A Obstrução das Artérias
Revista Carta Capital nº 468 de 31/10/2007 - Drauzio Varella
A administração de Aspirina reduz o risco de morte e de reincidência dos derrames.
É simples e barato.
Neurônios são consumidores insaciáveis de oxigênio. Quando uma artéria cerebral é obstruída, a falta de oxigênio lesa e pode levar à morte os neurônios situados no território irrigado por ela. Essa condição é conhecida como acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI) ou derrame cerebral. Cerca de 80% dos acidentes vasculares cerebrais são isquêmicos. Os demais, chamados de hemorrágicos (AVCH), surgem quando ocorre ruptura da artéria.
Os sintomas do AVCI aparecem de forma abrupta: perda da força muscular nos membros superiores ou inferiores (obrigatoriamente de um mesmo lado do corpo), dificuldade para articular a palavra ou exprimir pensamentos, alterações visuais, perda de sensibilidade em uma ou mais regiões do corpo (do mesmo lado), dificuldade para andar ou coordenar os movimentos, perda de memória e outros menos comuns. O estado de consciência geralmente está preservado, mas pode haver confusão mental. Em casos mais raros, o quadro pode instalar-se gradualmente no decorrer de horas ou dias. Dores de cabeça não são freqüentes.
A aterosclerose é a principal causa de derrame isquêmico. As placas formadas nas artérias podem provocar oclusões por dois mecanismos: obstrução da luz da artéria cerebral acometida pela placa ou por êmbolos formados dentro do coração e bombeados para os vasos do cérebro. Fumo, hipertensão, diabetes e sedentarismo são fatores que aumentam significativamente o risco de derrames.
Nos países industrializados, a mortalidade por AVCI nos 30 dias seguintes ao episódio é de 10% a 17%. É a segunda causa de morte na população geral (atrás apenas dos ataques cardíacos). A probabilidade de óbito aumenta com a idade, com a concomitância de fumo, hipertensão arterial, doença coronariana ou diabetes, com a extensão e a localização da área cerebral acometida e com o tempo de duração da isquemia.
Durante a década de 1990, foi descoberta uma proteína (TPA), dotada da propriedade de dissolver coágulos. Um grande estudo publicado em 1995 comparou pacientes que receberam injeção intravenosa de placebo (droga inerte) com aqueles tratados com a TPA menos de três horas depois da instalação dos primeiros sintomas. A avaliação neurológica realizada três meses mais tarde, demonstrou que de 31% a 50% do grupo que recebeu a TPA apresentava boa recuperação neurológica ou funcional (valores dependentes da escala de avaliação utilizada). No grupo-placebo, esses números caíram para 20% a 38%. A mortalidade, entretanto, foi idêntica nos dois grupos.
Quatro outros estudos em que a TPA foi administrada nas primeiras seis horas depois do derrame (com poucos casos tratados antes de três horas) não mostraram benefícios. O risco mais grave do tratamento é o da ocorrência de hemorragia cerebral. Para reduzir a incidência dessa complicação, a American Academy of Neurology publicou um guia com as principais contra-indicações da TPA.
Um tratamento muito mais barato e eficiente consiste na administração de Aspirina (na dose de 160 a 300 mg por dia), iniciada nas primeiras 48 horas e mantidas por pelo menos duas semanas. Essa medida simples reduz o risco de morte e de recidiva dos derrames. Por interferir na coagulação, Aspirina e TPA não devem ser administradas concomitantemente. A TPA pode ser infundida nas primeiras três horas e a aspirina iniciada 24 horas depois.
Embora outras medidas estejam indicadas no tratamento dos derrames isquêmicos, TPA e Aspirina são as duas únicas estratégias medicamentosas com eficácia comprovada em estudos clínicos.
O tratamento ideal do AVCI exige que os familiares reconheçam imediatamente os sinais e sintomas da doença e corram com o paciente para o pronto-socorro. Lá, o atendimento precisa ser rápido, efetuado por um médico treinado que disponha de TPA para ser infundida nas primeiras três horas.
Pouquíssimas famílias e serviços de pronto atendimento no Brasil estão à altura dessa expectativa.
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Um comprimido diário de aspirina por dia pode salvar uma vida, mas a mais indicada é a aspirina infantil, dosagem de 100 mg. De qualquer forma, não deixe de consultar um médico antes. Um abraço. Drauzio Milagres.
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