A Raiva Pode Matar
A. J. S. Rayla - Revista Época nº 489 de 01/10/2007
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG79321-8055-489,00.html
Novos estudos sobre a relação entre a mente e as doenças do coração mostram como o temperamento pode encurtar ou prolongar a vida.
O pesadelo começou em 1996, quando o bebê de 11 meses de  Sally Clark, Christopher, foi encontrado morto em seu moisés. Sally e seu  marido, Steve, advogados de Essex, na Inglaterra, decidiram ter outro filho.  Catorze meses depois, o bebê Harry, de 8 semanas, desmaiou na cadeirinha e  morreu. Sally Clark foi acusada de ter matado seus bebês e foi sumariamente  mandada para a prisão. Enquanto enfrentava o julgamento por assassinato,  descobriu que estava grávida. A criança nasceu e foi enviada para um lar  temporário. Sally foi condenada por assassinato com base num testemunho cheio de  erros. A sentença: duas prisões perpétuas.
 Em 2003, a Justiça finalmente foi feita. Sally foi libertada.  As teorias do médico responsável por sua condenação foram questionadas e seu  diploma cassado. Logo que voltou para casa, a advogada percebeu que a vida nunca  mais seria normal. Ela sofria períodos de depressão e alterações de humor. Era  assombrada pelas memórias do tempo que passou na prisão. Quase não saía de casa.  Em março, aos 42 anos, Sally Clark morreu de repente.
 "A causa da morte foi coração partido", seus amigos disseram  aos tablóides, que cobriram a saga de Sally desde o início. Apesar de a causa  exata da morte ainda estar sendo investigada, a idéia de que alguém pode morrer  de estresse prolongado e extremo pesar sempre foi instigante.
 A crença popular tem sido reforçada por cientistas que  estudam a ligação entre o coração e a mente. Nem todos os pensamentos negativos  fazem mal à saúde, mas alguns estados emocionais – principalmente o estresse e a  depressão – estão relacionados a vários problemas cardíacos. Há evidências muito  fortes de que o coração sofre um baque depois de traumas psicológicos como o de  Clark. Insultos menores, no entanto, também podem causar prejuízos. Um casamento  ruim, um chefe irritado ou injusto, um assalto. Tudo isso eleva o risco de  doenças cardíacas. Novas descobertas sugerem que até formas brandas de depressão  e irritação podem nos colocar em risco.
 A conexão biológica entre o coração e a mente
 Como podem padrões negativos de pensamento e sentimentos  "penetrar no corpo" de forma a alterar a saúde de uma pessoa? Como o coração e  as emoções estão ligados? O psicólogo Gregory Miller, da Universidade da  Colúmbia Britânica, identificou a inflamação como uma "rede biológica" que  interliga o estresse emocional e as doenças do coração em um vaivém sem  fim.
 No curto prazo, ele explica, o estresse tem uma finalidade:  ao iniciar a inflamação, mobiliza as células imunológicas do corpo para eliminar  uma infecção e curar um ferimento. Mas, quando o estresse é prolongado, o  mecanismo da inflamação funciona sem parar. Ao longo do tempo, as moléculas  inflamatórias podem atuar no cérebro, provocando apatia, isolamento social,  fadiga e mudança de hábitos alimentares. "Apesar de os sintomas serem muito  semelhantes aos da depressão e estarem sendo considerados como tal, ainda não  temos certeza se é a mesma depressão detectada pelos psiquiatras", diz Miller.  Qualquer que seja o rótulo final, pacientes de coração que têm esses sintomas  depressivos e não são tratados vão ver sua doença cardíaca progredir mais  rápido.
 "Estresse crônico e acontecimentos com determinadas cargas  emocionais podem dar início a um processo inflamatório que arrasta as pessoas  tanto para o caminho da depressão como para o das doenças cardiovasculares",  afirma Miller.
 Como o temperamento pode proteger o coração
 Nos últimos anos, os cardiologistas identificaram um padrão  de comportamento de alto risco: o dos estourados, aquelas pessoas que ficam  irritadas e "explodem" por qualquer coisa. Pior ainda é o comportamento  colérico. Alguns indivíduos têm uma irritação latente, se descontrolam diante de  mínimas provocações e respondem agressivamente sem hesitar.
 Em vários estudos realizados a partir de 2000, os  pesquisadores descobriram que esse tipo de comportamento contribui para o  entupimento das artérias e para o derrame. As pessoas mais raivosas têm um risco  duas vezes mais elevado de sofrer esses problemas do que quem tem um  temperamento normal.
 Atualmente os pesquisadores dizem que outros tipos de  personalidade podem influenciar o funcionamento do coração. Quem é otimista e  receptivo pode ter um coração mais saudável do que quem é pessimista ou tímido.  A psicóloga Laura Kubzansky, da Universidade Harvard, diz que estados como falta  de esperança e até tendência para ruminar os problemas e se preocupar demais  estão associados a doenças do coração.
 Em um estudo, pesquisadores holandeses pediram a crianças  extrovertidas e introvertidas para se concentrar em algumas tarefas. As  extrovertidas se distraíam com informações irrelevantes e tinham mais  dificuldade para se concentrar. As introvertidas ignoraram o que era  irrelevante. Atingiram um nível de concentração superior. Apesar de terem se  saído melhor nesse teste, a análise do ritmo cardíaco das introvertidas apontou  um problema. Elas estressavam mais o coração quando alguma coisa as  distraía.
 Outro sério inimigo do coração é a depressão. Para quem já  tem doença cardíaca, ela pode representar um risco grave. Cientistas da Duke e  da Universidade da Carolina do Norte descobriram que pacientes com insuficiência  cardíaca correm risco de ir para o hospital ou de morrer 50% mais elevado se  também estiverem deprimidos. O psicólogo médico da Duke, Andrew Sherwood,  principal pesquisador do estudo, diz que a depressão pode ser tão importante  para gente com problemas cardíacos como fatores de risco tradicionais como  colesterol e hipertensão. Entre as explicações para as descobertas, diz  Sherwood, pode estar a capacidade do coração de reagir ao estresse diário. Ou a  possibilidade de que pacientes deprimidos não sigam corretamente os tratamentos  médicos. Ou ainda a hipótese de que os deprimidos não aderem a hábitos saudáveis  como emagrecer e parar de fumar.
 Nem todos os que têm uma doença do coração podem apontar um  agente emocional. Quando fatores emocionais estão na raiz do problema, no  entanto, um ataque cardíaco pode ser mais provável. Em homens que tiveram um  ataque cardíaco provocado por emoções como raiva e estresse, a pressão sanguínea  e a atividade do coração demoraram mais para voltar ao normal que naqueles sem  um envolvimento emocional prévio, de acordo com um estudo liderado por Andrew  Steptoe, cardiologista da University College London. "Algumas pessoas são mais  suscetíveis a ataques cardíacos por causa da forma como respondem biologicamente  quando confrontadas com uma situação socialmente exigente", diz Steptoe.
 Choque repentino: o custo do pesar e da perda
 O marido morreu de repente em setembro de 1993. Poucas horas  depois, a mulher de 70 anos deu entrada no pronto-socorro em Rennes, na França.  Tinha fortes dores e contrações no peito, sudorese, náuseas e vômitos quando  desmaiou. Alguns anos depois, outra mulher, de 50 anos, apareceu no mesmo  pronto-socorro. Seus sintomas eram parecidos e sua história também estava  marcada pelo pesar. Seu filho havia se matado algumas horas antes. As duas foram  tratadas e sobreviveram. Estranhamente, nos meses seguintes, não mostraram  nenhum sinal de que o tecido do coração houvesse sofrido algum dano ou que  tivessem algum tipo de doença arterial coronariana.
 Casos como esses intrigam os médicos há muito tempo.  Recentemente, porém, o mistério parece ter sido solucionado. O fenômeno, muitas  vezes provocado por estresse ou choque repentino – como a morte de uma pessoa  querida –, causa sintomas parecidos com os de um ataque cardíaco comum,  incluindo falta de ar e dores no peito, fluido nos pulmões e, por fim,  insuficiência cardíaca. A capacidade do coração de bombear o sangue fica muito  prejudicada, mas o tecido não sofre danos e as artérias não estão entupidas,  como acontece nos casos de doença cardiovascular. Quando o paciente é tomado  pelo pesar, o fluxo sanguíneo torna-se anormal. O "coração partido" agora é  reconhecido pela medicina e recebeu um nome complicado: cardiomiopatia induzida  pelo estresse.
 "A síndrome do coração partido tem se tornado mais freqüente  nos Estados Unidos", diz o cardiologista da Clínica Mayo Chet Rihal, que  comandou o maior estudo sobre o problema até hoje. "É diferente do estresse  crônico, em que a pessoa tem problemas no trabalho ou em casa. A síndrome é  provocada por um estresse agudo, por um choque forte e repentino", afirma. Rihal  acha que o estresse extremo pode provocar uma descarga de adrenalina,  danificando pequenos vasos sanguíneos e fazendo os músculos do coração parar.  Algumas pessoas parecem ser especialmente suscetíveis: por volta de 10% dos  pacientes com o coração partido têm outro ataque similar.
 A linha de pesquisa que relaciona a saúde emocional e a saúde  do coração ainda está no início. A mensagem, no entanto, é clara: proteger o  coração pode depender de atitudes tão simples quanto evitar uma briga, deixar um  emprego chato ou amenizar a raiva correndo em volta do quarteirão. Essas  mudanças de comportamento podem salvar vidas.
 Como preservar o coração
O desgaste psicológico,  especialmente se for crônico ou extremo, pode acarretar sérios danos ao  coração.
 Alguns cuidados ajudam a combater o problema:
- Evite se irritar. Em vez de entrar num bate-boca, saia da sala;
- Adote medidas antiestresse todo dia. Faça ioga, converse com um amigo, caminhe.
- Compense o excesso de pressões no trabalho arranjando tempo para o prazer.
- Procure ajuda para livrar-se da depressão, mesmo que ela seja aparentemente leve.
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