Vitaminas: Panacéia ou Embuste?
Ciência Hoje On-line - Jerry Carvalho Borges - 01/02/2008
http://cienciahoje.uol.com.br/110742
Colunista discute os perigos associados ao consumo excessivo e indiscriminado dessas substâncias.
Ciência Hoje On-line - Jerry Carvalho Borges - 01/02/2008
http://cienciahoje.uol.com.br/110742
Colunista discute os perigos associados ao consumo excessivo e indiscriminado dessas substâncias.
O que você acharia se lhe oferecessem uma substância que prevenisse a ocorrência de grande parte das doenças que nos afligem, como o câncer e o mal de Alzheimer, e que, ao mesmo tempo, fosse capaz de conservar a sua juventude e seu vigor sexual? E que, além disso, fosse totalmente natural e pudesse ser obtida a um custo não muito elevado e sem efeitos colaterais, por meio do simples consumo diário de algumas pílulas?
Para muita gente, esse tratamento existe e está ao alcance de todos em farmácias e até supermercados: são as vitaminas. Por isso, a cada dia milhões de pessoas tomam vitaminas e complementos vitamínicos, convencidas de que essas substâncias podem conservar sua saúde e mesmo melhorá-la, movimentando uma indústria que lucra anualmente, apenas no Reino Unido, mais de 1 bilhão de reais.
Para outros, entretanto, o consumo desenfreado e sem critérios dessas substâncias não tem qualquer efeito benéfico para o bem-estar e pode até causar problemas à saúde. Há alguma razão para que pessoas totalmente saudáveis consumam diversos desses compostos químicos para prevenir doenças e para melhorar sua saúde? O que a ciência diz a respeito da eficácia e dos riscos envolvidos no consumo desses compostos?
Presentes na dieta
As vitaminas são compostos químicos não sintetizados pelo nosso organismo e que estão presentes de forma natural nos alimentos. Pequenas quantidades de vitaminas D e K, niacina (B3) e biotina (B7) podem ser sintetizadas endogenamente através de precursores (provitaminas) adquiridos pela dieta. As vitaminas A, C, E, a tiamina (B1), a riboflavina (B2), o ácido pantotênico (B5), a piridoxina (B6), o ácido fólico (B9) e a cianocobalamina (B12) têm de ser adquiridas através da dieta.
As vitaminas são nutrientes orgânicos necessários em quantidades mínimas para manter o crescimento e o metabolismo normais. Diferentemente dos carboidratos, lipídeos e proteínas, elas não fornecem energia ou são empregadas como "materiais de construção" biológicos. Por outro lado, há mais de um século sabe-se que diversas patologias não são causadas por agentes infecciosos, e sim por deficiências vitamínicas. Compreendeu-se que as vitaminas são essenciais para a regulação de nossos processos fisiológicos, pois atuam como coenzimas e grupos prostéticos – moléculas que, ao se associarem com enzimas, tornam-nas ativas.
Quatro vitaminas – A, D, E e K – são solúveis em gordura (lipossolúveis) e nove – C e complexo B – se dissolvem na água (hidrossolúveis). Vitaminas lipossolúveis podem ser armazenadas no tecido adiposo e utilizadas mesmo após períodos prolongados de privação. Já as hidrossolúveis são estocadas em níveis menores e, por isso, sua deficiência pode levar à ocorrência de problemas em períodos de carência relativamente curtos.
Como no caso de outros nutrientes, a deficiência de vitaminas pode se originar de uma dieta pobre ou desbalanceada ou ocorrer devido a problemas na absorção no trato digestivo, transporte, estocagem ou conversão metabólica. Embora a deficiência vitamínica seja muito mais comum em países pobres, ela possui uma prevalência surpreendentemente alta nos países ricos, estando muitas vezes relacionada com a ingestão de uma dieta pouco balanceada e variada. O alcoolismo e o consumo de drogas são fatores que podem agravar esse processo.
Efeitos da deficiência
Molécula de ácido ascórbico ou vitamina C, um poderoso antioxidante e agente redutor.
As vitaminas estão envolvidas com eventos chave de nosso metabolismo. Vejamos o exemplo da vitamina A, sintetizada a partir de carotenóides e retinóides presentes no leite e em outros produtos lácteos, no fígado, ovos e no pescado. Ela previne a ocorrência de deficiências ópticas como a xeroftamia (queratinização da conjuntiva), a queratomalacia (redução e ulceração na córnea), cegueira, deficiências imunológicas, problemas reprodutivos e de crescimento. Juntamente com a desnutrição protéico-calórica, a carência de vitamina A é a desordem nutricional mais comum no mundo e acomete entre 5 e 10 milhões de pessoas anualmente, causando a cegueira de 250 mil indivíduos a cada ano.
Já a vitamina C ou ácido ascórbico, encontrada em frutas cítricas, tomates e em vegetais como couve e brócolis, é um poderoso antioxidante e agente redutor. Dessa forma, essa vitamina elimina os radicais livres e previne a ocorrência de peroxidação (quebra utilizando H2O2) de lipídeos, evitando o câncer e o envelhecimento precoce. Além disso, a vitamina C participa do metabolismo do colágeno e na biossíntese de neurotransmissores e, de uma forma ainda pouco compreendida, das reações imunes.
A vitamina E, encontrada nos vegetais, nos grãos, nos óleos e peixes, também atua como antioxidante. Está estabelecido que sua deficiência pode causar degeneração do sistema nervoso, alterações musculares e anemia hemolítica em crianças. Devido à ampla distribuição dessa vitamina nos alimentos, sua carência é um fenômeno raro, mesmo em países pobres.
Por sua vez, a vitamina D, presente no pescado, grãos e metabolizada na pele na presença de luz solar a partir do precursor 7-dehidrocolesterol, evita a ocorrência de raquitismo infantil e, em adultos, da osteomalacia (perda de massa óssea causada pela carência de cálcio na dieta) e da tetania hipocalcêmica. Essa vitamina está associada com a manutenção dos níveis dos níveis sangüíneos adequados de cálcio e fosfato responsáveis pela mineralização óssea normal.
Uma dieta diária variada e baseada em frutas, verduras, grãos e fontes de proteína deve proporcionar todas as vitaminas necessárias para a manutenção da estabilidade de nosso organismo. E somente em casos específicos, como na gravidez, devem ser administradas doses extras de vitaminas.
Linus Pauling e o risco do excesso
Porém, um homem propôs mudar, há cerca de quarenta anos, a visão que tínhamos das vitaminas e de seu papel em nossa saúde. Tratava-se de ninguém menos que o químico americano Linus Pauling (1901-1994), uma grande estrela da ciência e único homem a ganhar dois prêmios Nobel em áreas diferentes (Química e Paz).
Dono de uma enorme inteligência e carisma, Pauling utilizou toda a sua credibilidade para difundir a idéia de que o consumo de doses maiores de vitaminas – várias vezes mais elevadas que as doses diárias normais – poderia evitar a ocorrência de enfermidades e até nos proporcionar uma vida mais saudável. Pauling, inclusive, passou a empregar em si próprio a sua teoria e consumiu durante a vida quantidades diárias enormes de vitamina C, na crença de que esse nutriente iria fortalecer seu sistema imune e prevenir o resfriado e outras doenças.
Pauling e seus seguidores contribuíram para difundir a crença de que o consumo de vitaminas poderia, sem efeitos adversos, zelar por nosso bem-estar físico e mental. Contudo, pesquisas posteriores têm demonstrado que o consumo diário de vitamina C não evita a ocorrência de resfriados ou mesmo de outras doenças. Isso ocorre porque nosso organismo é incapaz de absorver doses elevadas dessa vitamina. Além disso, seu consumo elevado pode ocasionar efeitos colaterais como uricosúria (excesso de ácido úrico na urina), absorção aumentada de ferro, acidose sistêmica e hemólise infantil.
Outras pessoas consomem vitaminas diariamente para evitar os radicais livres e seus efeitos danosos sobre nosso cérebro, sistema circulatório e envelhecimento. A ingestão de pílulas contendo dezenas de vezes a dose diária das vitaminas A, C e E é comumente empregada com esse propósito. Porém, esse procedimento normalmente mostra-se inócuo, pois nosso organismo não é capaz de absorver as doses elevadas, que podem inclusive provocar efeitos adversos como distúrbios gastrointestinais, interferência na captação das vitaminas A e K e mesmo predisposição para infecções entéricas em crianças.
O consumo excessivo da vitamina A, por outro lado, pode representar perigos para a saúde. Doses elevadas desse nutriente consumidas diariamente durante períodos prolongados por fumantes podem aumentar em até 30% o risco de câncer de pulmão nesses indivíduos. O consumo de retinóides pode, por sua vez, causar lesões hepáticas e osteoporose em indivíduos com predisposição genética ou comportamentos de risco.
Esses resultados mostraram que esses compostos químicos não são inertes e incapazes de causar males. As vitaminas são substâncias cujo consumo desregrado envolve conseqüências inesperadas e enormes perigos e, por isso, devem somente ser prescritas de forma criteriosa por profissionais da medicina. Era realmente bom demais para ser verdade...
Para muita gente, esse tratamento existe e está ao alcance de todos em farmácias e até supermercados: são as vitaminas. Por isso, a cada dia milhões de pessoas tomam vitaminas e complementos vitamínicos, convencidas de que essas substâncias podem conservar sua saúde e mesmo melhorá-la, movimentando uma indústria que lucra anualmente, apenas no Reino Unido, mais de 1 bilhão de reais.
Para outros, entretanto, o consumo desenfreado e sem critérios dessas substâncias não tem qualquer efeito benéfico para o bem-estar e pode até causar problemas à saúde. Há alguma razão para que pessoas totalmente saudáveis consumam diversos desses compostos químicos para prevenir doenças e para melhorar sua saúde? O que a ciência diz a respeito da eficácia e dos riscos envolvidos no consumo desses compostos?
Presentes na dieta
Banca de frutas em um mercado de rua.
Uma dieta baseada em frutas, verduras, grãos e fontes de proteína proporciona
todas as vitaminas necessárias para manter nossa saúde.
Uma dieta baseada em frutas, verduras, grãos e fontes de proteína proporciona
todas as vitaminas necessárias para manter nossa saúde.
As vitaminas são compostos químicos não sintetizados pelo nosso organismo e que estão presentes de forma natural nos alimentos. Pequenas quantidades de vitaminas D e K, niacina (B3) e biotina (B7) podem ser sintetizadas endogenamente através de precursores (provitaminas) adquiridos pela dieta. As vitaminas A, C, E, a tiamina (B1), a riboflavina (B2), o ácido pantotênico (B5), a piridoxina (B6), o ácido fólico (B9) e a cianocobalamina (B12) têm de ser adquiridas através da dieta.
As vitaminas são nutrientes orgânicos necessários em quantidades mínimas para manter o crescimento e o metabolismo normais. Diferentemente dos carboidratos, lipídeos e proteínas, elas não fornecem energia ou são empregadas como "materiais de construção" biológicos. Por outro lado, há mais de um século sabe-se que diversas patologias não são causadas por agentes infecciosos, e sim por deficiências vitamínicas. Compreendeu-se que as vitaminas são essenciais para a regulação de nossos processos fisiológicos, pois atuam como coenzimas e grupos prostéticos – moléculas que, ao se associarem com enzimas, tornam-nas ativas.
Quatro vitaminas – A, D, E e K – são solúveis em gordura (lipossolúveis) e nove – C e complexo B – se dissolvem na água (hidrossolúveis). Vitaminas lipossolúveis podem ser armazenadas no tecido adiposo e utilizadas mesmo após períodos prolongados de privação. Já as hidrossolúveis são estocadas em níveis menores e, por isso, sua deficiência pode levar à ocorrência de problemas em períodos de carência relativamente curtos.
Como no caso de outros nutrientes, a deficiência de vitaminas pode se originar de uma dieta pobre ou desbalanceada ou ocorrer devido a problemas na absorção no trato digestivo, transporte, estocagem ou conversão metabólica. Embora a deficiência vitamínica seja muito mais comum em países pobres, ela possui uma prevalência surpreendentemente alta nos países ricos, estando muitas vezes relacionada com a ingestão de uma dieta pouco balanceada e variada. O alcoolismo e o consumo de drogas são fatores que podem agravar esse processo.
Efeitos da deficiência
Molécula de ácido ascórbico ou vitamina C, um poderoso antioxidante e agente redutor.
As vitaminas estão envolvidas com eventos chave de nosso metabolismo. Vejamos o exemplo da vitamina A, sintetizada a partir de carotenóides e retinóides presentes no leite e em outros produtos lácteos, no fígado, ovos e no pescado. Ela previne a ocorrência de deficiências ópticas como a xeroftamia (queratinização da conjuntiva), a queratomalacia (redução e ulceração na córnea), cegueira, deficiências imunológicas, problemas reprodutivos e de crescimento. Juntamente com a desnutrição protéico-calórica, a carência de vitamina A é a desordem nutricional mais comum no mundo e acomete entre 5 e 10 milhões de pessoas anualmente, causando a cegueira de 250 mil indivíduos a cada ano.
Já a vitamina C ou ácido ascórbico, encontrada em frutas cítricas, tomates e em vegetais como couve e brócolis, é um poderoso antioxidante e agente redutor. Dessa forma, essa vitamina elimina os radicais livres e previne a ocorrência de peroxidação (quebra utilizando H2O2) de lipídeos, evitando o câncer e o envelhecimento precoce. Além disso, a vitamina C participa do metabolismo do colágeno e na biossíntese de neurotransmissores e, de uma forma ainda pouco compreendida, das reações imunes.
A vitamina E, encontrada nos vegetais, nos grãos, nos óleos e peixes, também atua como antioxidante. Está estabelecido que sua deficiência pode causar degeneração do sistema nervoso, alterações musculares e anemia hemolítica em crianças. Devido à ampla distribuição dessa vitamina nos alimentos, sua carência é um fenômeno raro, mesmo em países pobres.
Por sua vez, a vitamina D, presente no pescado, grãos e metabolizada na pele na presença de luz solar a partir do precursor 7-dehidrocolesterol, evita a ocorrência de raquitismo infantil e, em adultos, da osteomalacia (perda de massa óssea causada pela carência de cálcio na dieta) e da tetania hipocalcêmica. Essa vitamina está associada com a manutenção dos níveis dos níveis sangüíneos adequados de cálcio e fosfato responsáveis pela mineralização óssea normal.
Uma dieta diária variada e baseada em frutas, verduras, grãos e fontes de proteína deve proporcionar todas as vitaminas necessárias para a manutenção da estabilidade de nosso organismo. E somente em casos específicos, como na gravidez, devem ser administradas doses extras de vitaminas.
Linus Pauling e o risco do excesso
Capa do livro Como viver mais e se sentir bem, em que o químico Linus Pauling defende o consumo regular de altas doses de vitamina C Estudos posteriores mostraram que o organismo humano é incapaz de absorver altas doses dessa substância.
Porém, um homem propôs mudar, há cerca de quarenta anos, a visão que tínhamos das vitaminas e de seu papel em nossa saúde. Tratava-se de ninguém menos que o químico americano Linus Pauling (1901-1994), uma grande estrela da ciência e único homem a ganhar dois prêmios Nobel em áreas diferentes (Química e Paz).
Dono de uma enorme inteligência e carisma, Pauling utilizou toda a sua credibilidade para difundir a idéia de que o consumo de doses maiores de vitaminas – várias vezes mais elevadas que as doses diárias normais – poderia evitar a ocorrência de enfermidades e até nos proporcionar uma vida mais saudável. Pauling, inclusive, passou a empregar em si próprio a sua teoria e consumiu durante a vida quantidades diárias enormes de vitamina C, na crença de que esse nutriente iria fortalecer seu sistema imune e prevenir o resfriado e outras doenças.
Pauling e seus seguidores contribuíram para difundir a crença de que o consumo de vitaminas poderia, sem efeitos adversos, zelar por nosso bem-estar físico e mental. Contudo, pesquisas posteriores têm demonstrado que o consumo diário de vitamina C não evita a ocorrência de resfriados ou mesmo de outras doenças. Isso ocorre porque nosso organismo é incapaz de absorver doses elevadas dessa vitamina. Além disso, seu consumo elevado pode ocasionar efeitos colaterais como uricosúria (excesso de ácido úrico na urina), absorção aumentada de ferro, acidose sistêmica e hemólise infantil.
Outras pessoas consomem vitaminas diariamente para evitar os radicais livres e seus efeitos danosos sobre nosso cérebro, sistema circulatório e envelhecimento. A ingestão de pílulas contendo dezenas de vezes a dose diária das vitaminas A, C e E é comumente empregada com esse propósito. Porém, esse procedimento normalmente mostra-se inócuo, pois nosso organismo não é capaz de absorver as doses elevadas, que podem inclusive provocar efeitos adversos como distúrbios gastrointestinais, interferência na captação das vitaminas A e K e mesmo predisposição para infecções entéricas em crianças.
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As vitaminas, tomadas comedidamente, associadas a atividades físicas moderadas, e mais uma alimentação equilibrada, não é nenhum embuste ou panacéia. Fazem muito bem para a saúde. Drauzio Milagres.
ResponderExcluirSuolemento vitamínico pode ser perigoso. Análise com mais de 200 mil pessoas indica que não existem benefícios para saúde.
ResponderExcluirNão há provas de que os suplementos de vitaminas trazem benefícios à saúde, e els podem mesmo causar problemas, dizem os cientistas. Num golpe na multimilionária indústria de suplementos vitamínicos, uma revisão de 67 estudos indicou que, longe de prolongar a vida, eles a encurtariam. "Não há qualquer evidência convincente" de que suplementos antioxidantes reduzam a probabilidade de morrer prematuramente e alguns dos mais comuns, na verdade, trazem mais risco, diz a análise publicada pela respeitada Cochrane Collaboration, uma organização britânica dedicada a prestar informações sobre saúde.
A análise que envolveu dados de 232 mil pessoas comparou dados de quem toma suplementos com os indivíduos que tomaram placebo (substância inócua) ou não receberam tratamento algum. Os suplementos estudados foram betacaroteno, vitaminas A, C e E e o mineral selênio. Goran Bjelakovich, que coordenou a revisão, realizada pela Universidade de Copenhague, disse:
- Não encontramos prova de que tomar antioxidantes prolonga a vida das pessoas saudáveis ou doentes. Na verdade, pessoas que tomaram betacaroteno e vitaminas A e E tiveram uma maior taxa de mortalidade. Não há indício que a vitamina C e o selênio tenham efeitos positivos ou negativos.
Para Bjelakovich, não há razão para recomendar antioxidantes a pessoas saudéveis.