Jornalismo à Brasileira
Redação Revista CartaCapital nº 505 de 23/07/2008
http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=6&i=1473
Redação Revista CartaCapital nº 505 de 23/07/2008
http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=6&i=1473
O chute no cachorro morto é um esporte bastante difundido no País. O cachorro em questão ainda não morreu, mas dá sinais de agonia. Basta para o jornalismo "investigativo" brasileiro mostrar toda a sua coragem. Tem sido comovedor acompanhar o empenho dos bravos repórteres na cobertura da Operação Satiagraha. Realmente é preciso muito empenho para se dedicar à estafante tarefa de recortar e colar os diálogos pinçados do relatório parcial da Polícia Federal sobre os crimes atribuídos a Daniel Dantas, Naji Nahas e respectivas quadrilhas, conforme concluiu o delegado Protógenes Queiroz. Ou reproduzir as informações assopradas de afogadilho por uma fonte com acesso privilegiado à investigação.
De repente, o que era delírio, perseguição, vira matéria-prima do "furo", do esforço jornalístico de bem informar. Merecem aplausos, nossos repórteres "investigativos". Uma questão: onde estavam todos quando CartaCapital, dois anos atrás, revelou as mesmíssimas histórias ora apresentadas como novidade ao distinto público? Certamente, atrás de mais uma ficção, como os dólares de Cuba e assemelhados. Outra, se nos é permitido: essa imprensa que se diz independente se esforçou de verdade para esclarecer os fatos que originaram e alimentaram o escândalo conhecido como "mensalão"?
Uma modesta contribuição desta revista aos demais jornalistas. Segue-se uma lista com o resumo de reportagens publicadas em 2005 e 2006, auge dos escândalos que atingiram o governo Lula. Nos últimos dias, várias dessas histórias já foram apresentadas como "furos". Outras, dado o alvo da Satiagraha, têm grande potencial de aparecerem por aí como se novidade fossem. Basta os repórteres acessarem o site www.cartacapital.com.br. O conteúdo completo está disponível em nossa página.
Edição 348, de 29 de junho de 2005
A reportagem "O orelhudo tá nessa", a partir da página 28, narra a participação de Daniel Dantas no Valerioduto e conta como petistas, entre eles Sílvio Pereira, Delúbio Soares e José Dirceu, defenderam interesses do Opportunity no governo. O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, vulgo Kakay, amigo de Dirceu, é apresentado como intermediário entre Dantas e o ex-ministro da Casa Civil. Atenção jornalistas investigativos, um executivo do Citibank contou a CartaCapital um diálogo que teve com Dantas. O banqueiro brasileiro disse à turma do Citi que havia pago 5 milhões (não informou se de dólares ou reais) a Kakay para "resolver seus problemas no governo".
Edição 354, de 10 de agosto de 2005
Em "A Conexão Lisboa", CartaCapital conta os objetivos da viagem do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza a Portugal. O resto da imprensa atribuiu a viagem, da qual também participou Emerson Palmieri, tesoureiro do PTB, como tentativa de lobby pela privatização do IRB, a empresa estatal de resseguros. Marcos Valério teria se apresentado como "representante do governo" na ocasião. A revista revelou que o motivo da viagem foi outro: discutir a venda da Telemig Celular à Portugal Telecom. O plano de Dantas era negociar a empresa de telefonia celular mineira com os portugueses e usar o dinheiro para comprar a Brasil Telecom dos demais sócios (Citi e Telecom Italia), mantendo os fundos de pensão como minoritários. O problema era a oposição desses fundos. Eles consideravam que, quando gestor, Dantas usava a BrT em proveito próprio.
O mais firme adversário da idéia era Sérgio Rosa, presidente da Previ (fundo dos funcionários do Banco do Brasil). Rosa liderava os outros fundos na resistência. Com a ajuda de petistas, entre eles Henrique Pizzolatto e Dirceu, Dantas tentava demover Rosa da presidência da Previ. Marcos Valério teria ido a Lisboa garantir aos executivos da Portugal Telecom que não haveria problemas com as fundações nem obstáculos por parte do governo. Pizzolatto recebeu dinheiro do Valerioduto.
Uma auditoria da Brasil Telecom apontou no fim de 2005 que o Opportunity provocou prejuízos de 600 milhões de reais à operadora, ao usar a estrutura e o dinheiro da companhia em proveito próprio.
Edição 363, de 12 de outubro de 2005
A reportagem "Segredos do Brasil" conta a expectativa de autoridades de que a abertura do disco rígido dos computadores do Opportunity pudesse revelar nomes de políticos e empresários graúdos em operações suspeitas. "O HD pára o Brasil", afirmou uma alta fonte do governo.
Relata-se ainda a pressão que o então ministro José Dirceu teria exercido sobre o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e a Polícia Federal a favor de Dantas. Conta-se, por fim, as tentativas de desqualificação de Edson Vidigal, então ministro do STJ, que deu decisões desfavoráveis ao Opportunity.
Edição 377, de 25 de janeiro de 2006
Na quarta-feira 16 de julho, a Folha de S.Paulo revela aos seus leitores ter tido acesso a um documento que CartaCapital publicou com detalhes mais de dois anos atrás.
Em "A agenda e a crise", descrevem-se os encontros de Humberto Braz, à época presidente da Brasil Telecom Participações e atualmente preso por tentar corromper um delegado federal que atuou na Satiagraha, com figuras centrais do chamado "mensalão". Aparecem na agenda de encontros, além de Marcos Valério, Ivan Guimarães, Duda Mendonça, Kakay e Cristiano Paes, entre outros. Braz também se reuniu quinze vezes com Eduardo Rascovisky, lobista carioca que tentou corromper o marido da juíza Márcia Cunha, segundo relato da própria magistrada. Titular da 2ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, Márcia Cunha tinha tomado decisões contrárias aos interesses do Opportunity na disputa pelo controle das empresas de telefonia. Como o suborno não funcionou, a juíza passou a ser alvo de ataques. Um dossiê contra ela foi parar na imprensa. Márcia Cunha respondeu a um processo administrativo no tribunal e a quatro pedidos de suspeição feitos por advogados de Dantas.
Edição 395, de 31 de maio de 2006
"Dantas e os petistas" expõe as relações de próceres do PT com o banqueiro, a partir da estranha reunião na casa do senador Heráclito Fortes após a divulgação, por Veja, de contas falsas do presidente Lula, ministros e autoridades. A revista do Grupo Abril atribuiu o dossiê a Dantas. Na casa de Fortes, e na presença do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e dos deputados petistas Sigmaringa Seixas e José Eduardo Cardozo, o banqueiro teria negado ser o autor do dossiê (acabou indiciado, em 2007, por calúnia).
CartaCapital contou como Cardozo havia defendido interesses do Opportunity ao solicitar uma investigação da venda da CRT, operadora do Rio Grande do Sul, à Brasil Telecom. Essa operação serviu para Dantas encobrir os reais motivos da contratação da Kroll para bisbilhotar desafetos e concorrentes.
Edição 396, de 7 de junho de 2006
"A Fábrica de dossiês" revelou há dois anos que Dantas mandou espionar juízes. É uma longa lista de documentos apreendidos por conta da Operação Chacal, em 2004. Nos dossiês há referências a tucanos, petistas, policiais federais, magistrados e empresários nacionais e estrangeiros. Os leitores de O Estado de S. Paulo ficaram sabendo da história recentemente.
De repente, o que era delírio, perseguição, vira matéria-prima do "furo", do esforço jornalístico de bem informar. Merecem aplausos, nossos repórteres "investigativos". Uma questão: onde estavam todos quando CartaCapital, dois anos atrás, revelou as mesmíssimas histórias ora apresentadas como novidade ao distinto público? Certamente, atrás de mais uma ficção, como os dólares de Cuba e assemelhados. Outra, se nos é permitido: essa imprensa que se diz independente se esforçou de verdade para esclarecer os fatos que originaram e alimentaram o escândalo conhecido como "mensalão"?
Uma modesta contribuição desta revista aos demais jornalistas. Segue-se uma lista com o resumo de reportagens publicadas em 2005 e 2006, auge dos escândalos que atingiram o governo Lula. Nos últimos dias, várias dessas histórias já foram apresentadas como "furos". Outras, dado o alvo da Satiagraha, têm grande potencial de aparecerem por aí como se novidade fossem. Basta os repórteres acessarem o site www.cartacapital.com.br. O conteúdo completo está disponível em nossa página.
Edição 348, de 29 de junho de 2005
A reportagem "O orelhudo tá nessa", a partir da página 28, narra a participação de Daniel Dantas no Valerioduto e conta como petistas, entre eles Sílvio Pereira, Delúbio Soares e José Dirceu, defenderam interesses do Opportunity no governo. O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, vulgo Kakay, amigo de Dirceu, é apresentado como intermediário entre Dantas e o ex-ministro da Casa Civil. Atenção jornalistas investigativos, um executivo do Citibank contou a CartaCapital um diálogo que teve com Dantas. O banqueiro brasileiro disse à turma do Citi que havia pago 5 milhões (não informou se de dólares ou reais) a Kakay para "resolver seus problemas no governo".
Edição 354, de 10 de agosto de 2005
Em "A Conexão Lisboa", CartaCapital conta os objetivos da viagem do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza a Portugal. O resto da imprensa atribuiu a viagem, da qual também participou Emerson Palmieri, tesoureiro do PTB, como tentativa de lobby pela privatização do IRB, a empresa estatal de resseguros. Marcos Valério teria se apresentado como "representante do governo" na ocasião. A revista revelou que o motivo da viagem foi outro: discutir a venda da Telemig Celular à Portugal Telecom. O plano de Dantas era negociar a empresa de telefonia celular mineira com os portugueses e usar o dinheiro para comprar a Brasil Telecom dos demais sócios (Citi e Telecom Italia), mantendo os fundos de pensão como minoritários. O problema era a oposição desses fundos. Eles consideravam que, quando gestor, Dantas usava a BrT em proveito próprio.
O mais firme adversário da idéia era Sérgio Rosa, presidente da Previ (fundo dos funcionários do Banco do Brasil). Rosa liderava os outros fundos na resistência. Com a ajuda de petistas, entre eles Henrique Pizzolatto e Dirceu, Dantas tentava demover Rosa da presidência da Previ. Marcos Valério teria ido a Lisboa garantir aos executivos da Portugal Telecom que não haveria problemas com as fundações nem obstáculos por parte do governo. Pizzolatto recebeu dinheiro do Valerioduto.
Uma auditoria da Brasil Telecom apontou no fim de 2005 que o Opportunity provocou prejuízos de 600 milhões de reais à operadora, ao usar a estrutura e o dinheiro da companhia em proveito próprio.
Edição 363, de 12 de outubro de 2005
A reportagem "Segredos do Brasil" conta a expectativa de autoridades de que a abertura do disco rígido dos computadores do Opportunity pudesse revelar nomes de políticos e empresários graúdos em operações suspeitas. "O HD pára o Brasil", afirmou uma alta fonte do governo.
Relata-se ainda a pressão que o então ministro José Dirceu teria exercido sobre o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e a Polícia Federal a favor de Dantas. Conta-se, por fim, as tentativas de desqualificação de Edson Vidigal, então ministro do STJ, que deu decisões desfavoráveis ao Opportunity.
Edição 377, de 25 de janeiro de 2006
Na quarta-feira 16 de julho, a Folha de S.Paulo revela aos seus leitores ter tido acesso a um documento que CartaCapital publicou com detalhes mais de dois anos atrás.
Em "A agenda e a crise", descrevem-se os encontros de Humberto Braz, à época presidente da Brasil Telecom Participações e atualmente preso por tentar corromper um delegado federal que atuou na Satiagraha, com figuras centrais do chamado "mensalão". Aparecem na agenda de encontros, além de Marcos Valério, Ivan Guimarães, Duda Mendonça, Kakay e Cristiano Paes, entre outros. Braz também se reuniu quinze vezes com Eduardo Rascovisky, lobista carioca que tentou corromper o marido da juíza Márcia Cunha, segundo relato da própria magistrada. Titular da 2ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, Márcia Cunha tinha tomado decisões contrárias aos interesses do Opportunity na disputa pelo controle das empresas de telefonia. Como o suborno não funcionou, a juíza passou a ser alvo de ataques. Um dossiê contra ela foi parar na imprensa. Márcia Cunha respondeu a um processo administrativo no tribunal e a quatro pedidos de suspeição feitos por advogados de Dantas.
Edição 395, de 31 de maio de 2006
"Dantas e os petistas" expõe as relações de próceres do PT com o banqueiro, a partir da estranha reunião na casa do senador Heráclito Fortes após a divulgação, por Veja, de contas falsas do presidente Lula, ministros e autoridades. A revista do Grupo Abril atribuiu o dossiê a Dantas. Na casa de Fortes, e na presença do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e dos deputados petistas Sigmaringa Seixas e José Eduardo Cardozo, o banqueiro teria negado ser o autor do dossiê (acabou indiciado, em 2007, por calúnia).
CartaCapital contou como Cardozo havia defendido interesses do Opportunity ao solicitar uma investigação da venda da CRT, operadora do Rio Grande do Sul, à Brasil Telecom. Essa operação serviu para Dantas encobrir os reais motivos da contratação da Kroll para bisbilhotar desafetos e concorrentes.
Edição 396, de 7 de junho de 2006
"A Fábrica de dossiês" revelou há dois anos que Dantas mandou espionar juízes. É uma longa lista de documentos apreendidos por conta da Operação Chacal, em 2004. Nos dossiês há referências a tucanos, petistas, policiais federais, magistrados e empresários nacionais e estrangeiros. Os leitores de O Estado de S. Paulo ficaram sabendo da história recentemente.
Esse tipo de jornalismo presta um desserviço para a nossa sociedade. Um abraço. Drauzio Milagres.
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