A Igreja Universal (IURD) monta exército da fé para arregimentar jovens fiéis - Gladiadores do Altar.
Os recrutas bélicos abusam do linguajar bélico. Segundo a igreja, é só coreografia.
Miguel Martins - Carta Capital - 18/03/2015
http://www.cartacapital.com.br/revista/840/o-evangelho-segundo-capitao-nascimento-6453.html
Embora lançado em janeiro de 2015, o projeto ganhou destaque após o deputado Jean Wyllys, do PSOL, publicar no domingo 1º uma foto dos tais gladiadores enfileirados como um batalhão militar e um vídeo do ritual do grupo, reproduzido em diversos estados brasileiros, além de Argentina, Colômbia e alguns países africanos. Os fiéis do projeto vestem camisetas verdes com o brasão do grupo estampado nas costas. O símbolo apresenta as iniciais "G.A." bordadas em um escudo atravessado por uma espada. Embora não se vejam coturnos, o conjunto finalizado com sapatos e calças pretas remete à imagem de tropas policiais ou militares.
No ritual registrado em diversos vídeos na internet, os gladiadores marcham pela igreja com sincronia e disciplina. Repetem, a pedido de um pastor-sargento, uma louvação a Deus que mais se assemelha a um ritual de iniciação para aspirantes do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar. Ao serem perguntados sobre o que querem, estendem os braços com o dedo em riste e apontam para o objetivo, enquanto repetem três vezes a plenos pulmões: "O altar, o altar, o altar".
A liturgia militar adotada pelo grupo de formação de pastores da Universal levantou dúvidas sobre as reais intenções do projeto. "O fundamentalismo cristão no Brasil tem ameaçado as liberdades individuais, a diversidade sexual e as manifestações culturais laicas. Agora, ele forma uma milícia", afirma Wyllys. Os gladiadores passaram a ser comparados na internet a terroristas do Estado Islâmico e a soldados de regimes totalitários, especialmente pelo gestual e uniforme adotados, que lembram, com exceção à ausência da gravata, os camisas-verdes do integralista Plínio Salgado, líder da versão tupiniquim do fascismo nos anos 1930.
Com o despertar da polêmica, a Universal passou a bloquear o acesso ao conteúdo publicado sobre os gladiadores em seus canais oficiais na internet a partir da segunda-feira 2. Ainda é possível, porém, assistir ao ritual dos gladiadores em vídeos publicados pelos próprios fiéis. Um dos mais populares mostra o bispo Edson Costa na primeira recepção ao grupo no templo em Fortaleza. Antes de dar a palavra ao bispo, o "sargento" dos gladiadores convoca a tropa para uma oração. "Graças ao Senhor, hoje estamos aqui prontos para a batalha", bradam os jovens. Em seguida, Costa dispara: "Esses gladiadores vão nos ajudar a entrar no inferno e ganhar almas. O altar não é para criança, menino ou para quem quer brincadeira. É para quem quer lutar pelo povo, e se preciso dar a vida por ele".
Em nota, a Universal afirma que o programa visa formar única e exclusivamente pastores. Os jovens seriam integrantes regulares da Força Jovem Universal, cuja bandeira principal é o combate às drogas. "Em sua maioria, são pessoas que pretendem retribuir à comunidade onde vivem o apoio recebido quando estavam em situação de vulnerabilidade social".
A Força Jovem é um dos braços mais influentes da igreja, em especial pela realização de grandes eventos em parceria com o poder público. O PRB, partido ligado à Universal, ocupa atualmente o Ministério do Esporte, encabeçado pelo pastor George Hilton, além das secretarias estaduais da pasta em São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. O interesse do partido pelo esporte está diretamente relacionado à promoção de eventos da Força Jovem pelo País. O "Saiba Dizer Não", evento que promove atividades desportivas e palestras antidrogas, foi sediado em importantes áreas públicas, entre elas o Estádio Mané Garrincha, em Brasília, e o Parque da Juventude, em São Paulo.
Sobre as suspeitas de promover um "exército fundamentalista", a Universal garante que nenhuma prática militar é desenvolvida. "Os gladiadores assistem a aulas semanais com um pastor em que debatem e são convidados a refletir sobre aspectos do texto bíblico. Esta é a única atividade regular." Sobre a polêmica em torno dos uniformes, a igreja afirma que as camisetas têm como função identificar os gladiadores no interior das igrejas. "Os integrantes do projeto não as utilizam fora dos templos da Universal em nenhuma atividade." O gestual militar seria apenas uma "coreografia", ensaiada para apresentar de forma festiva o projeto aos fiéis. Segundo a Universal, os rituais "não se repetiram mais, nem se repetirão".
Após a publicação de Wyllys, muitos fiéis apressaram-se a defender o projeto e garantir que ele iria "arrebentar", gíria usada pela juventude da igreja para se referir a um sucesso estrondoso. Quem acessar a página paulista do grupo no Facebook encontrará mais de mil seguidores e nenhum conteúdo publicado. Na segunda 2, havia um farto material, com textos, fotos e vídeos. Ao que parece, o projeto de fato "arrebentou", mas na conotação negativa da expressão. No caso, a própria imagem da igreja, já bastante combalida.
Veja no site da revista, link abaixo, como são as apresentações dos Gladiadores do Altar: http://www.cartacapital.com.br/revista/840/o-evangelho-segundo-capitao-nascimento-6453.html