Punir é uma forma de educar
Ruth de Aquino - Revista Época nº 502 de 31/12/2007
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG80756-9554-502,00.html
O que fazer para evitar tantas mortes no trânsito brasileiro?
Ruth de Aquino - Revista Época nº 502 de 31/12/2007
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG80756-9554-502,00.html
O que fazer para evitar tantas mortes no trânsito brasileiro?
Tem gente que passa o natal engordando, relaxando e trocando presentes. Neste Natal, 196 brasileiros passaram o feriado morrendo nas estradas federais, em destroços de carros, caminhões, ônibus e carretas. Os feridos são 1.870. Em vez de degustar ceias e presentes, dezenas de famílias conheceram o luto. O total de mortos pode dobrar, porque a estatística não registra quem morreu nos hospitais. Mais um recorde macabro, e ainda não passamos pelo Réveillon ou Carnaval.
O que fazer? Punir. Aplicar a lei. Aumentar o valor das multas. Não mudar o Código de Trânsito em favor dos infratores. Prender os motoristas irresponsáveis. Suspender a carteira. Não chamar de acidente já ajudaria, diz Rodolfo Rizzotto, coordenador do SOS Estradas: "Acidente é cair um meteoro na cabeça do motorista. Desastres são todos previsíveis". Especialistas já se cansaram de elaborar listas de causas. O professor Paulo Fleury, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz o que nós já sabemos: "As mortes no trânsito não são uma epidemia cuja causa não se sabe. Ao contrário: se sabe a causa, o lugar, o motivo. É descaso das autoridades". A legislação brasileira não obriga ninguém a soprar no bafômetro. Permite uma série de recursos a quem mata no trânsito. Não há provavelmente ninguém preso ou com habilitação suspensa por ter matado uma pessoa ou uma família inteira na rua ou na estrada. O que são "cestas básicas" como punição para assassinos no trânsito?
O Brasil conseguiu a proeza de afrouxar seu Código. Antes, pela lei, o motorista teria a carteira suspensa se fosse flagrado dirigindo 20% acima do limite de velocidade. No ano passado, esse índice subiu para 50%. Uma nova resolução do Contran determina que os radares sejam sinalizados e anunciados nas estradas. Só no Brasil mesmo. O que se faz entre os radares? Acelera-se. Nem o mau estado das rodovias pode levar a culpa: 80,7% dos acidentes acontecem em asfalto em boas condições; 71,4% em retas. Imprudência, álcool e impunidade são os maiores vilões. Isso soa terrivelmente redundante.
Motoristas não têm a menor educação. Talvez fossem mais polidos se, na escola, ao ser alfabetizados, aprendessem noções de cidadania. "Primeiro é preciso multar todos os pais que param em fila dupla na frente das escolas", diz Rizzotto. O mau exemplo, dos pais, é a pior aula de direção irresponsável para a criança. Na Inglaterra e na Alemanha, carros param para pedestres, mesmo fora do sinal. No Brasil, motoristas aceleram no sinal amarelo, e alguns "brincam" de assustar o pedestre.
Não existe uma meta nem se aprende com o que aconteceu. A perícia vai para a gaveta. Há pesquisas associando acidentes ao cansaço. Em países civilizados, já soa um alarme em veículos a cada duas horas de direção. Uso de celular, rádio alto, excesso de horas, viagens depois de trabalhar o dia inteiro – tudo isso causa acidentes. Celular agora dá até dois anos de cadeia... na Inglaterra.
No Natal, um amigo de meu filho de 20 anos contou que sua maneira de dirigir mudou na Austrália. "Se bebo, não dirijo. Se dirijo, não bebo. Aprendi isso lá. Se me pegassem dirigindo alcoolizado, mesmo sem provocar acidente algum, eu ia para a corte, perdia a carteira e, se reincidisse, era deportado." Por que não há o mínimo rigor no Brasil?
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Aqui no Brasil os "homens" que fazem as Leis as fazem intencionalmente frouxas, cheias de "buracos" e falhas, para que eles mesmos possam se safar quando forem pegos nas falcatruas que costumam cometer. Há tantos artifícios e brechas nas nossas Leis que quem pode pagar um bom advogado não corre o risco de ir preso, por mais hediondo que possa ser o crime. Só o pobre é que vai preso e cumpre pena. Drauzio Milagres.
ResponderExcluirEssa é uma tecla que toco há muito tempo. Não existe nada mais educativo que a punição. No Japão, dirigir embriagado dá três anos de cadeia. Se o ato insano gerar alguma vítima, a pena sobe para 15 anos.
ResponderExcluirA percepção de que a seu desrespeito à vida pode destruir toda a sua vida, leva os japoneses a terem um cuidado extremo antes de transigir a lei.
E aqui no Brasil? Bem, vocês sabem, os deputados e senadores, eleitos por nós, criam recursos e mais recursos, permitindo que réus confessos, quando condenados, tenham seus julgamentos anulados e tudo tenha que começar do zero, de novo.
Isto é um absurdo. A única punição que se espera de um endinheirado é o gasto milionário que terá com o seu advogado. Mas, se a gente pensar que na grande maioria dos casos todo aquele dinheiro é oriundo de roubo puro e simples ou de desvio do dinheiro público, lá na ponta, a gente já sabe, quem vai pagar o grande advogado, somos todos nós.
Que nós tenhamos, a cada nova eleição, a lucidez de depositar a nossa confiança em representantes menos comprometidos com a ilegalidade e que se dediquem a uma reforma do poder judiciário e dos nossos diplomas legais. Só assim poderemos, um dia, brindar a uma sociedade mais igualitária.
Caro Drauzio!
ResponderExcluirPrincipalmente, nós brasileiros só nos permitirmos educar quando pega no bolso! é uma triste realidade!
Grande abraço
Feliz ano novo!
Kellen
Drauzio
ResponderExcluirEu digo que precisamos entender dois tipos distintos de ação. Eu considero Educação como um processo de tomada de consciência onde passamos a fazer coisas, a deixar de fazê-las ou a fazê-las de forma diferente por uma questão de consciência, neste estágio, nossas ações são as mesmas estejamos sós, na presença de outros ou monitorados por equipamentos. A Educação é um trabalho de base e leva muito tempo para alcançarmos resultados satisfatórios.
O outro tipo de ação eu não chamo de Educação, mas de repressão. Nesse caso, passamos a fazer coisas, a deixar de fazê-las ou a fazê-las de forma diferente por que existem ações de repressão. Quando deixamos de ser monitorados ou acreditamos na impunidade, fazemos da maneira que achamos que deve ser sem levar em consideração as leis. Isso ocorre a todo momento e não é de hoje.
O que devemos entender é que, infelizmente, muitas vezes temos que lançar mão de punições, seria melhor se não houvesse essa necessidade, mas há !
"A educação pelo medo deforma a alma" (atrib. a Coelho Neto)
"Todo tipo de ação tem seus efeitos colaterais, sejam eles positivos ou não".
É por isso que existem pais e professores para trabalhar pela educação, e policiais, juízes e demais profissionais para lidarem com questões das leis.
Um abraço.
Nelson