A cobertura de hoje é o retrato acabado do fim do atual ciclo político e partidário brasileiro. E um ensaio do que vão acontecer com o sistema partidário brasileiro quando acabar a era FHC-Lula (clique aqui para ler diversas matérias mencionadas abaixo).
Primeiro ponto: não há mais partidos políticos. Não havia no plano programático. Agora não há no plano das alianças. Em Minas, a cúpula do PT brasileiro ameaça barrar a aliança Aécio-Pimentel. Hélio Costa aproveita e coloca o PMDB à disposição de Aécio.
Em São Paulo, José Serra costura apoio com Orestes Quércia e o DEM e coloca o candidato do partido Geraldo Alckmin para escanteio. A propósito, vim para meu escritório cortar cabelo e encontrei um Secretário de estado tucano no elevador. É ligado a Serra. Perguntei os desdobramentos. Sua opinião é similar à minha: Alckmin só cresce (e cresce bem) quando enfrenta o cardinalício do partido. Vai entrar reforçado nessa campanha e dar trabalho.
Quando se pegam os dois maiores estados brasileiros, portanto, cada qual segue uma lógica regional, descosturada da lógica nacional dos seus respectivos partidos. É como se em cada canto houve uma aglutinação de forças, com lógica regional, mas pensando em transportar essa lógica para o plano nacional.
Os escândalos
Sem propostas políticas vive-se a era dos escândalos. Na cobertura de hoje, entra o cartão corporativo do ex-Ministro da Educação Paulo Renato de Souza e o escândalo do Detran gaúcho, da governadora Yeda Crusius.
O primeiro, uma tapioca um pouquinho mais reforçada, mas tapioca.
Houvesse um pouco mais de discernimento, a cobertura dessa bobagem dos corporativos não teria durado uma semana. Haveria o carnaval, a definição clara de regras de uso, a solicitação de devolução de dinheiro de quem utilizou indevidamente, daqui para frente o enquadramento dos usuários e vamos para outra. Aqui vira um pastelão. A oposição atira uma tapioca na situação; que devolve uma maquilagem de criança para a situação; que atira um aluguel de carro na situação; que devolve uma hospedagem de hotel na oposição.
No Rio Grande do Sul, o escândalo do Detran é sério, mas segue a lógica política brasileira, independentemente de partidos e de estados.
Transição
Não se deve desanimar com esse quadro. Mostra claramente o fim de um ciclo. O país está em meio às mais profundas transformações da sua história e ainda não há clareza sobre o futuro.
Os dois maiores líderes políticos da Nova República ajudaram a delinear parte das novas linhas, mas não tinham fôlego político para entender os novos tempos em sua plenitude.
FHC entendeu a necessidade de estabilização – aliás, até meu barbeiro já tinha intuído essa prioridade nacional – e prosseguiu (de forma atabalhoada) com dois dos itens da agenda aberta por Collor: privatização e abertura econômica/desregulamentação.
Lula manteve esses valores e, depois de um período conturbado, entendeu a importância das políticas sociais universalizantes. Mas apenas isso.
Não criou as bases do desenvolvimento com inclusão social, a definição do futuro como linha de governo, por não ter se desvencilhado desse financismo rastaqüera que está mudando em todo mundo.
Assim, encerra-se esse ciclo. Melancolicamente? Talvez, ao comparar com países que conseguiram enxergar com clareza seu futuro. Mas há o lado otimista. Em meio a esse terremoto, em que a instituição da Presidência da República tornou-se fragilizada, tanto FHC quanto Lula conseguiram levar a peteca até o final.
Não venceram a prova de revezamento, mas não deixaram o bastão cair.
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E ainda se quer discutir fidelidade partidária e cláusula de barreira. Nossos políticos e o nosso STE são um grupo de "brincalhões", o povo é que é palhaço. Drauzio Milagres.
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