O Camburão é Imparcial
Mauricio Dias - Revista Carta Capital nº 504 de 16/07/2008
http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=1409
Mauricio Dias - Revista Carta Capital nº 504 de 16/07/2008
http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=1409
Num país onde os cidadãos não são iguais perante a lei, as cenas vistas nos últimos dias são mesmo as de alguma coisa parecida com uma revolução no Brasil. As leis, à espera de mudanças, ainda garantem privilégios. Um exemplo está no Código de Processo Penal Militar que autoriza algemas em praças e proíbe algemar oficiais.
A Polícia Federal, no entanto, já não faz mais distinção entre ricos e pobres. O camburão da PF iguala os desiguais. Acusado de vários crimes, o banqueiro Daniel Dantas, preso, saiu de casa algemado, foi enfiado em um camburão e, posteriormente, trancafiado. Não houve violência. Tudo aconteceu dentro do universo da lei e da ordem.
A foto do banqueiro algemado provocou reações. Assim também aconteceu quando o algemado foi o então senador Jader Barbalho. Nessas ocasiões o céu quase desaba. Protesta-se contra as fotos, as filmagens e, principalmente, contra o emprego de algemas.
Nunca antes a questão tinha merecido tanta atenção. Essas pulseiras que envergonham os usuários de "colarinho-branco" (deveriam, antes, ter vergonha dos crimes que cometem) nunca mereceram a menor atenção quando eram exclusivas dos acusados de "colarinho puído".
A algema agora é associada ao emprego de força desnecessária. Elas costumam deixar marcas fortes nos pulsos. Lamentável, mas não existem algemas de pelica.
Dantas reclamou das "acomodações" na Polícia Federal. Talvez ele não tenha ouvido falar das agruras vividas por José Reinaldo, ex-governador do Maranhão. No ano passado, depois de 72 horas numa cela, ele deu um depoimento capaz de horrorizar os novos candidatos que fazem curso de acesso às prisões brasileiras. José Reinaldo é engenheiro. Eis aí mais um privilégio: por ter curso superior foi para uma prisão da PF, em Brasília. Ele conta o que passou numa cela ocupada por seis presos onde cabiam dois.
"Quem ia para a latrina ficava apertando a descarga o tempo todo para o cheiro não contaminar a cela. A filosofia da cadeia é de humilhação".
Basta isso. Polícia, camburão, algemas, cadeia. Os ricos e poderosos nunca, antes, tinham transitado por este cenário que se descortina para eles há mais ou menos 20 anos. O fim desses privilégios perante a lei faz a infelicidade de alguns, mas resulta sempre em maior harmonia social. Nesse sentido, Patativa, o Brasil de cima desceu.
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Daniel Dantas
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