O Mundo Está Ficando Mais Justo
Domenico De Masi - Revista Época nº 513 de 17/03/2008
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG82358-5855,00-O+MUNDO+ESTA+FICANDO+MAIS+JUSTO.html
Domenico De Masi - Revista Época nº 513 de 17/03/2008
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG82358-5855,00-O+MUNDO+ESTA+FICANDO+MAIS+JUSTO.html
O mundo enfrenta a mais abrangente redistribuição de riqueza da história.
Domenico De Masi
Pela primeira vez em muitos séculos, alguns países pobres estão ficando mais ricos e alguns países ricos mais pobres. Pelo menos 1 bilhão de pessoas comem muito mais hoje do que teriam comido 50 anos atrás. Enquanto a população cresce em medida aritmética, os pobres que se livram da fome crescem em medida geométrica. Os países emergentes não apenas consomem mais alimentos, mas também mais energia e tecnologia. A hegemonia americana que parecia garantida para sempre depois da queda do Muro de Berlim é posta em sério perigo pelo terrorismo, pelas guerras localizadas e pelo crescimento econômico dos países asiáticos, da América Latina e até da África. Atualmente, os negócios financeiros conduzidos em dólares estão nas mãos de China, Índia e Japão, sem falar dos petrodólares dos países árabes e da Rússia. Nestas últimas semanas, todos os jornais do mundo têm falado, maravilhados, do rápido progresso econômico do Brasil. Eu escrevo sobre o assunto há anos e, por isso, achei ingênuo esse deslumbramento. Tenho escrito que o Brasil não só cresce rapidamente, mas o faz sem renunciar a suas melhores características: acolhimento, solidariedade, alegria e sensualidade.
Quando um país se desenvolve, quase não se dá conta disso, porque é fácil habituar-se a uma vida melhor. Muito mais dura é a condição psicológica de quem é obrigado a restringir seu nível de vida. É o que vem ocorrendo nos Estados Unidos e na Europa devido às quedas nas Bolsas e nos valores imobiliários. Quando o poder aquisitivo é atingido, o principal afetado é a classe média, porque os ricos continuam a gastar e os pobres são relegados à miséria. Além disso, o fenômeno é percebido mais claramente nas cidades, porque os habitantes dos pequenos vilarejos e do campo desde sempre foram inclinados à prudência e à parcimônia.
Assim, na classe média e urbana dos países ricos, surge o problema do "fim do mês". As famílias continuam a consumir como antes, porém, depois de três semanas de despesas, não lhes sobra nada.
A primeira reação é de desconfiança contra o próprio governo. Imputa-se a responsabilidade à incompetência de governantes locais, e não à profunda modificação global. Quase inconscientemente a burguesia urbana dos países ricos renega o fato de estarmos enfrentando a mais profunda e abrangente redistribuição de riqueza que já existiu na História, acompanhada de uma revolução radical de modos de vida e de comportamentos cotidianos.
Estamos enfrentando a mais profunda e abrangente redistribuição de riqueza da História.
A classe média acreditava que seu desenvolvimento prosseguiria indefinidamente e, enquanto gozava de seus privilégios, pedia a Deus que concedesse o pão de cada dia também aos pobres do Terceiro Mundo. Ora, o Senhor atendeu a seus pedidos. Hoje, os pobres da China, da Índia, do Brasil, além de pão, produzem microprocessadores e nanotecnologia.
Assim, à medida que os países desenvolvidos atingem o ápice da riqueza, seu crescimento começa a desacelerar ou retroceder. A Inglaterra, que durante séculos desfrutou das colônias de meio mundo, agora deve se contentar com um crescimento inferior a 3% ao ano. Os Estados Unidos, que não conseguem mais exportar seus produtos, são obrigados a exportar guerras para poder crescer um pouco. A China e a Tailândia crescem 10%; a Índia, 7%.
Embalada pela ilusão de que as coisas voltarão a ser o que eram, a burguesia urbana dos países ricos recorre a mil artifícios para salvar seus hábitos consumistas. Faz uso de pacotes econômicos de viagens, mas finge fazê-lo por esnobismo; para poder se exibir em roupas de grife, compra na liquidação as roupas da estação passada. Engana a si mesma com a crença de que a crise depende de fatores internos, e continua a trocar de idéias políticas e de governos, como um doente que se revolve no próprio leito sem entender que sua doença é crônica.
* * * * * * * * * * * * * * * *
Entre no Blogger "O Mundo No Seu Dia-a-Dia" e faça seus comentários:
Atenção:
Não mostre para os outros o endereço eletrônico de seus amigos.
Retire os endereços dos amigos antes de reenviar.
Dificulte o aumento de vírus, spams e banners.
Participe desta campanha, incluindo o texto acima em suas mensagens.
* * * * * * * * * * * * * * * *