não do verbo 'esperar'. É difícil, sim. Impossível, jamais".
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Cortella disse: "Vida fértil é aquela que acontece na sua máxima condição, ou seja, com sustentabilidade. A ética da sustentabilidade é aquela que contribui para uma vida fértil, sem ameaçar a vitalidade do conjunto da vida, que se encontra ameaçada pela nossa própria arrogância". Um abraço. Drauzio Milagres.
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