Segundo José Saramago, "George Bush  expulsou a verdade do mundo para, em seu lugar, fazer frutificar a idade da  mentira". Uma retrospectiva dos anos Bush talvez nos ajude a compreender com  mais clareza o que essa era representou para o mundo.
 
 
 
 
George Walker Bush é aquilo que o  "american way of life" reconhece como um "winner".
 
O 43º presidente dos Estados Unidos  nasceu em 06 de julho de 1946. Graduado em História em Yale e com MBA pela  Harvard Business School, da conceituada Harvard University, primeiro venceu na  indústria do petróleo.
 
Em 1977 criou a Arbusto Energy, uma  companhia de exploração de petróleo e gás. Em 1982 mudou o nome da empresa para  Bush Exploration Oil & Gas Company, depois da quinta crise internacional do  petróleo (1979), e a vendeu em 1984 à Spectrum 7, que faliu em  1985.
 
Pelo contrato, Bush assumiu como diretor  da Spectrum, ainda antes de sua falência. Foi isso que permitiu que, com o  resgate dessa empresa, em 1986, pela Harken Energy Corp., Bush assumisse como um  de seus diretores.
 
Em 1991, quando participava do Conselho  Diretor dessa empresa, foi acusado de usar informações sigilosas em benefício  próprio. Logo depois que vendeu suas ações, a Harken registrou um prejuízo de  23,2 milhões de dólares no trimestre. Seus detratores alegaram que a  investigação federal que avaliou sua conduta teria sido influenciada diretamente  pelo seu pai, George H. W. Bush, então presidente dos EUA.
 
Foi eleito duas vezes governador do  Texas, em 1994 e 1998. Venceu sua primeira eleição presidencial em 2000, ao  derrotar o democrata Al Gore, e foi reeleito em 2004, ao superar o também  democrata John Kerry.
 
Sua primeira vitória ainda hoje causa  discussão, bem como a validade dos votos que o elegeram. Superou por apenas 5  votos, no Colégio Eleitoral, o democrata Al Gore, embora o então vice-presidente  dos EUA tenha recebido 500 mil votos a mais do que Bush na eleição  direta.
 
Coincidentemente, os votos que  decretaram sua vitória foram obtidos na Flórida, estado então governado por seu  irmão, Jeb Bush...
 
 
"É meu dever libertar  pessoas"
 
Um dos mais impopulares presidentes  estadunidenses de todos os tempos começou sua administração, a bem da verdade,  sob fogo cerrado.
 
Bush, porém, soube tirar proveito disso.  Sua postura diante dos ataques de 11 de setembro de 2001 elevaram seus índices  de aprovação a mais de 90%, uma marca histórica.
 
Porém, ao recorrer aos pilares da  cultura estadunidense - tradição, família, propriedade, liberdade e o velho e  bom self-made -, e discursando em nome de um fundamentalismo que, na prática,  renegava tudo o que uma religião poderia ter de bom, mal sabia Bush que sua  empáfia mergulharia os EUA num dos maiores atoleiros morais de sua história  recente.
 
Na "Sessão Conjunta do Congresso e do  Povo Americano", logo após os atentados do onze de setembro, a palavra "cruzada"  pôde ser ouvida em seu discurso.
 
Fez-se um lúgubre silêncio no mundo.  Ninguém imaginava que uma liderança internacional, ao menos em sã consciência,  assumisse o discurso do "choque de civilizações".
 
Porém, o estrago estava  feito.
 
Islâmicos de todo o mundo apontaram o  caráter de "Guerra Santa" presente no discurso estadunidense. Feridas medievais,  cicatrizadas após séculos de esforços em nome da convivência pacífica entre  ocidente e oriente, irromperam por conta de uma retórica maniqueísta, que via na  reação estadunidense a realização plena da eterna luta do bem contra o  mal.
 
A espada da justiça divina havia sido  depositada em suas mãos. Sua missão era a realização da vontade de Deus. "É meu  dever libertar pessoas", teria dito George Bush.
 
Décadas de secularismo foram  imediatamente destroçadas, enquanto quase se ouviam, ao longe, as trombetas dos  sete anjos, anunciando o Juízo Final.
 
 
A "Guerra contra o  Terrorismo"
 
Sua "Guerra contra o Terrorismo" e  contra o "Eixo do Mal" começou no Afeganistão, onde supostamente operariam Osama  Bin Laden e sua Al-Qaeda, apontados como autores dos atentados do onze de  setembro.
 
O governo talibã foi deposto e o  presidente exilado, Burhanuddin Rabbani, reempossado. Contando com a ajuda de  forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), questionada por  lideranças internacionais, os EUA jamais controlaram o país  asiático.
 
Chefiados por um governo especial  interino, que artificialmente tenta unificar etnias que divergem do que comer a  maneira de se vestir, os afegãos vivem o caos.
 
Milhares de vítimas colaterais depois,  os EUA disfarçam seu fracasso concentrando suas forças ao redor da capital  afegã, Cabul, enquanto recente relatório do Conselho Internacional sobre  Segurança e Desenvolvimento afirma que os Talibãs já controlam 72% do  Afeganistão e três das quatro principais vias de acesso à capital afegã. Em  numerosas vilas e cidades ao sul, afirma o relatório, o Talibã continua sendo o  único poder.
 
Ainda assim, os EUA planejam enviar até  20 mil homens para o Afeganistão, no início do ano que vem. Talvez para ajudarem  nas plantações de papoula, de onde se extrai o ópio, umas das principais fontes  de renda dos aliados estadunidenses no país.
 
Em fevereiro de 2003, convencido de que  o governo iraquiano tinha ligações com a Al-Qaeda desde o atentado do onze de  setembro, e munido de um relatório de inteligência que apontava a existência de  armas de destruição em massa no Iraque, George Bush pediu ao Conselho de  Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) autorização para o uso  preventivo da força, que lhe foi negada. Bush, depois disso, recusou-se a propor  uma segunda resolução à ONU.
 
"Pela paz do mundo e pelo bem e  liberdade do povo iraquiano, dou a ordem para executar a Operação Liberdade  Iraquiana. Que Deus abençoe as tropas", teria dito Bush ao jornalista Bob  Woodward.
 
No mês seguinte, mais uma vez os céus de  Bagdá escureceram.
 
George Bush rezou logo após a decisão de  desencadear a operação Liberdade Iraquiana. "(...) para ser o mais possível um  bom mensageiro da vontade de Deus", teria dito.
 
Nove meses depois, Saddam Hussein seria  preso. Três anos depois, em dezembro de 2006, seria executado por enforcamento,  após condenação por genocídio, por um tribunal iraquiano comandado politicamente  pelos EUA.
 
Ainda em 2003, o vice-secretário da  Defesa dos EUA havia afirmado que "nadar em petróleo" teria sido a principal  razão para a invasão do Iraque. "No caso do Iraque, economicamente falando, nós  simplesmente não tínhamos escolha. O país [Iraque] nada em um mar de petróleo",  teria dito Paul Wolfowitz.
 
Em outra polêmica declaração, o mesmo  Wolfowitz afirmou que foi somente "por razões que estão muito ligadas à  burocracia do governo dos EUA", que George Bush e seus falcões estabeleceram  "como ponto principal algo com que todos poderiam concordar: armas de destruição  em massa".
 
Armas de destruição em massa que,  também, nunca existiram. "Muitas agências de inteligência acreditaram que Saddam  Hussein tinha armas de destruição em massa, e é verdade que essa informação se  provou errada", afirmou Bush, ainda em 2005.
 
O presidente, na verdade, eufemizava o  fato dos serviços de inteligência dos EUA terem produzido relatórios falsos e os  apresentado às Nações Unidas, a fim de legitimar o achaque ao petróleo  iraquiano.
 
Tudo isso ocorreu antes de Saddan ser  condenado e executado.
 
Recentemente, Bush defendeu  vigorosamente seus oito anos de intervenções no Oriente Médio, que, segundo suas  palavras, "tornaram a região mais livre que em 2001".
 
De 600 mil a um milhão de iraquianos  morreram e continuam morrendo desde a invasão estadunidense, em 2003. Civis  foram assassinados covardemente por forças mercenárias contratadas para fazer a  segurança dos estadunidenses que lá trabalham e mulheres foram estupradas.  Embora os conflitos internos entre sunitas e xiitas sejam agora menos  freqüentes, jamais recrudesceram tanto quanto durante os anos de ocupação. O  Líbano, recentemente, quase foi varrido por Israel, que continua fazendo do  território palestino campo de testes para armamentos experimentais, com o apoio  dos EUA.
 
 
"Yes, we can"
 
Tão logo trombeteou sua Guerra Santa,  George Bush obteve, do Congresso estadunidense, a autorização para manter sob  custódia, por tempo intederminado e sem acusação legal, suspeitos de "terrorismo  internacional".
 
O "Patriot Act" também autorizava o  governo a espionar cidadãos estadunidenses, mas foram os estrangeiros que  pagaram o pato.
 
Muitos dos 250 prisioneiros de  Guantánamo, prisão estadunidense em território cubano, não foram formalmente  indiciados. Oriundos de países como o Afeganistão e Arábia Saudita, aguardam a  hora de seus julgamentos pelos tribunais militares especiais de George Bush,  criados a fim de julgar suspeitos de terrorismo internacional ligados a  organizações como a Al-Qaeda. Eles são chamados de "combatentes  inimigos".
 
Residentes nos Estados Unidos que não  são seus cidadãos também estão sujeitos aos tribunais militares especiais. Esse  é o caso de Ali al-Marri, nascido no Catar, que está em confinamento solitário  desde 2003 em um navio da marinha dos EUA, na Carolina do Sul. A Suprema Corte  dos EUA vai se manifestar sobre seu caso.
 
Assim como Guantánamo, Abu-Ghraib também  é uma prisão estadunidense onde permanecem detidos prisioneiros sem acusação  legal. Ao menos extra-oficialmente, a grande vantagem de um prisioneiro de  Guantánamo, em relação ao seu colega detido em Abu-Ghraib, sempre foi a de que  aquele primeiro somente apanhava, enquanto seu colega detido na prisão iraquiana  poderia, além de ser espancado, ser torturado ou ridicularizado pelos soldados  dos EUA.
 
Isso, porém, até George Bush  democratizar a tortura, ao vetar a legislação apresentada pelo Congresso que  proibia a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) de utilizar  métodos de interrogatório pouco ortodoxos, como a simulação de afogamento. Desde  então, os prisioneiros de Guantánamo passaram a ser oficialmente interrogados  pela CIA de acordo com os legalizados métodos de  investigação.
 
Depois da capitulação do Iraque, George  Bush devotou especial atenção para o Irã, um dos três pilares do chamado "eixo  do mal". O Irã, segundo a Casa Branca, estaria produzindo armas nucleares para  atacar Israel e o Ocidente e colaboraria com a resistência  iraquiana.
 
Em 2006, o secretário de Defesa dos EUA,  Robert Gates, em uma conferência na Espanha, afirmou que a Casa Branca teria  provas sobre o envolvimento do Irã com "rebeldes" iraquianos, eufemismo  estadunidense para designar todo cidadão que resiste à ocupação de seu país por  uma força estrangeira.
 
O Irã, segundo Gates, forneceria armas e  tecnologia para os referidos rebeldes. A resistência iraquiana também seria  patrocinada pelo Hezbollah, por sua vez subvencionado pelos governos do Irã e da  Síria.
 
Essas acusações jamais foram  provadas.
 
Quando o presidente iraniano, Mahmud  Ahmadinejad, condicionou a suspensão de seu programa de enriquecimento de urânio  à suspensão dos programas mantidos por países ocidentais, ouviu de Tony Snow,  porta-voz do fundamentalismo cristão da Casa Branca, a seguinte afirmação: "Você  acha que essa oferta é séria?".
 
Snow tinha muitos motivos para troçar da  proposta de Ahmadinejad. O primeiro deles é que o maior aliado dos EUA no  Oriente Médio, o Estado de Israel, jamais reconheceu publicamente possuir um  arsenal nuclear militar.
 
Israel negou-se terminantemente a  assinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (proposto em 1970 e ratificado em  2002 por 188 países, inclusive o Irã), o que o desobriga de assumir, perante a  comunidade internacional, o status de potência nuclear, condição que o exime de  inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica.
 
Os próprios serviços de inteligência  estadunidenses acabaram desmentido as acusações da Casa Branca de que o Irã  produzia armas nucleares.
 
"Ainda acho que o Irã é perigoso",  respondeu Bush.
 
Sua política de relações internacionais,  depois de estreitar laços com o Afeganistão, com o Iraque e com o Irã, voltou-se  para o leste europeu, o que criou mais um foco de tensão  internacional.
 
O anúncio de que Washington teria planos  de instalar um sistema antimísseis na Polônia e na República Tcheca gerou  imediata reação russa. O chefe do Estado Maior da Rússia, general Yuri  Baluyevsky, afirmou à imprensa que "O disparo de um foguete antimíssil da  Polônia poderia ser considerado pelo sistema automático da Rússia como o  lançamento de um míssil balístico, o que poderia provocar um ataque como  resposta".
 
O projeto de escudo antimísseis dos EUA  no leste europeu prevê a instalação de bases de radares na República Checa e um  sistema de interceptação de mísseis na Polônia. Os acordos com os dois países  europeus foram assinados, respectivamente, em julho e agosto  últimos.
 
A Rússia argumentou que a instalação de  um sistema antimísseis americano no Leste Europeu afeta o equilíbrio militar na  Europa e estimula uma nova corrida armamentista. Washington rebateu dizendo que  o objetivo do sistema será proteger os Estados Unidos e seus aliados na Europa  de ataques de países considerados perigosos, como o Irã.
 
Segundo os próprios serviços de  inteligência da Casa Branca, é bom lembrar, o Irã não produz armas  nucleares.
 
Seu legado ambiental também não é dos  mais honrosos. Bush recusou-se a ratificar o Protocolo de Kyoto, assinado por  seu antecessor, o democrata Bill Clinton. A esse respeito chegou a declarar que  o acordo seria "desleal e inútil", pois deixaria de fora 80% do mundo, além de  causar "sérios prejuízos à economia americana". A administração Bush também  questiona a teoria de que os poluentes emitidos pelo homem causem elevação da  temperatura da Terra.
 
 
"Hay que  endurecer..."
 
As relações da Casa Branca com a América  do Sul não foram nada ternas, na gestão Bush.
 
Porém, o outrora playground político  estadunidense vem diminuindo, não obstante sua crescente presença militar no  continente.
 
A CIA montou em Assunción, durante o  governo (1954-1989) do ditador paraguaio Alfredo Stroessner, uma estação de  espionagem eletrônica e de rastreamento de sinais de rádio. Emissões de rádio de  toda a região sul da América eram monitoradas e utilizadas pelos aparelhos  repressores dos diversos ditadores de plantão de então.
 
Anibal Miranda, especialista em  geopolítica, ainda em 2001 assegurava à imprensa "que a estação ainda funciona,  no prédio da embaixada americana em Assunção".
 
Foi provavelmente graças a esse  monitoramento que os EUA recentemente divulgaram relatório demonstrando  "preocupação" com o terrorismo na Tríplice Fronteira, confluência geográfica  entre Argentina, Brasil e Paraguai. De acordo com a Casa Branca, células  terroristas de grupos do Oriente Médio, como o Hezbollah e o Hamas, estariam  operando na região, arrecadando doações entre a comunidade muçulmana  local.
 
O exército paraguaio executa ações  conjuntas com o exército estadunidense. Em Assunción, militares dos EUA estão  presentes no Centro de Instrução Militar de Operações Especiais. Em Mariscal  Estigarribia há uma pista de pouso para qualquer tipo de aeronave, que serve de  apoio a operações estadunidenses na região.
 
Segundo Maria Luisa Mendonça,  coordenadora da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, a estratégia  estadunidense nessa região tem combinado "campanhas de propaganda sobre a  suposta 'ameça terrorista', com a presença de militares estadunidenses,  favorecida pelo acordo militar bilateral dos Estados Unidos com o  Paraguai".
 
Já a estratégia militar estadunidense em  geral, por sua vez, ainda segundo Mendonça, "inclui implementação de bases  militares, treinamentos e presença de tropas em território estrangeiro,  investimentos em tecnologias de monitoramento, espionagem e projetos de  infra-estrutura. Esta estratégia está baseada em diversos pilares, desde a  intervenção direta até campanhas de propaganda e difamação, passando por  processos das chamadas 'guerras de baixa intensidade', que promovem a opressão e  estimulam a violência contra populações de baixa renda, urbanas e  rurais".
 
O Comando de Operações Especiais (Socom,  em inglês), ainda em 2006, expandiu suas atividades para cerca de 20 países do  Oriente Médio, da África e da América Latina. Desde 2003, já na administração  Bush, o orçamento desse comando aumentou 60%.
 
Segundo o The Washington Post, entre  suas missões está o recolhimento de informações para o planejamento de eventuais  ações militares em países onde não há guerra ou conflito  direto.
 
Talvez tenha sido graças a tais  informações, e em nome da estratégia de estímulo a conflitos locais, que Phillip  Goldberg, embaixador dos EUA na Bolívia, reuniu-se com líderes da oposição  boliviana ao presidente Evo Morales, antes dos recentes conflitos racistas no  país andino.
 
Goldberg foi expulso da Bolívia e o  presidente Lula declarou apoio a Evo Morales, lembrando que a diplomacia dos EUA  têm um longo histórico de ingerência nos assuntos  sul-americanos.
 
Recentemente, Evo Morales qualificou  como "vingança política" a decisão estadunidense de excluir seu país de  benefícios alfandegários, unilateralmente condicionados à "luta antidrogas".  Bush suspendeu isenções fiscais de que se beneficiavam produtos bolivianos no  mercado dos EUA.
 
Integrantes do governo dos EUA também  mantiveram freqüentes contatos com diversos líderes golpistas nas semanas  anteriores ao golpe de estado contra Hugo Chávez, em 2002. Meses após o golpe,  que foi condenado oficialmente pela Organização dos Estados Americanos (OEA), o  governo venezuelano revelou a presença de navios e aviões militares americanos  em seu território, durante os dias da manobra  oposicionista.
 
George Bush também tentou "aprimorar" o  "Plano Colômbia", criado pelo governo dos Estados Unidos em 2000, ainda na  administração democrata.
 
O plano, que em tese combateria o  narcotráfico na região, seria expandido a ponto de permitir a atuação dos  militares estadunidenses no país sul-americano contra "ameaças à segurança  nacional", tanto dos EUA quanto da Colômbia. Incluída em um apêndice do  orçamento nacional que Bush apresentou ao Congresso no ano passado, essa  autorização permitiria aos EUA não se restringir, na região, apenas ao combate  ao narcotráfico e às guerrilhas.
 
As guerrilhas, segundo classificação do  Departamento de Estado dos EUA, seriam as Forças Armadas Revolucionárias da  Colômbia (Farcs), o Exército de Libertação Nacional (ELN) e a Autodefesas Unidas  Colombianas (AUC).
 
Só que as AUC financiavam suas ações  contra a guerrilha de esquerda com o tráfico de cocaína, tudo sob a vista grossa  do presidente Álvaro Uribe, do exército colombiano e da agência estadunidense  antidrogas (DEA).
 
Talvez tenha sido por isso que, no  recente episódio de violação da soberania do Equador pela Colômbia, os EUA  tenham dado apoio incondicional a Álvaro Uribe. "Democratas e republicanos devem  trabalhar para estar ao lado de nosso aliado e lutar contra o narcotráfico",  disse Bush na oportunidade. Tratava-se de "uma questão de segurança nacional",  complementou à época.
 
A resolução da 25ª Reunião de Consulta  dos Ministros das Relações Exteriores da Organização dos Estados Americanos  (OEA), realizada em março último, em Washington, repudiou, em seu artigo 4, "a  incursão de forças militares e efetivos da polícia da Colômbia em território do  Equador, na Província de Sucumbíos, em 1° de março de 2008, feita sem  conhecimento nem consentimento prévio do Governo do Equador, por considerar que  constitui uma clara violação dos artigos 19 e 21 da Carta da  OEA".
 
Os EUA, evidentemente, fizeram  restrições a tal artigo, argumentando que "a Colômbia exerceu o seu direito de  'legítima defesa', durante o ataque voltado contra as  Farc".
 
A diplomacia brasileira, na  oportunidade, defendeu a inegociabilidade do Artigo 21 da Carta da OEA, que  trata da inviolabilidade territorial de seus estados-membros, contra a peculiar  noção estadunidense de "soberania relativa", defendida dias antes por  Condoleezza Rice. Segundo a lógica de Rice, o combate ao terrorismo não pode  respeitar fronteiras, o que implica que, nesses casos, a noção tradicional de  soberania seja substituída pela de "soberania relativa".
 
Um dos últimos movimentos da estratégia  militar estadunidense para o continente foi a reativação de sua 4ª Frota Naval,  responsável pela área marítima do Caribe e da América do  Sul.
 
Uma das preocupações brasileiras com a  reativação da 4ª Frota é que os EUA assinaram, mas não ratificaram, a Convenção  de Montego Bay, da qual o Brasil é signatário. Segundo Montego Bay, o Brasil tem  mar territorial de 12 milhas náuticas e Zona Econômica Exclusiva (ZEE) de 188  milhas, extensível até trezentas caso haja prolongamento da plataforma  continental no fundo do oceano, fato que pode ser verificado  tecnicamente.
 
Boa parte das novas reservas de petróleo  localizadas pela Petrobrás se localizam na ZEE, na chamada camada  pré-sal.
 
Paranóia? Na verdade, recentemente os  EUA questionaram, perante a Comissão de Levantamento da Plataforma Continental  da ONU (LEPLAC) "os valores apresentados pelo Brasil no processo de levantamento  de sua plataforma continental", segundo o contra-almirante José Eduardo Borges  de Souza, secretário-executivo da Comissão Interministerial para Recursos do Mar  (Secirm).
 
De resto, desde o princípio da era Bush,  a Casa Branca jamais aceitou negociar seus gigantescos subsídios à agricultura  estadunidense e seu protecionismo a produtos como o aço, quando discutiu a  implementação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Medidas  compensatórias e acesso ao mercado estadunidense jamais fizeram parte da agenda  de Bush para a ALCA, marcada por medidas unilaterais e pela exclusão de temas  que não interessam a sua economia.
 
Mas que interessam, e muito,  principalmente aos países do Mercosul.
 
Em função dessa resistência, os EUA  passaram a celebrar tratados bilaterais de comércio, sobretudo com os países  cujas economias são menos estruturadas, o que lhe confere maior poder de  barganha sobre o conjunto do continente.
 
A reação latina veio na forma da União  de Nações Sul-Americanas (UNASUL).
 
 
"No, we can't  anymore"
 
Em matéria de políticas internas, suas  campanhas fundamentalistas para a abstinência sexual de adolescentes e jovens  solteiros foram tão condenadas por setores da sociedade estadunidense quanto a  proibição de pesquisas científicas sobre células-tronco.
 
A lei federal "No child left behind"  ("Nenhuma Criança Deixada para Trás"), de 2001, foi duramente criticada. Entre  as acusações de especialistas está a de que promoveu a privatização de parte do  serviço básico de educação pública.
 
Acusação que também pesou sobre as  reformas promovidas nos serviços sociais e de saúde. A privatização maciça  desses setores foi feita, sobretudo, em benefício de organizações  religiosas. As mesmas que exigiram limitações legais  ao direito ao aborto e o cancelamento de financiamentos a associações  internacionais, como o Fundo das Populações das Nações Unidas, vinculado a ONU.  Responsável por questões populacionais, a entidade foi acusada por setores  religiosos fundamentalistas de promover, indiscriminadamente, o aborto e a  esterilização forçada entre mulheres da China.
 
Segundo dados do Departamento de Justiça  dos Estados Unidos, entre 2001 e 2007 aumentaram em 25% os casos em que  autoridades encarregadas da aplicação da lei violaram direitos civis das vítimas  que deveriam proteger, um aumento de 25% em relação aos sete anos anteriores. A  maioria dos acusados, contudo, sequer foi processada.
 
A taxa oficial de pobreza do país, em  2006, era de 12,3%. 7,7 milhões de famílias viviam em condições de pobreza, bem  longe do sonho americano. Em novembro do ano passado, o Departamento de  Agricultura apresentou relatório admitindo que, ainda em 2006, 35,52 milhões de  estadunidenses, incluídas aí 12,63 milhões de crianças, haviam passado  fome.
 
Enquanto isso, o orçamento estadunidense  deste ano, de US$ 2,7 trilhões, previa 419 bilhões em despesas militares, além  de outros 235 bilhões exclusivos para manter a ocupação ilegal do Afeganistão e  do Iraque. Os recursos previstos para o Pentágono, este ano, representaram um  aumento de 62% em relação a 2001, quando George Bush assumiu a Casa Branca. 47  dias de ocupação estadunidense no Iraque e no Afeganistão equivalem ao orçamento  anual das forças armadas brasileiras.
 
O atual déficit recorde dos EUA, de US$  427 bilhões, é uma conseqüência das ocupações no Iraque e no Afeganistão, do  aumento das despesas com segurança nacional, depois do onze de setembro, e da  recessão de 2001, que eliminaram o superávit do orçamento herdado por Bush  quando assumiu a Casa Branca pela primeira vez.
 
Alguns analistas também afirmam que seus  cortes gigantescos de impostos, entre eles a "Tax Relief for America", de 2001,  também são responsáveis pelo atual déficit histórico. Os principais objetivos  desses cortes, a recuperação da economia e a criação de empregos, não foram  atingidos.
 
Ainda na economia, sua gestão foi  marcada por duas crises, a recessão de 2001/02 e o recente colapso de Wall  Street.
 
A recessão do começo deste século teve  sua origem, segundo afirmou o economista Walden Bello nessa mesma Carta Maior,  na bolha tecnológica do final dos 90, que resultou na perda de ativos no valor  de 7 bilhões de dólares em função do desmoronamento dos preços das ações das  empresas do mundo da Internet, que haviam disparado de forma  artificial.
 
Foi então que, em junho de 2003, já na  administração Bush, o presidente do Banco Central dos EUA, Alan Greenspan,  tratando de prevenir uma recessão duradoura, rebaixou as taxas de juros 1%,  nível sem precedentes em 45 anos. "Com isso, o que conseguiu foi estimular a  formação de outra bolha: a bolha imobiliária", afirmou Bello, responsável pela  maior quebra da economia estadunidense desde a crise de  29.
 
Que vem arrastando, consigo, boa parte  da economia mundial.
 
Segundo José Saramago, "George Bush  expulsou a verdade do mundo para, em seu lugar, fazer frutificar a idade da  mentira".
 
Informações recentes dão conta que, cada  vez mais isolado, sequer seus amigos o visitam na Casa Branca, e nem mesmo seus  secretários mais próximos têm comparecido aos seus antes concorridos  encontros.
 
Na contabilidade final da história, o  homem que um dia pensou falar com Deus e agir em seu nome não passa de um grande  perdedor.
 
 
 
 
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 Bush, o grande  perdedor.
 
 
 
    
 
 
 
 
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