Sexo Verde
Thomaz Wood Jr. - Revista Carta Capital nº 517 de 15/10/2008
http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=2362
Thomaz Wood Jr. - Revista Carta Capital nº 517 de 15/10/2008
http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=2362
Thomaz Wood Júnior
Recentemente, circulou pelo mundo virtual um decálogo de práticas sexuais criado pelo Greenpeace. Se o prezado leitor havia se entusiasmado com o vídeo da campanha Forest Love, estrelado por plantas que se acariciavam sensualmente, e também produzido pela decana ONG, então chegou o momento de levar a luta pelo meio ambiente para uma nova frente: sua cama.
Comece pela questão energética. Apague as luzes e dê sua contribuição para a preservação da camada de ozônio. Mais sexo no escuro significa menor consumo de energia. No entanto, se o leitor é do tipo visual, que precisa ver para ter, a solução é simples: basta transar de dia. Resolvida a matriz energética, enfrente a não menos crítica questão da água. Afinal, além do petróleo, a água também está se tornando um bem caro e raro. Estima-se que mais de 1 bilhão de pessoas no mundo não têm acesso à água limpa. Solução: banho a dois. A natureza agradece.
O casal gosta de temperar sua paixão com frutas? Ótimo, nada mais natural. Mas não deixem de observar a procedência genética dos suprimentos. Afinal, sabe-se pouco sobre os efeitos do uso de alimentos geneticamente modificados sobre a saúde e, menos ainda, sobre o seu uso em atividades íntimas. Não corram riscos.
O mar inspira o romance? Excelente, mas não esqueça que, embora certas iguarias marinhas tenham fama de afrodisíacas, os oceanos estão sendo destruídos. A saída é apelar para a flora amazônica, rica em substâncias milagrosas. Mares limpos, consciência tranqüila e prazer vitaminado: combinação perfeita.
O leitor é do tipo que se entusiasma com acessórios? Perfeito, mas cuidado com os materiais. A produção de PVC, por exemplo, cria e libera dioxina, um dos componentes químicos mais tóxicos que existem. Prefira couro e borracha. Se o caso for de equipamentos de madeira, garanta a origem certificada e o selo verde. Afinal, você não quer ver seu prazer ligado ao desmatamento da Amazônia. A ocasião pede o uso de lubrificantes? Tudo bem, mas cuidado com os derivados de petróleo. As empresas petrolíferas estão destruindo o planeta, mas você não precisa fazer o mesmo. Opte por similares naturais.
O Greenpeace nasceu no início da década de 1970 para se tornar a mais conhecida organização de defesa do meio ambiente do mundo. No início dos anos 1990, a organização chegou a contar com quase 5 milhões de membros. Hoje, são quase 3 milhões, um número ainda impressionante. América Latina e Ásia, regiões nas quais o desenvolvimento econômico mais ameaça o meio ambiente, estão no centro de seu alvo estratégico.
Durante muitos anos, a organização foi marcada pela personalidade de David McTaggart, um canadense de origem escocesa. Ele era fascinado pelo Sul do Pacífico, tinha um pequeno barco e velejava de ilha em ilha. Em 1972, fez contato com o Comitê Não Faça Onda, que protestava contra os testes nucleares franceses no Atol de Mururoa, na Polinésia Francesa. McTaggart aderiu à causa e, rapidamente, tornou-se seu mais fiel guerreiro. Seus enfrentamentos com os franceses lhe renderam algumas escoriações e fama mundial.
Sob seu comando, Não Faça Onda transformou-se em Greenpeace, galvanizou milhares de indivíduos ao redor do mundo em torno da causa ambiental e deu origem a um estilo espetacular de ação. Sua estética sempre explorou a audácia, o choque e o confronto. Seus meios sempre foram a comunicação de impacto e a publicidade.
Com os anos, o Greenpeace cresceu e se internacionalizou. Tornou-se, segundo alguns observadores, grande e complexo demais para uma organização cuja imagem ainda era a de um grupo de idealistas em botes de borracha enfrentando inimigos poderosos para salvar baleias e protestar contra o lixo radioativo: os "guerreiros do arco-íris". McTaggart deixou o comando e retirou-se para uma fazenda italiana em 1991.
Como outras organizações similares, o Greenpeace procura manter sua identidade e seus valores diante de um mundo em transformação. Seus métodos espetaculares perderam força em uma sociedade dominada pelo espetáculo do consumo. Sua retórica foi absorvida pelo mundo corporativo e adotada por seus mais tradicionais inimigos. Algumas companhias petrolíferas agora se declaram campeãs da causa das energias limpas. A energia nuclear deixou de ser o bicho-papão dos anos 1970 e até fabricantes de tabaco hoje publicam balanços sociais. Os fatos continuam milhas náuticas atrás do discurso, mas fatos são pouco relevantes na sociedade do espetáculo. Felizmente, o lema "faça amor, não faça a guerra" continua atual.
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Drauzio, o texto é interessante, mas tem que pensar em tudo isso para fazer sexo? Com tanta coisa na cabeça será que vai dar para relaxar...
ResponderExcluirÉ verdade Helô. Com tantos preparativos e cuidados a serem feitos e tomados, há o risco do "T..." acabar indo embora. Mas a proposta é pra lá de interessante e inteligente. Um abraço. Drauzio Milagres.
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