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sábado, 30 de agosto de 2008

A espiritualidade é o grande capital desta era



A espiritualidade é o grande capital desta era
Jair Moggi - Adriana Salles Gomes - HSM On-Line - 02/07/2008
http://www.hsm.com.br/editorias/gestaodepessoas/artgestpess1_020708.php?mace2_cod=1080&pess2_cod=186392&lenc2_cod=




Em entrevista exclusiva, Jair Moggi explica como a mudança do paradigma de pensamento linear para o "pensar do coração"
nas organizações pode gerar saltos quânticos, qualitativos, nos resultados dos negócios.



Até por conta do regime militar, como sabemos, o Brasil ficou muito atrasado no que se refere a competitividade nos negócios. Quase todos os avanços que registramos datam da década de 1990 para cá. Mas agora essa cultura da competição parece estar fazendo com que as pessoas sofram. Qual é a saída? A competição desenfreada, inclusive interna às empresas, é realmente fundamental para o sucesso?

A reflexão que sugiro no tocante a essa pergunta parte da seguinte constatação: o que se consegue com a emulação da competição é tirar o melhor e o pior das pessoas. Um filme na praça que recomendo a todos os executivos e pessoas que se interessam pelo tema é Enron - Os Mais Espertos da Sala, distribuído pela Paris Filmes. Não é obra de ficção, é um documentário que reúne depoimentos reais e documentos e vídeos internos da empresa, apresentados na CPI do Senado americano, sobre o caso Enron. O filme é muito rico porque mostra o mal, como fenômeno espiritual, atuando numa organização de maneira muito explícita - e deu no que deu. O lado mais chocante do filme, para mim, é ver que foi uma cultura empresarial movida a competição que levou pessoas a fazer o que fizeram, reduzindo a pó bilhões de dólares, só para ficar nos danos materiais.

Então, qual é a alternativa para tirar o melhor das pessoas sem arriscar a tirar também o pior delas?

Eu acredito em valorizar o conceito de visão espiritual nas organizações. Como aglomerados humanos permanentes, as empresas são verdadeiras entidades coletivas vivas e, portanto, têm natureza espiritual, quer queiram, quer não.

Por quê? Explico. Quando um grupo de pessoas se junta com algum objetivo comum, seja ele qual for - desde fundar uma associação até criar um negócio -, elas estão se dedicando a um objeto imaterial - uma idéia, uma intenção, uma vontade, com pensamentos, sentimentos, atenção, trabalho e ações. E, por isso, elas acabam gerando uma cultura, um ambiente, um espírito coletivo.

O espiritual está naquilo que é imaterial para a empresa, aquilo que não pode ser apropriado pelos donos do capital, porque está inscrito na essência das pessoas, como idéias, valores, símbolos, conhecimento, informações, que circulam entre elas e no grupo etc. É disso que se alimentam as pessoas, é o que elas procuram: identidade com as demais pessoas, com as empresas, com as marcas, com um ideal, com os produtos, com os serviços.

Em minha opinião, a espiritualidade é o grande capital da nossa era, uma megatendência que influenciará, daqui para frente, todas as outras. O espiritual, que também pode ser definido como o impalpável, o simbólico, o tipicamente humano, é o que predominará nas próximas décadas. As artes terão mais valor, a sensibilidade e a beleza serão cada vez mais procuradas, a ética não poderá ser descartada jamais, a verdade e a transparência nas relações serão cada vez mais valorizadas.

Mas essa espiritualidade tem algo a ver com religião? Isso seria complicado, não?

Seria complicado, sim, tem razão: se há algo que as empresas não precisam neste estágio de desenvolvimento da humanidade é trazer para suas fronteiras internas o proselitismo religioso com todas suas conseqüências nefastas vistas ao longo da história. A espiritualidade nas organizações não deve ser confundida com religiosidade, de modo algum.

Essa espiritualidade tem de ser compreendida não a partir do misticismo, mas no seu sentido místico lato, que significa aquilo que não vemos, mas intuímos existir, aquilo que todas as tradições e culturas respeitam como sagrado, como amor, respeito à vida, livre-arbítrio, verdade, bondade, beleza, compaixão, integração e assim por diante. Uma forma de olhar a espiritualidade na empresa é você pensar o seguinte: há tantas empresas onde trabalhar, tantas profissões a escolher, tantos negócios a se dedicar, mas o destino o colocou nessa empresa, com esses chefes e subordinados, com esses desafios. O que isso pode significar para você? O que o destino quer que você aprenda aí? Nessa perspectiva, as organizações tornam-se verdadeiros espaços de aprendizagem e de desenvolvimento - inclusive espiritual - para indivíduos e grupos no presente e no futuro.

Na essência, quando falamos de espiritualidade nas organizações, estamos falando em elevar os níveis de consciência das pessoas e dos grupos numa perspectiva integrada cujo equilíbrio entre o qualitativo e o quantitativo possa ser perseguido com consciência.

Quais as resistências a esse tipo de abordagem no mundo empresarial atual do Brasil?

Como muitos dos novos paradigmas que querem emergir transcendem os aspectos físico-sensoriais, eles não são comprováveis cientificamente e, assim, acabam provocando a resistência das pessoas apegadas ao paradigma materialista, que chamam isso de charlatanismo, delírio, bobagem. Tais pontos de vista escondem um preconceito que rejeita qualquer idéia que não corresponda a seu modo de ver o mundo.

Por que o preconceito?

Romper paradigmas provoca incertezas e inseguranças, e exige coragem. Mas o que está por trás desse preconceito realmente é o atual estágio de consciência do ser humano, caracterizado pela consciência racional-lógica, que é baseada no pensamento linear e positivista. Toda a ciência moderna é baseada na consciência racional e o materialismo é fruto desse pensar racional. Na história da humanidade, o pensar racional foi uma grande conquista, é claro. Com ele conseguimos nos distanciar das forças da natureza, do medo dos deuses e nos tornamos seres humanos livres de superstições.

No entanto, esse pensar faz com que a pessoa se limite apenas ao mundo dos sentidos (conhecimento material), vivendo no âmbito de um mundo limitado, o que é muito pobre diante do potencial que se descortina diante de nós quando conseguimos conciliar matéria e espírito em nosso processo de desenvolvimento individual e coletivo. Esse pensar nos encalacrou em uma "jaula existencial", a princípio intransponível. E já percebemos também que esse pensar está nos levando a um beco sem saída - basta ver o problema social a nosso redor e a questão ambiental que afetam a todos, independentemente de qualquer fronteira. O fato é que o pensar racional-lógico já atingiu seu auge.

Como seria um pensar diferente, fora da jaula?


Nossa jaula existencial pode ser rompida a partir de novos estágios de consciência. Rudolf Steiner, fundador da antroposofia, caracteriza os três futuros graus de evolução da consciência: a imaginativa, a inspirativa e a intuitiva, mas podemos resumir os três, para facilitar o entendimento, na expressão "o pensar do coração".

Em primeiro lugar, é importante destacar que o pensar do coração não significa colocar as emoções no pensamento ou na ação. A diferença é a seguinte: se, no estágio de consciência atual, só conseguimos ter um pensamento após o outro - portanto, um pensamento linear -, no pensar do coração, pensamos em círculos, simultaneamente, sobrepondo pensamentos com consciência. Podemos dizer que, nesse tipo de pensamento, os fatos estão ao redor do "eu" em círculos e não linearmente, tendo o "eu" então a possibilidade de, num relance, percebê-los simultaneamente e formular juízos, julgamentos, a partir disso.

Muitas vezes, eu chego a uma conclusão, ou solução, antes de fazer um raciocínio prévio. Relato isso para meu interlocutor, aí ele invariavelmente me pede as razões que levaram a isso e então eu construo o raciocínio. Isso é um modo de pensar em círculos?

Com certeza! O importante ao construir o seu raciocínio é lançar mão do seu repertório pessoal, que inclui experiências, vivências e informações com o tema, além dos argumentos racionais, é claro - se existirem. Fundamental nesse diálogo é criar um "pano de fundo" amplo da questão com perguntas de essência mapeando o que incomoda o interlocutor, para que você consiga penetrar em seu referencial e assim falar para seu [dele] pensar e sentir, tocando o seu [dele] querer. É como se você pudesse entrar no referencial dele e, a partir disso, construir novas respostas. E isso já é um outro lado de sua intuição que tem de entrar em ação.

Então, quando falamos de espiritualidade nas empresas, falamos de antroposofia nas empresas. É isso? É essa a linha de trabalho da Adigo, que, eu sei, tem trabalhado para grandes empresas brasileiras e multinacionais?

Antroposofia, que também é designada de ciência espiritual, significa, literalmente, sabedoria sobre o ser humano e contempla o ser humano em suas dimensões física, energética, emocional e espiritual, além de suas relações com os reinos mineral, vegetal, animal, humano e planetário.

Nosso trabalho com consultores de gestão é orientado por essa filosofia, que tem dado resultados satisfatórios em inúmeros projetos de consultoria ao longo dos últimos 30 anos, tanto no Brasil como no exterior.

É possível para qualquer pessoa desenvolver essa nova forma de pensar?

O conhecimento antroposófico nos ensina que é perfeitamente possível, sim, desenvolver a nova consciência do pensar do coração, independentemente do pensar cerebral e dos fatos externos. Mas ele só pode ser desenvolvido se já tivermos chegado ao máximo de nossa capacidade racional-lógica. Esse paradoxo faz sentido, pois o processo de consciência só é possível quando temos clareza [lógica] no nosso pensar.

Talvez o primeiro ato - de coragem - para desenvolver essa nova forma de pensar fosse, perante todo fenômeno desconhecido e novo, formular uma pergunta: "Por que não?".

Explique melhor, por favor, como essa espiritualidade colabora para o sucesso de um negócio...

Quando uma organização sai do paradigma de pensamento linear "primeiro planejar, depois executar e na seqüência controlar" para o paradigma do "pensar do coração", ela realiza essas ações simultaneamente, resultando daí saltos quânticos, qualitativos, em vez de apenas melhorias adicionais em resultados quantitativos. Outro efeito é a recuperação ou revitalização dos ambientes de trabalho tornando-os mais humanos e motivadores, o que contribui para a redução do estresse e potencializa a aplicação de todos os recursos materiais e imateriais utilizados nos processos de geração de valor.

Essa espiritualidade consegue, por exemplo, estimular muito mais a inovação e a criatividade. Afinal, é o paradigma da empresa orgânica, viva, que passa a vigorar, em substituição a um organismo frio, rígido, apático, distante da realidade e das pessoas, características essas que são as maiores assassinas da criatividade individual e coletiva no mundo empresarial.

O que seria uma liderança espiritualizada, antroposófica, nas empresas?

A liderança baseada na espiritualidade é calcada em preceitos éticos e morais elevados, porque o mundo espiritual e o mundo moral são sinônimos. É o que reconhecemos em todas as tradições espirituais da humanidade. Isso quer dizer que qualquer decisão ou ação de pessoas que ocupam posições de liderança deve obedecer a critérios éticos-morais elevados, para que possam fazer diferença no mundo físico e no mundo espiritual. Isso é bem difícil, reconheço: as tentações e os valores que orientam o mundo dos negócios sempre nos colocam frente a frente com o que é ético e com o antiético, entre o que é moral e o que não é.

Quais são outras características de um líder empresarial mais espiritualizado?

Quando fazemos coaching de "líderes de líderes", deixamos claro que, embora isto só não seja suficiente, um líder deve se preocupar primeiramente em desenvolver em si, e depois em seus subordinados, atributos da seguinte natureza:

1) ter um processo pessoal de autodesenvolvimento contínuo de suas potencialidades e competências pessoais;
2) saber fazer uma auto-avaliação honesta de suas atitudes e comportamentos;
3) ter perspectiva de tempo;
4) saber aproveitar criativamente suas experiências;
5) ter um processo individual de prioridades pessoais;
6) reconhecer a necessidade de meditar;
7) ter, sobretudo, profundo amor pelas pessoas.

Como garantirmos para nós mesmos que faremos esse autodesenvolvimento contínuo e uma auto-avaliação sincera?

Esse autodesenvolvimento deve passar a ser encarado como um meio de proteger a própria independência e integridade pessoal e profissional, além de servir como técnica de preparação para enfrentar os momentos difíceis e penosos da vida.

Já para fazer uma auto-avaliação honesta, é preciso ter a capacidade de descobrir e aceitar as forças e fraquezas presentes em nós e nos outros, seja nos superiores, pares ou subordinados. O argumento para isso é que a capacidade de dirigir e orientar a si próprio para metas com a consciência de suas virtudes e não-virtudes se mostra fundamental para quem quer orientar organizações, que se tornam cada vez mais complexas.

Você mencionou também a necessidade de ter uma perspectiva de tempo e saber aproveitar criativamente as experiências. O que vêm a ser esses atributos?

A perspectiva de tempo tem a ver com saber avaliar o presente em relação ao passado e ao futuro, identificando tendências que ainda não são evidentes. É preciso saber fazer isso com rapidez e prontidão, porque a cada momento se apresentam milhares de oportunidades, das quais apenas uma poderá ser escolhida e transformada em realidade.

Sobre o aproveitamento criativo das experiências, eu me referi à capacidade de descobrir novidades mesmo em experiências que se repetem e, principalmente, nos erros cometidos, os quais devem sempre levar em consideração a necessidade de avaliar genuinamente os próprios interesses e os dos outros.

E como funciona o processo de prioridades?

Um líder apenas poderá suportar os conflitos de valores no dia-a-dia, no contexto de suas múltiplas responsabilidades perante os outros, se seus próprios valores estiverem claramente identificados, e também estiver compreendida a importância relativa entre cada um deles. É o que significa ter um processo individual de prioridades pessoais. Esse processo funciona como uma bússola existencial para determinação do curso adequado para as ações e decisões pessoais.

Agora, algo que me surpreendeu foi a necessidade de meditar. Já imaginei os executivos de terno sentados em posição de iogues no escritório entoando mantras. É isso?

Esse é outro "pré-conceito" que precisa ser mudado e essa questão sempre assusta alguns mesmo. Essa prática desenvolve nas pessoas a vontade, no sentido de fazer algo que ninguém cobrará delas ou as obrigará a fazer. É um compromisso ou um hábito que elas vão assumir para si mesmas no sentido de auto-reflexão e polimento de sua essência como ser humano. É importante também ressaltar que idéias realmente criativas não se apanham no ar e dificilmente durante o curso das tarefas diárias. É preciso criar tempo para refletir, analisar profundamente as experiências, a fim de deixar espaço para que nasça algo novo que seja imaginativo, inspirador e intuitivo não só para o líder, mas também para seus liderados.

Garanto que o líder que incorpora em seu jeito de ser o hábito de meditar sofre menos conflitos de valores. Ao meditar, forças que não imaginava são disponibilizadas para encorajá-lo nas situações e ações em que perderia a liberdade de agir. Quanto ao modo de meditar, cada um escolhe aquele com que mais se identifica: sempre vale a pena, qualquer que seja a tradição filosófica ou religiosa.

Claro, eu estava brincando: eu medito de vez em quando e sei que é algo que nos faz muito bem. E quanto ao "profundo amor pelas pessoas"? Como o chefe que puxa o tapete do subordinado hoje vai amá-lo amanhã?

Pois esse amor é essencial. Nenhum atributo marca tão profundamente um líder quanto este. Ele deve utilizar o amor em seu sentido maior. Não estou falando de o líder ser "bonzinho", veja bem, e sim de ele fazer o que precisa ser feito tendo o amor como fonte de motivação e de vínculo com o mundo, por meio de sentimentos de identidade, integridade, veneração e gratidão.

Quanto a "puxar o tapete", é um sintoma no mínimo de amoralidade, para não dizer antiético. O líder verdadeiro não compactua com quem faz isso, não age assim e não estimula esse tipo de comportamento, pois, se "puxar o tapete", está prejudicando a si mesmo, antes de tudo.

Em que medida esse comportamento difere do adotado pelos líderes do passado recente?

Os líderes dos anos 70, 80, 90 eram mobilizados mais para ações e situações voltadas para aspectos quantitativos do que qualitativos. Hoje os aspectos quantitativos já são, de certa maneira, garantidos ou potencializados pelo avanço da tecnologia e pela incorporação de metodologias de gestão voltadas para a melhoria contínua. O conhecimento técnico era privilegiado - e tinha uma duração muito maior do que tem hoje. Nos tempos atuais, você compra conhecimento técnico, já virou commodity. O que importa é ter habilidades sociais e lidar com aspectos qualitativos. Até porque o nível cultural e o de consciência dos subordinados são muito maiores. O mesmo acontece com pais e filhos de hoje, basta notar.

Esses atributos fazem parte de algum sistema filosófico ou religioso específico?

Se formos à origem de todas as grandes religiões ou sistemas filosóficos, vamos encontrar quase que sempre a mesma essência: a apologia, e a permanente busca, da integridade, do livre-arbítrio, da verdade, da beleza, da bondade, da fraternidade, da igualdade, da liberdade, do respeito à vida, da honestidade, da ética, da moral, de ações conscientes no dia-a-dia e do amor em seu sentido mais nobre. São quase que atributos ou características eternas que dão sentido e significado a nossas questões mais existenciais. Nesse sentido, a resposta a sua pergunta é sim, eles fazem parte desses sistemas filosóficos ou religiosos.

O alerta a fazer é que isso tem que ser entendido, visto e praticado no âmbito do espaço de liberdade individual de cada um. Caso contrário, corre-se o risco de termos líderes fundamentalistas, manipuladores, que continuarão a repetir o passado.

Quais seriam exatamente os benefícios decorrentes de posturas como essas?

Líderes que perseguem esses atributos com consciência chegam a decisões mais criativas e com confiança. São intuitivos sem esquecer a razão. São capazes de lidar com conflitos e paradoxos de forma natural e com os aspectos intangíveis que se apresentam em todas as situações. Aceitam o que talvez ainda não possa ser compreendido ou controlado. Trabalham com as contingências de forma criativa e aceitam também o fato de que um ser humano não recebe de presente, nem tem inato, suficiente discernimento para conciliar seus valores pessoais com as práticas da vida empresarial.

É possível mesmo agir dessa forma no dia-a-dia, com todas as pressões a que somos submetidos?

É bem difícil, claro! Mas, como seres humanos, somos imperfeitos e podemos sempre melhorar. Em termos espirituais, essa é a grande aventura! A aventura definitiva, diria eu. O importante é tentar sempre, mesmo quando você sabe que seus ideais não poderão ser atingidos.

Nesse caminho do desenvolvimento interior, o importante não é o resultado, e sim o processo. O esforço que despendemos para caminhar nessa direção torna nossa alma mais acordada, mais presente e com uma visão ampliada.

Soa meio místico isso de desenvolvimento interior, não?

Não tem nada a ver com misticismo! É um caminho consciente de auto-educação, autodesenvolvimento e autocondução a partir da própria essência espiritual de cada um. Se você busca isso com boa fé, consciência e genuíno interesse, o risco de "viajar na maionese" não existe.

Como é o processo de desenvolvimento interior, rumo a essa liderança espiritualizada?

Basicamente o processo inclui os seguintes aspectos:

1) Fortalecer o pensar para compreender os fenômenos do mundo;
2) Fortalecer o sentir para julgar com certeza o que é justo;
3) Fortalecer o querer para interferir com coragem na vida.

A condição básica para um caminho interior é o cultivo de um sentimento de devoção à verdade, à sabedoria, à vida. Quem teve a sorte de poder cultivar esse sentimento quando criança tem enorme vantagem sobre quem não teve essa sorte.

Infelizmente, vivemos numa época em que as possibilidades de cultivar o sentimento de devoção são cada vez mais difíceis de ser encontradas. Nossa época dá muito mais ênfase à crítica e ao julgamento negativo do que ao cultivo de um sentimento de devoção.

As palavras "devoção", "devoto" até são malvistas em determinados círculos...

Sim, mas acho que as aulas de ecologia nas escolas podem resgatar o sentimento de devoção perante a sabedoria existente na natureza, por exemplo. Podemos afirmar que, quanto mais eu consigo me aprofundar no sentimento da devoção, tanto mais eu sou capaz de erguer a cabeça acima das mazelas da vida diária e aí me aproximar da liderança espiritualizada.

Outra condição básica para qualquer processo de autodesenvolvimento espiritual é a calma interior. Para ela, contribui muito a opção pelo processo meditativo.

Faça uma sugestão prática de como pode ser esse processo, por favor.

Podemos criar momentos de silêncio interior, não mais do que cinco minutos por dia, em que tentamos diferenciar o importante do corriqueiro. É quando podemos conscientemente olhar para o nosso pensar, sentir e querer nas ações do dia-a-dia como se fôssemos uma pessoa de fora, estranha a nós mesmos. É quando invocamos o eu superior, que é portador de uma sabedoria eterna.

Quem consegue se autodisciplinar para essa prática percebe um poderoso efeito positivo no sentido de maior certeza interior de condução da vida e das situações do dia-a-dia.

Então, meditar de vez em quando, como eu faço, não basta. Precisa haver regularidade?

Sim, o mais importante é a regularidade do exercício, não sua duração. Se você praticou cem vezes e desistiu, talvez seja na 101ª vez que aparecerá o que você procura. Essa é a recomendação.

Mas isso é meditação mesmo? Meditar não significa esvaziar a mente por completo?

Como disse, é importante buscar a metodologia que mais atende você. Disciplinar-se rotineiramente para parar e refletir sobre suas ações no dia-a-dia sem cair na armadilha de se envolver de novo na situação que você evocou já é um grande esforço de domínio do seu pensar, do seu sentir e da sua vontade. Nesse caminho, chegar ao esvaziamento da mente não é muito difícil.

Quais são os efeitos disso?

Após algumas semanas já sentiremos grande transformação interior. Nossa maneira de se comportar e de agir se torna mais calma e mais segura. Imprevistos já não conseguem mais nos atropelar interiormente.

Como se pode reconhecer uma empresa espiritualizada, com líderes espiritualizados?

A espiritualidade é um caminho, acredito que nunca se chega lá. Veja as empresas que não aparecem ou aparecem pouco na mídia, mas são estáveis, com crescimento contínuo, com lideranças que falam apenas quando indagadas, que têm programas de sustentabilidade ou de responsabilidade social desvinculados de marketing institucional ou vinculados apenas por razões plausíveis. Observe as que em sua história registram ações a favor da ética e não do meio-termo; onde existem personagens vivos ou mortos que se perpetuam por meio de histórias reais em que os exemplos de retidão e caráter de suas lideranças-chave foram desafiados e confirmados, onde os funcionários têm orgulho de dizer o que produzem etc.

Já uma empresa que alardeia sua espiritualidade não é uma empresa que entendeu isso em seu contexto mais sutil.

Para finalizar: qual é a importância disso tudo na cultura empresarial brasileira? Somos um povo particularmente espiritualizado, não? Não tem um jogador de futebol brasileiro, por exemplo, que não faça o sinal da cruz em campo...

A "alma brasileira", como expressão de nossa identidade, com certeza é mais aberta ao tema da espiritualidade do que outras culturas, sim. Em contatos com consultores internacionais, vemos que eles ficam admirados com a forma com que tratamos esse assunto aqui.

Há 30 anos trabalho com esses conceitos no contexto empresarial, e sempre com muita demanda. Temos na Adigo um programa de formação de líderes que leva em consideração conceitos dessa natureza e já está em sua 72ª edição, com carga horária de 220 horas, quase um MBA, e está sempre lotado. Temos também um programa de aprofundamento desses conceitos de quase 400 horas que está em sua 6ª turma. Temos feito programas fechados dessa natureza em muitas empresas e programas abertos em diversas regiões do país. Acredito que isso pode ser um indicativo da receptividade desses conceitos em nosso meio. Mas, a meu ver, há ainda um caminho longo a ser percorrido.









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terça-feira, 24 de junho de 2008

Prece de Cáritas - Na Voz de Alziro Zarur




Prece de Cáritas

Na Voz de Alziro Zarur



(dê dois cliques na seta acima - duração 03:29 minutos)













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domingo, 18 de maio de 2008

Dias de Sombra (Joanna de Ângelis e Divaldo Pereira Franco)




Contribuição de Wagner Borges


Dias de Sombra


Coincidentemente, há dias que se caracterizam pela sucessão de ocorrências desagradáveis. Nada parece dar certo. Todas as atividades se confundem e os fatos se apresentam deprimentes, perturbadores.

A cada nova tentativa de ação, outros insucessos ocorrem, como se os fenômenos naturais transcorressem de forma contrária. Nessas ocasiões as contrariedades aumentam e o pessimismo se instala nas mentes e nas emoções, levando-as a lembranças negativas com presságios deprimentes.

Quem lhe padece a injunção tende ao desânimo e refugia-se em padrões psicológicos de auto-aflição, de infelicidade, de desprezo por si mesmo. Sente-se sitiado por forças descomunais, contra as quais não pode lutar, deixando-se arrastar pelas correntes contrárias, envenenando-se com o mau humor.

São esses, dias de provas, e não para desencanto; de desafio, e não para a cessação do esforço.

Quando recrudescem as dificuldades, maior deve ser o investimento de energias, e mais cuidadosa a aplicação do valor moral na batalha.

Desistindo-se sem lutar, mais rápido se dá o fracasso, e quando se vai ao enfrentamento com idéias de perda, parte do labor já está perdido.

Nesses dias sombrios, que acontecem periodicamente, e às vezes se tornam contínuos, vigia mais e reflexiona com cuidado. Um insucesso é normal, ou mesmo mais de um, num campo de variadas atividades.
Todavia, a intérmina sucessão deles pode ter gênese em fatores espirituais perniciosos, cujas personagens se interessam em prejudicar-te, abrindo espaços mentais e emocionais para intercâmbio nefasto contigo, de caráter obsessivo.

Quanto mais te irritares e te entregares à depressão, mais forte se te fará o cerco e mais ocorrências infelizes tomarão forma. Não te debatas até a exaustão, nadando contra a correnteza. Vence-lhe o fluxo, contornando a direção das águas velozes.

Há mentes espirituais maldosas, que te acompanham, interessadas no teu fracasso. Reage-lhes à insídia mediante a oração, o pensamento otimista, a irrestrita confiança em Deus.

Rompe o moto-contínuo dos desacertos, mudando de paisagem mental, de forma que não vitalizes o agente perturbador.
Ouve uma música enriquecedora, que te leve a reminiscências agradáveis ou a planificações animadores. Lê uma página edificante do Evangelho ou de outra Obra de conteúdo nobre, a fim de te renovares emocionalmente.

Afasta-te do bulício e repousa; contempla uma região que te arranque do estado desanimador. Pensa no teu futuro ditoso, que te aguarda. Eleva-te a Deus com unção e romperás as cadeias da aflição.

Há sempre Sol brilhando além das nuvens sombrias, e, quando ele é colocado no mundo íntimo, nenhuma ameaça de trevas consegue apagar-lhe, ou sequer diminuir-lhe a intensidade da luz. Segue-lhe a claridade e vence o teu dia de insucessos, confiante e tranqüilo.


Joanna de Ângelis - Recebido espiritualmente por Divaldo Pereira Franco.
Texto extraído do livro "Momentos de Saúde"; Editora Livraria Espírita Alvorada.














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quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Por uma Medicina Espiritual - Uma vida mais plena, saudável e com novos significados



Por uma Medicina Espiritual
Liane Alves - Revista Bons Fluidos - Novembro de 2007

http://bonsfluidos.abril.com.br/livre/edicoes/0103/05/05.shtml


O doutor Pema Dorjee, especialista de medicina tibetana, esteve no Brasil em setembro para ensinar que a saúde não é só uma questão do corpo. Suas idéias podem auxiliar a todos no encontro de uma vida mais plena, saudável e com novos significados.


Ele tem um olhar firme e um aperto de mão generoso. Sua voz clara e seus conceitos revolucionários causaram impacto nos ouvintes atentos, que durante cinco dias acompanharam sua visão sobre o desenvolvimento de doenças e a recuperação da saúde. "Sempre quis conhecer o Brasil. É um prazer estar aqui", diz. Autor de vários livros, como o recente Spiritual Medicine of Tibet (sem tradução para o português), hoje ele atua como conselheiro de pesquisa do Instituto Médico Tibetano, em Dharamsala, Índia. Sua vinda teve o apoio da Associação Palas Athena e resulta da carta de intenção assinada entre o reitor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e o Dalai-lama, quando esse último visitou o país no ano passado. Vale a pena conhecer um pouco do que a medicina inspira da no budismo tem a nos ensinar.






A DOENÇA SURGE PORQUE IGNORAMOS COMO A VIDA REALMENTE É



Segundo a medicina tibetana, há um modo distorcido de compreender a realidade. É uma ignorância, que caracteriza todos os seres humanos. Não compreendemos o que é a vida ou quem somos. Para escapar dessa falsa visão do mundo, precisamos saber o que nos prende ao sofrimento. Idéias errôneas podem nos fazer sofrer tanto que acabam por conduzir a estados de completo desequilíbrio mental, energético e físico.






A IGNORÂNCIA GERA VENENOS




O estado de não-compreensão dá origem a três sofrimentos, ou venenos, que podem causar desequilíbrios físicos, energéticos e mentais.



1. A primeira condição que nos leva ao sofrimento é o apego. Nasce basicamente de nosso olhar: vemos algo e imediatamente o desejamos. Se ansiarmos muito, vamos fazer de tudo para obter aquilo, e o estresse causado por isso é incrível. Além do mais, a frustração e a insatisfação gerada por não conseguir o que queremos também ocasionam o sofrimento e, com base nele, várias doenças. Todo um conjunto de sintomas pode ser identificado como excesso de apego. Na iconografia tibetana, o apego é representado por uma serpente animal que pode ser magnetizado por objeto ou som.



2. O segundo veneno, ou condição de sofrimento, é a raiva. Ela se manifesta quando sentimos nosso território invadido, quando somos insultados ou quando achamos que perderemos algo. O problema não é sentir um pouco de raiva de vez em quando, mas reagir com raiva e agressividade à maioria dos estímulos ou, pior, engolir a raiva. É importante identificar por que a sentimos, de onde surge. O animal que mais simboliza a raiva e a agressividade, segundo os tibetanos, é o galo.



3. O terceiro veneno é a estreiteza mental. Os tibetanos simbolizam a estreiteza mental por um porco, o animal que se chafurda no chão e que não tem horizontes amplos. Como no caso da raiva e do apego, todo um conjunto de doenças pode ser detonado por essa característica.






OS VENENOS ATINGEM OS TRÊS TIPOS HUMANOS DE MODO DIVERSO



Para a medicina tibetana, existem três tipos básicos de ser humano. Eles normalmente são associados a animais ou a elementos da natureza para a melhor compreensão de suas características.



1. O primeiro tipo é agitado, ágil, instável, fala muito, tem o pensamento rápido e pode ser ansioso. Como as aves e os macacos, não consegue parar quieto. Está associado ao elemento ar e aos ventos – ou correntes de energia interna que atravessam o corpo sutil – e aos pulmões. Esse tipo humano é particularmente sensível ao apego e às doenças ocasionadas por ele (basicamente, são doenças mentais ou relacionadas ao sistema nervoso). Isso não quer dizer que não possa ter outras doenças ou ser afetado por outro tipo de emoção.



2. O segundo tipo está relacionado à raiva e ao elemento fogo. É altamente inflamável, agressivo, irritável, vem associado aos grandes felinos, como tigres e leões. Também está ligado à bílis, secreção da vesícula, e ao fígado, seus pontos fracos, como também o coração. São sensíveis às infecções.



3. O terceiro é mais tranqüilo: reage com lentidão e pensa devagar. A incapacidade de ver uma situação com clareza é seu problema. Portanto, esse temperamento está relacionado à mente presa a detalhes e sem grandes horizontes. Também está ligado ao elemento terra, ao estômago e à fleuma. Os elefantes e os búfalos simbolizam esse tipo de pessoa. São mais sensíveis às intoxicações e aos tumores (que, para a medicina tibetana, não passam da solidificação de toxinas). Como na medicina aiurvédica, uma pessoa pode apresentar um elemento predominante ou ser uma composição de dois tipos.






TRÊS ANTÍDOTOS


Para contrabalançar nossa tendência natural e neutralizar os venenos, existem maneiras de enfrentá-los.



1. Para os apegados, a melhor solução é aprender a se desgrudar da situação. E o maior argumento para isso, de acordo com o budismo, é a compreensão de que a vida é uma dança eterna, que muda o tempo todo, e é impossível querer fixá-la ao nosso gosto e prazer. Em outras palavras, reconhecer que a existência é impermanente e mutável. Uma pessoa pode querer muito alguma coisa ou alguém, mas a vida (ou o carma) pode não lhe permitir. Para transformar os desejos obsessivos, a medicina tibetana fala da importância de reconhecer as energias em jogo e relativizar as coisas. Esse novo olhar pode nos tornar mais maleáveis.



2. Para a raiva, é preciso suavizar (ou neutralizar de vez) a noção de posse – o discurso do eu, meu, minha. Enfim, o ideal é abrandar a força do ego, o grande motivador do temperamento agressivo. Os ensinamentos de Buda afirmam que tudo na vida se interliga como numa grande rede e se o ego puxa mais de um lado, quem sofre é ele mesmo. Diz a tradição budista que vivemos numa caixa, a caixa das percepções errôneas (o mundo de maia, ou ilusão). Pensamos que somos separados um do outro e queremos agir independentemente, sem considerar o conjunto. Seria como uma célula que resolvesse reagir por si só, ignorando o sistema (o corpo humano) que a alimenta. E o budismo vai além: diz que a realidade é virtual, só tem existência relativa, como um sonho. Por quê, então, querer garantir o que é seu e defender tanto o seu eu se ele nada mais é do que... um sonho?



3. Para a mente tacanha, a grande indicação é ampliar o horizonte com conhecimento e sabedoria. Os budistas chamam esse conjunto de ensinamentos de darma. Embora o darma seja útil para qualquer um dos venenos, a mente estreita é o que mais se beneficia deles.






ALIMENTOS ADEQUADOS A CADA TIPO


Todos os seres humanos têm os três temperamentos (denominados ventos – ou correntes de energia –, bílis e fleuma), embora um ou outro se manifeste mais intensamente. Para equilibrá-los, é preciso adequar a alimentação aos tipos.



1. Quem manifesta mais as características do sistema relativo ao elemento ar deve evitar as frituras. Desenvolver atividades que acalmam e estimulam a concentração.



2. Os mais agressivos devem evitar alimentos quentes (condimentados), assim como exercícios intensos, que aumentam o elemento fogo.



3. Os doces não são recomendados aos tipos ligados ao elemento terra, embora gostem muito deles. Exercícios e esportes podem equilibrar sua tendência em se tornar demasiadamente sedentários ou obesos.







PARA UMA VIDA MELHOR



A boa digestão precisa de comida quente. O excesso de comida fria (saladas, sanduíches frios, alimentos crus) dificulta o metabolismo e, com isso, mais toxinas podem ir para o sangue. É bom acompanhar uma comida fria com algo quente e evitar comer saladas à noite, quando o corpo pede algo que aqueça e conforte. O doutor Dorjee também aconselha esperar que a digestão de uma refeição se complete antes de ingerir outros alimentos. Se na digestão de um alimento ingerimos algo, o processo começa de novo e o alimento anterior não é bem assimilado. O médico também recomenda não misturar certos alimentos. Por exemplo: evite tomar um copo de leite e, 15 minutos depois, um chá com limão. Outro cuidado: carne e queijo também não se harmonizam. Conhecer esses alimentos antagônicos é uma chave para encontrar a saúde.







POR QUE SER SAUDÁVEL E TER VIDA LONGA?



Nessa medicina espiritual, não se é saudável apenas para si. Há uma razão maior: diz respeito a praticar o bem, o darma cotidiano, ao aprofundamento espiritual para beneficiar todos os seres (o darma sagrado). Diz o doutor Dorjee que toda tradição espiritual também tem seu conjunto de darma, tanto o cotidiano como o sagrado, e que ensinamentos éticos e espirituais podem ser encontrados em qualquer religião.








quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Cuidar do espírito já faz parte do novo modelo de profissional



Cuidar do espírito já faz parte do novo modelo de profissional
Fátima Cardeal - Canal Rh - 24 de outubro de 2007
http://www.canalrh.com.br/Mundos/


Taxa de felicidade, capital humano e ambiente humanista são termos positivos que dominam a cena das empresas hoje. A geração de profissionais dos anos 2000 ressalta a busca pelo equilíbrio espiritual, assim como a obsessão pelo trabalho marcou os workhalokCanal Rh, isso nos anos 90. Se um workaholic tinha de fingir numa entrevista que a vida lá fora não existia, o trabalho era tudo e os fins justificavam os meios, agora pega muito mal usar esse discurso, segundo a head-hunter Madalena Marques, sócia-diretora da empresa de consultoria em recursos humanos Pró-RH. “As empresas querem executivos equilibrados não só na profissão. Para ser eficiente, é preciso ser bem resolvido na vida, se não, o que ele deixou lá fora começa a interferir na criatividade e na produção”.

A turma dos chamados executivos espirituais se dedica muito ao trabalho e persegue os lucros mas não coloca os negócios acima dos próprios princípios, embora, segundo Madalena, até aceite sacrificar a felicidade uma ou outra vez.

Também ao contrário dos yuppies, esses executivos não podem ser reconhecidos por um visual, porque o que eles carregam são princípios só possíveis de serem mostrados na convivência diária com as outras pessoas. Num cenário em que qualidade de vida virou objetivo maior, há de se suspeitar que tal postura seja mais um discurso de marketing ou porta aberta para oportunistas atrás de dinheiro e fama fáceis.

“Claro que há coisas ruins”, diz Alexandre Caldini, diretor-superintendente da Unidade de Negócios e Tecnologia, da Editora Abril. “A demanda é grande e surgiram muitas ofertas. Mas as pessoas sabem separar o que é valor e o que é oportunismo. Se a atitude da pessoa não for sincera, ele mesmo se denuncia, porque tem a ver com a forma de tratar as pessoas, com atitudes, gestos, demonstrações de sentimentos”.

Caldini entrou para o mundo das palestras sobre espiritualidade no trabalho quase por acaso e vem lotando auditórios não só na sua empresa mas também em federações como a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), companhias como Credicard e Roche, colégios e até clubes. Tudo começou quando o RH da Abril o convidou para um ciclo de apresentações em que um funcionário fala para os demais sobre um tema que domine. “Como sou espírita e homem de negócios, resolvi juntar as duas coisas e montei a palestra Espiritualidade nas Organizações . Não tinha a menor idéia da aceitação, mas foi boa e, desde então, eu sou chamado para falar em vários locais”.



Ambiente insuportável

Caldini não é palestrante profissional, muito menos quer converter colegas e funcionários ao espiritismo. Ele acha que a receptividade a movimentos como o que vem ajudando a fortalecer é boa porque o ambiente de trabalho se tornou insuportável, a ponto de muitos não conseguirem sobreviver nele. “As pessoas se tocaram de que é preciso mudar, senão elas vão explodir junto com as empresas”, diz.

A palestra de Caldini trata de temas aparentemente simples mas, segundo ele, que fazem toda a diferença. Por exemplo, ele fala do poder de transformação de um elogio sincero a um colega de trabalho. “São valores, atitudes, gentilezas, a forma de tratar os pares com educação, seja um cliente, um acionista, um funcionário. Digo que um gerente não precisa ser duro, ele pode envolver e influenciar ainda mais a equipe se for meigo. Educação e respeito têm de ser praticados sempre e já foi provado que isso reflete em maior rentabilidade, porque num ambiente de harmonia as pessoas têm mais prazer em produzir e, conseqüentemente, trazem mais lucros”.

Gustavo Boog, consultor, terapeuta organizacional e autor da coleção de livros Espiritualidade no Trabalho, defende que tais valores só vão se traduzir em lucros se houver o comprometimento da presidência da corporação. “Para a espiritualidade no trabalho aperfeiçoar o desempenho de uma companhia, ela depende da iniciativa e dos valores do presidente e do treinamento de superiores”, explica Boog.

Os altos níveis hierárquicos, segundo Caldini, não descem aos auditórios para ouvirem palestras sobre o tema. “O mais comum é a média gerência. Da alta só vai quem tem uma visão espírita, porque isso ainda não cabe no modelo de gestão que eles aprenderam lá em cima. A pessoa faz a seguinte análise: ‘Se eu amolecer, eu vou perder’”.

Para Antônio Botelho, consultor sênior da Watson Wyatt, essa mentalidade também já está mudando no andar de cima, especialmente nas grandes empresas. “Eu converso com empresários o tempo todo e eles estão mais humanos, falam mais de si, das pessoas que amam, preocupam-se com o bem-estar dos funcionários”, diz Botelho.

Apesar de defender mais o comprometimento do dono da empresa, Boog lembra que é de cada empregado, independentemente do nível, a responsabilidade de dar propósito e valor ao seu cargo e não enxergá-lo apenas como fonte de renda. “O empregado tem de se conhecer e se respeitar. Os propósitos da empresa e sua missão devem coincidir com propósitos pessoais, não ofendendo suas crenças e seus valores morais. Às vezes, os valores não batem e, aos poucos, o dia a dia do empregado numa companhia passa a ser um inferno”.



Movimento mundial

O resgate da espiritualidade dentro das empresas vem sendo objeto de análises em todo o mundo nos últimos anos. Não está relacionado com força religiosa porque não origina de um líder, uma seita, uma igreja e pode ter ou não relação com Deus ou outra divindade, mas o mais importante é encaixar o trabalho dentro de um propósito maior de vida. Definido como um movimento social genuíno, alguns estudiosos afirmam que ele passou a modelar a cultura corporativa depois do 11 de setembro, quando as explosões das torres do World Trade Center levaram o mundo a refletir sobre um sentido maior para a vida.



Algumas dicas para refletir:

“O líder espiritualizado compreende que está ali para servir, não para ser servido”, Alexandre Caldini

“Quando perceber que está para praticar alguma ação diante de qualquer situação ou pessoa repare no sentimento que está antecedendo a ação. Não ignore esse sentimento, pois ele lhe dará as pistas para o autoconhecimento. Acompanhe-o e descubra por que ele está presente”, Silvio Corrêa

“Não existe caminho para a felicidade. A felicidade é o próprio caminho”, Mahatma Ghandhi










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