Luis Nassif - O Vermelho - 05/09/2008
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=42935
O jornalista Luis Nassif publicou em seu blog um artigo no qual comenta as três hipóteses que circulam na praça para o caso dos grampos: a de que o grampo saiu da Abin, a de que o grampo partiu do Senado e ainda a de que a escuta ilegal foi promovida por terceiros. Para Nassif, a revista Veja, que recebeu e divulgou as informações, tem a resposta para o enigma. "Minha convicção continua sendo a de que essa gravação foi uma armação", diz Nassif. O jornalista também lança uma suspeita no ar, ao lembrar do nome do araponga Jairo Martins "habitual fornecedor de grampos para a Veja".
Veja abaixo a íntegra do comentário do jornalista Luis Nassif:
Vamos a um balanço desse episódio do grampo.
Há duas linhas de investigação a se avançar. A primeira, de onde saiu o grampo (se, de fato, houve o grampo). A segunda, sobre quem ordenou o grampo.
Hipótese 1 - O grampo saiu da ABIN.
Nesse caso pode ter sido por ordem do comando da ABIN; pode ser um agente infiltrado, trabalhando para terceiros; pode ser um agente descontente com o comando.
Quem tem a resposta? A revista Veja.
Na tal matéria, se dizia que grampos eram disseminados. Dizia-se, inclusive, que a Ministra Dilma Rousseff teria sido grampeada, assim como outros Ministros. E informava que as supostas gravações teriam supostamente sido destruídas. Mas diz também que sua convicção de que foi a ABIN se baseia em uma boa quantidade de documentos que recebeu.
Certamente a revista irá apresentar os documentos e, assim, o caso se resolverá rapidamente. Ou não? Apresentando os documentos, não se irá entregar a fonte e o episódio se resolverá em poucos dias.
Mas supondo que a revista não tenha os documentos que informou ter. Como fica?
Há uma degravação de uma conversa e duas linhas a serem seguidas nas investigações. A primeira - mais fácil - é saber se a ABIN possui ou não o equipamento capaz de fazer tal escuta. Se não puder, morre o assunto. Se puder, o assunto continua. Bastará saber onde o equipamento estava no dia e hora em que se deu a escuta.
Depois, proceder à perícia para saber se a escuta saiu de lá. Mais que isso: levantar todo o histórico de utilização do equipamento para comprovar ou desmentir a afirmação da revista de que até o Planalto era espionado.
Se comprovar que a gravação saiu dos equipamentos da ABIN, há duas possibilidades. A de ter sido feito a mando de Paulo Lacerda; ou de ter partido de algum agente infiltrado ou descontente. Em todos os casos, Paulo Lacerda paga a conta. Mas, sendo de um agente infiltrado, terá que se chegar ao mandante.
Há razões para Lacerda ter procedido às escutas? Em tese há, já que havia disputas intestinas na Polícia Federal em torno da Operação Satiagraha e a ABIN ofereceu apoio de pessoal. Há razões para se temer uma apuração contra Lacerda? Há, devido às lutas intestinas na PF. Mas o acompanhamento do Ministério Público é um bom aval.
Há outra probabilidade, de ser um grampo isolado com o objetivo de desqualificar a Operação Satiagraha e beneficiar Daniel Dantas.
E há a possibilidade de um factóide plantado por alguém, até pelo próprio Senador Demóstenes Torres, em conluio com algum agente da ABIN. Um mês antes das eleições de 2004, Demóstenes Torres apresentou uma denúncia, de que teria sofrido um atentado a bala de seguranças do ex-governador de Goiás Marconi Perillo. Até agora o episódio não ficou esclarecido: se houve o atentado, se foi efeito da bebedeira de policiais ou o que mais (aliás, quem tiver mais dados poderia colocar nos comentários).
Hipótese 2 - O grampo saiu do Senado.
As suspeitas maiores recairão sobre o Senador Demóstenes Torres e sobre adversários de Paulo Lacerda.
Hipótese 3 - Terceirização do grampo.
Os três são suspeitos. Mas como não se tem a gravação, como ficará? A não ser que os informantes da PF encontrem o terceirizado.
Em suma, a resposta está na Veja. Se tiver os documentos que disse ter, tudo resolvido. Se não tiver, quase tudo estará claro e óbvio.
Comentário
Alguém pergunta se passei a considerar Lacerda um espião de ontem para hoje. É evidente que não. O que tracei é um roteiro para investigações que, obviamente, precisa contemplar todas as hipóteses.
Minha convicção continua sendo a de que essa gravação foi uma armação.
Sobre hipóteses
Apenas por hipótese, suponha que as investigações concluam que o araponga que grampeou Demóstes Torres e Gilmar Mendes seja Jairo Martins. No capítulo "O Aparonga e o Repórter", da série "O Caso de Veja", Jairo é mostrado como fornecedor habitual de grampos para a Veja e para Policarpo Jr., autor da reportagem sobre o "grampo" em questão.
É apenas uma hipótese. Mas, se confirmada, qual a leitura que se faria dessa informação?