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domingo, 2 de maio de 2010

Iluminação com LEDs produz vegetais mais saudáveis



Iluminação com LEDs produz vegetais mais saudáveis
Redação do Site Inovação Tecnológica - 28/04/2010
http://www.inovacaotecnologica.com.br/



Vegetais cultivados em estufa, iluminados por um conjunto de LEDs durante apenas três dias antes da colheita,
apresentaram redução no nível de nitratos e elevação do nível de nutrientes. [Imagem: Akvile Urbonaviciute].



Cientistas da Lituânia descobriram que uma iluminação à base de LEDs, aplicado durante apenas três dias, é capaz de melhorar a qualidade nutricional de verduras e legumes, principalmente dos vegetais verdes folhosos.

A tecnologia com tratamento dos vegetais com luz poderá ser aplicada em estufas para reforçar os nutrientes dos vegetais no período pré-colheita.



Nitratos e nutrientes

O experimento foi feito em plantações de alface, orégano e cebolinha. Os vegetais foram cultivados em estufa, sob luz ambiente, com um reforço de iluminação noturna com uma lâmpada de vapor de sódio.

Nos três dias anteriores à colheita, os vegetais receberam a iluminação noturna de um conjunto de diodos emissores de luz, os LEDs, lâmpadas de estado sólido de baixo consumo de energia, do mesmo tipo encontrado na maioria dos aparelhos eletrônicos.

O resultado foi uma redução no nível de nitratos nos vegetais que variou de 44 a 65%.

O maior nível de redução dos nitratos foi verificado nas plantações de alface cultivado por hidroponia. Depois de um tratamento de três dias sob a luz de LEDs vermelhos, os testes mostraram uma redução de 65% na concentração de nitratos.

Além de diminuir a concentração de nitratos danosos à saúde, o fluxo de fótons de alta densidade gerado pelos LEDs também elevou os níveis de nutrientes dos vegetais.



Plantas iluminadas com LEDs

Segundo Giedre Samuoliene, coordenador da pesquisa, a tecnologia é diferente da já difundida prática das lâmpadas de sódio de alta pressão.

Os iluminadores de estado sólido limitam a quantidade de calor radiante, já que os LEDs têm luz fria, permitindo uma maior intensidade na fotossíntese.

Além disso, a técnica exige apenas um tratamento curto, pouco antes da colheita, em vez de uma iluminação durante o ciclo completo da cultura.

O investimento inicial na aquisição dos iluminadores de LED pode ser caro, afirma Samuoliene, mas a técnica é economicamente viável porque o tratamento é aplicado durante apenas 10% do tempo da cultura, com um baixíssimo consumo de energia.

Há também a perspectiva das vantagens de um eventual sobre-preço pelo fornecimento de vegetais mais saudáveis.









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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Os 10 alimentos que mais causam intoxicação



Conheça os produtos que mais causam intoxicação alimentar
Portal da Educação Física - 20/10/2009
http://www.educacaofisica.com.br/



Engana-se quem pensa que os surtos de doenças transmitidas por alimentos (DTA) são exclusivos do verão. Podem ocorrer em qualquer época do ano e causar falta de apetite, náuseas, vômitos, diarreia, dores abdominais e febre, além da possibilidade de atingirem o fígado (hepatite A) e as terminações nervosas periféricas (botulismo). Há um registro médio de 665 surtos por ano no Brasil, com 13 mil doentes, de acordo com o Ministério da Saúde. Por isso, é importante ficar atento à alimentação.

Entre os produtos que mais provocaram problemas no País, segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde, estão ovos crus e mal cozidos (22,8%), carnes vermelhas (11,7), sobremesas (10,9%), água (8,8%), leite e derivados (7,1%). Uma pesquisa do Centro para Ciência no Interesse Público dos Estados Unidos, divulgada no blog Well, do jornal The New York Times, aponta os 10 principais vilões de lá nessa ordem: ovo, atum, ostra, batata, queijo, sorvete, tomate, brotos e frutas vermelhas.

Existem mais de 250 tipos de DTAs e a maioria é causada por bactérias e suas toxinas, vírus e parasitas. A lista de condições que favorecem a contaminação conta com erros de higiene pessoal, preparo com muita antecedência das iguarias e refrigeração inadequada.

Alguns gestos simples ajudam na prevenção, como lavar bem as mãos com água e sabão antes de preparar as refeições, verificar se os utensílios da cozinha estão limpos e checar o prazo de validade dos produtos.

Confira abaixo dicas específicas para cada tipo de alimento, apontadas pela nutricionista Alessandra Paula Nunes, professora do curso de nutrição do Centro Universitário São Camilo, de São Paulo:

Aves e ovos: As aves apresentam em seu sistema digestório a bactéria Salmonella, que pode contaminar o ovo e a carne. Sua eliminação depende da maneira de preparo do alimento. O ovo deve ser cozido ou frito, até que a gema fique dura. A carne tem de estar ao ponto ou bem passada.

Peixes e frutos do mar: Antes de consumi-los, observe o aspecto e o odor. Se notar algo diferente, assim como sabor estranho, despreze-os. Coloque-os sempre em local refrigerado, sem mantê-los por muito tempo em temperatura ambiente. Na hora de comprar frutos do mar, preste atenção na pessoa que os vende. "Se o manipulador estiver com roupas sujas, mãos, barbas e unhas compridas, prefira comprar o produto de outro fornecedor."

Frutas, verduras e legumes: Antes de consumi-los, deixe-os em solução de água com cloro (1 litro de água e 1 colher de sopa de cloro) por cerca de 15 minutos. Depois, lave-os com água potável. Há também alguns produtos industrializados específicos para higienização desses alimentos, que são práticos e seguros.

Cereais: A bactéria B. cereus pode ser encontrada em cereais, como arroz, farinhas e temperos secos. O cozimento em vapor sob pressão, a fritura e o ato de assar em forno a temperaturas superiores a 100º C a elimina. Se notar sinais de bolor, despreze todo o alimento. "Não adianta desprezar somente a parte que está embolorada, porque, provavelmente, todo o produto já está impróprio ao consumo."

Água: A opção potável, filtrada ou mineral, é a melhor, tanto para beber quanto para cozinhar. Caso use a água de torneira, a dica é fervê-la.

Leite: O risco maior está em consumir leite do mercado informal, já que não recebe tratamento para esterilização e conservação. A recomendação da nutricionista é consumir os do tipo longa vida, que, quando abertos, precisam ser armazenados na geladeira (por até três dias) ou como indicar o fabricante.

Derivados do leite: É preferível comprar os industrializados em vez dos caseiros. Quando quiser saborear sorvetes de massa, vendidos por quilo, fique atento aos pegadores que ficam na água. "Devem estar em água limpa e ser trocados constantemente."

Enlatados: O consumo de enlatados pode ocasionar o botulismo, transmitido pela toxina do Clostridium Botullinun, que, além dos sintomas gastrointestinais, pode causar problemas neurológicos. Para prevenir, verifique as latas e vidros. Se estiverem estufados ou, se ao abrir, observar sinal de presença de ar, descarte o alimento.



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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Dificuldade de Contar Calorias





Tenho, estrategicamente, guardado na sala de consulta um livro que contém milhares de dados sobre os alimentos. Alimentos preparados, ingredientes naturais, desidratados, artificiais, quase tudo está na lista. É claro que, como médico, eu o utilizo para dar alguns conselhos e muitas broncas nos pacientes, mas jamais para definir meu próprio almoço ou jantar. Pois agora descobre-se que, mesmo fazendo o que as autoridades de saúde e os médicos dizem, os pobres dos pacientes não estão totalmente seguros do quanto estão comendo em termos de calorias e outros índices do que escolhem para comer.

Um artigo da revista New Scientist de 15 de julho, escrito pelo jornalista científico Bijal Trivedi, denuncia que a maioria das descrições de conteúdo alimentar de cada produto utiliza uma tabela ultrapassada e errônea. Esta, feita com base em uma invenção de Wilbur Olin Atwater e de E. B. Rosa, o calorímetro - aparelho que queimava os alimentos e media o quanto era liberado de energia na combustão. Apoiado nisso, em 1896, ele publicou as tabelas Atwater de valores calóricos dos alimentos. Foi também Atwater quem provou a teoria da Lei de Conservação em seres humanos, definindo que um homem necessita de 2.500 Kcal (quilocalorias) por dia para se manter, e, uma mulher, 2.000 Kcal.


O maior problema é que os números de Atwater eram aproximados, admitindo-se erros de até 25% para mais ou para menos. Por sua vez, o ser humano não incinera a comida, como fazia o calorímetro de Atwater-Rosa, mas a digere, com um custo maior de energia, reduzindo o ganho calórico de 5% a 25%, dependendo do tipo de alimento, da quantidade de fibras que contém e da consistência apresentada. Essas são algumas afirmações do nutricionista Geoffrey Livesey, de Norfolk, Inglaterra.

Alimentos mais macios engordam mais, são fáceis de mastigar e acabam sendo mais absorvidos e, por algum motivo, transformam-se em gordura abdominal. É o que prova um estudo japonês de Kentaro Murakami, publicado no American Journal of Clinical Nutrition em 2007. No estudo, 450 estudantes voluntárias descreveram seus hábitos alimentares e tiveram a atividade mastigatória medida. As que comiam alimentos mais duros e, portanto, faziam mais esforço mastigatório, apresentaram uma circunferência abdominal menor. Tinham a cintura mais fina.

O modo de preparo dos alimentos também não entra na conta da tabela de calorias de Atwater, utilizada até hoje. Porém, de acordo com Richard Wrangham, um antropólogo que estuda a influência do preparo dos alimentos na evolução humana, o cozimento faz com que consigamos retirar mais calorias e mais proteínas dos alimentos. Isso permitiu que nós, humanos, os controladores do fogo, desenvolvêssemos um cérebro maior, mesmo este precisando de mais combustível para funcionar. Existem estudos interessantes sobre o tema. Um deles mostra que somos capazes de digerir 90% dos nutrientes de um ovo cozido, ao passo que, se o ovo estiver cru, não digerimos nem a metade do total. Também há experiências de que as cenouras cozidas exigem 40% menos energia para serem digeridas, quando comparadas a cenouras cruas.

A esta altura, pouco pode ser feito para corrigir as informações que vêm nas embalagens dos alimentos. Uma frase contendo explicações sobre a absorção e o aproveitamento das calorias contidas em cada porção reduziria a margem de erro dos consumidores. De acordo com o artigo, um erro pequeno, de 20 Kcal por dia, pode significar o ganho de um quilo de gordura em um mês. Um espanto!


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Rogério Tuma





quarta-feira, 11 de março de 2009

Os segredos de cada alimento




Os Segredos de Cada Alimento
Greice Rodrigues - Revista IstoÉ nº 2019 de 16/07/2008
http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2019/artigo95633-1.htm



Pesquisas revelam que a forma de preparar a comida determina a quantidade de vitaminas e minerais que o corpo aproveita.



(dê dois clique na imagem acima para vê-la ampliada)


Quando a assunto é prevenir doenças, o conselho que mais se ouve dos médicos e nutricionistas é incluir frutas, legumes e verduras na rotina alimentar. O que as pesquisas mais recentes estão mostrando é que só isso não garante o seu efeito protetor. O modo como eles são preparados influencia diretamente na quantidade de vitaminas, proteínas e nutrientes que serão utilizados pelo organismo na tarefa de resguardar a saúde.

Um dos equívocos mais comuns identificados pelos pesquisadores é a crença de que os alimentos crus são uma fonte mais generosa de nutrientes do que os cozidos. Isso nem sempre é verdade, como mostrou um estudo feito pelas Universidades de Glasgow, na Inglaterra, e de Giessen, na Alemanha. Os cientistas avaliaram os níveis de licopeno em um grupo de 198 pessoas que seguiram uma dieta rígida à base de alimentos crus, com direito a muita salada de tomate, uma excelente fonte do nutriente. A substância tem ação comprovada na prevenção do câncer de próstata (*) e de mama e, por isso, é cada vez mais consumida.

A conclusão foi que os níveis de licopeno estavam bem abaixo do esperado nessa população. O que teria dado errado? "Algumas substâncias são mais bem absorvidas depois de processadas ou cozidas. No caso do tomate, o licopeno torna-se mais disponível na forma de molho", diz a nutricionista Andréa Esquivel, da Universidade Norte do Paraná. A explicação é que com o cozimento as moléculas da água se partem, deixando o nutriente livre. O acréscimo de um fio de azeite facilita ainda mais a sua absorção.

Outro nutriente potencializado pelo cozimento e uma gotinha de azeite é o betacaroteno, um ótimo antioxidante encontrado na cenoura. "Prevalece a noção errada de que alimentos crus são melhores. Consumi-los um pouco cozidos pode ser mais útil", diz Steven K. Clinton, da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos.





Opções:
A nutricionista Andréa diz que o tomate em forma de molho é mais nutritivo.
(foto de Felipe Baenninger/Ag. IstoÉ)



A opção por um prato cru ou cozido, no entanto, depende do nutriente que se tem em vista. Se o alvo for a vitamina C, sem dúvida é melhor ingerir o alimento cru e bem fresco. Quando vegetais são cozidos, eles perdem 60% desse nutriente. Enlatados, até mais.

Um trabalho da Universidade da Califórnia comprovou que as ervilhas e cenouras enlatadas apresentam uma redução de 95% desta vitamina. Como não há meio de evitar as perdas no processamento, o ideal é cozinhar pelo menor tempo possível. "Quanto mais crocante o alimento estiver, menor será a perda de vitaminas e fibras", diz a nutricionista Andréa.

No caso das carnes bovinas e de frango, o certo é prepará-las em panelas mais grossas. "Elas retêm calor, o que permite fazer um tipo de selagem do bife, impedindo a saída de água, que leva junto as vitaminas e os minerais. Além disso, esse preparo deixa a carne úmida e macia, o que facilita a digestão", esclarece Andréa. Já o peixe, mais delicado, pode ser feito no vapor.

Outra sugestão dos especialistas é combinar gêneros para extrair o máximo da comida. O ferro do brócolis, por exemplo, será mais bem aproveitado se o legume for associado com doses da vitamina C, o que pode ser conseguido com gotas de limão, fatias de laranja ou suco de caju. "O nutriente que faltar em um alimento sempre poderá ser adquirido em outro", diz a nutricionista Gláucia Pastore, da Faculdade de Engenharia dos Alimentos da Universidade de Campinas.



* - Nota deste Blog: Há alguns estudos científicos que contestam essa "comprovada ação preventiva".






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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Alimentos Como Negócio - "A fome é um insulto, ela avilta, desumaniza e destrói o corpo e o espírito; é a forma mais assassina que existe".

Leonardo Boff


"A fome é um insulto, ela avilta, desumaniza e destrói o corpo e o espírito; é a forma mais assassina que existe".



O mundo está se alarmando com a alta do preço dos alimentos e com as previsões do aumento da fome no mundo. A fome representa um problema ético, denunciado por Gandhi: "a fome é um insulto, ela avilta, desumaniza e destrói o corpo e o espírito; é a forma mais assassina que existe". Mas ela é também resultado de uma política econômica. O alimento se transformou em ocasião de lucro e o processo agroalimentar num negócio rentoso. Mudou-se a visão básica que predominava até o advento da industrialização moderna, visão de que a Terra era vista como a Grande Mãe. Entre a Terra e o ser humano vigoravam relações de respeito e de mútua colaboração. O processo de produção industrialista considera a Terra apenas como baú de recursos a serem explorados até à exaustão.


A agricultura mais que uma arte e uma técnica de produção de meios de vida se transformou numa empresa para lucrar. Mediante a mecanização e a alta tecnologia pode-se produzir muito com menos terras. A "revolução verde" introduzida a partir dos anos 70 do século XX e difundida em todo mundo, quimicalizou quase toda a produção. Os efeitos são perceptíveis agora: empobrecimento dos solos, devastadora erosão, desflorestamento e perda de milhares de variedades naturais de sementes que são reservas face a crises futuras.

A criação de animais modificou-se profundamente devido aos estimulantes de crescimento, práticas intensivas, vacinas, antibióticos, inseminação artificial e clonagem.

Os agricultores clássicos foram substituídos pelos empresários do campo. Todo este quadro foi agravado pela acelerada urbanização do mundo e o conseqüente esvaziamento dos campos. A cidade coloca uma demanda por alimentos que ela não produz e que depende do campo.

Vigora uma verdadeira guerra comercial por alimentos. Os países ricos subsidiam safras inteiras ou a produção de carnes para colocá-las a melhor preço no mercado mundial, prejudicando os países pobres, cuja principal riqueza consiste na produção e exportação de produtos agrícolas e carnes. Muitas vezes, para se viabilizarem economicamente, se obrigam a exportar grãos e cereais que vão alimentar o gado dos países industrializados quando poderiam, no mercado interno, servir de alimento para suas populações.

No afã de garantir lucros, há uma tendência mundial, no quadro do modo de produção capitalista, de privatizar tudo especialmente as sementes. Menos de uma dezena de empresas transnacionais controla o mercado de sementes em todo o mundo. Introduziram as sementes transgênicas que não se reproduzem nas safras e que precisam ser, cada vez, compradas com altos lucros para as empresas. A compra das sementes constitui parte de um pacote maior que inclui a tecnologia, os pesticidas, o maquinário e o financiamento bancário, atrelando os produtores aos interesses agroalimentares das empresas transnacionais.

No fundo, o que interessa mesmo é garantir ganhos para os negócios e menos alimentar pessoas. Se não houver uma inversão na ordem das coisas, isto é: uma economia submetida à política, uma política orientada pela ética e uma ética inspirada por uma sensibilidade humanitária mínima, não haverá solução para a fome e a subnutrição mundial. Continuaremos na barbárie que estigmatiza o atual processo de globalização. Gritos caninos de milhões de famintos sobem continuamente aos céus sem que respostas eficazes lhes venham de algum lugar e façam calar este clamor. É a hora da compaixão humanitária traduzida em políticas globais de combate sistemático à fome.




quinta-feira, 24 de julho de 2008

A Batata Frita é um Pesadelo Nutricional


A Batata Frita é um Pesadelo Nutricional
Jonny Bowden - Redação Revista Época On-line - 18/07/2008
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI8290-15254,00-A+BATATA+FRITA+E+UM+PESADELO+NUTRICIONAL.html



Depois de fazer uma extensa pesquisa para descobrir quais são os alimentos mais saudáveis, nutricionista americano faz uma lista dos alimentos que devemos passar longe.


Jonny Bowden, autor dos livros "Os 150 Alimentos mais Saudáveis do Planeta" e "As Refeições Mais Saudáveis do Mundo" (a ser lançado no final do mês, ambos sem tradução em português), fez, a pedido de Época Online, uma lista dos alimentos que podem causar os maiores danos à nossa saúde - seja pela concentração de substâncias nocivas ou pela ausência completa de nutrientes necessários ao funcionamento de nosso corpo. O ponto em comum entre os piores alimentos listados pelo especialista é que todos são industrializados.






Confira a lista dos alimentos que você deve banir do seu cardápio ou consumir com muita, muita moderação:


Batata frita:
São fritas em óleo vegetal, que é reutilizado inúmeras vezes, o que aumenta a concentração de gorduras trans, o tipo mais perigoso para a saúde. A batata, em termos nutricionais, é como uma tigela cheia de açúcar. "O prato é um pesadelo nutricional", diz Bowden.


Refrigerantes:
são cheios de açúcar e outros produtos químicos. Os refrigerantes dietéticos também devem ser evitados porque estão repletos de produtos químicos e adoçantes artificiais, que não considero saudáveis.


Salgadinhos industrializados:
não têm valor nutricional nenhum e são repletos de gorduras trans, sódio e açúcares, todos elementos prejudiciais à saúde.


Algodão-doce:
além de ser puro açúcar, tem corantes artificiais. É um alimento que não deveria existir, segundo o especialista.


Pão branco:
é um alimento com valor nutricional nulo - tem apenas carboidratos, o que quer dizer que ajuda apenas a aumentar a conta de calorias. Prefira, sempre, pão integral.



Depois de aprender o que não comer, confira os alimentos mais saudáveis (clique aqui)
, aqueles que têm valores nutricionais acima da média e, muitas vezes, passam despercebidos em nosso dia-a-dia.









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sexta-feira, 2 de maio de 2008

A Revolta dos Pobres



A Revolta dos Pobres
Márcia Pinheiro e Phydia de Athayde - Revista Carta Capital nº 493 de 30/04/2008
http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=7&i=765




A disparada dos preços dos alimentos detonou um clima de guerra global. Na América Latina e no Caribe, manifestações pipocam desde o início do ano. Uma passeata no México contra a escalada do custo da popular tortilla, feita do milho americano, reuniu mais de 75 mil pessoas na capital, em janeiro. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, responsabiliza os atravessadores pela falta de leite e pão no país e tenta aplacar o descontentamento da população, afetada pelo desabastecimento. Como tantos, atribui a culpa da falta de comida à expansão dos biocombustíveis, que supostamente ocupariam áreas antes destinadas aos alimentos. Para discutir a situação, Chávez convocou, na quarta-feira 23, uma reunião extraordinária da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), da qual fazem parte Cuba, Bolívia, Nicarágua e Venezuela.

Preocupado com uma onda de violência no Haiti, o Brasil enviou neste mês à ilha caribenha 14 toneladas de feijão, açúcar e óleo de cozinha. Ao sul do continente, a presidente Cristina Kirchner deparou-se com uma Argentina em greve de associações ruralistas, quando taxou as exportações de soja e de semente de girassol em março. Além disso, as exportações de trigo do país vizinho para o mercado brasileiro continuam suspensas. O Brasil importa da Argentina 70% do trigo que consome e tem contornado a situação com compras dos Estados Unidos e do Canadá.

Em medida emergencial, para garantir o abastecimento interno e conter a inflação, o Ministério da Agricultura brasileiro anunciou a suspensão da exportação do arroz dos estoques do governo, na quarta 23, e pode estender a medida ao milho. No mesmo dia, a rede de atacado americana Sam's Club informou que vai limitar a venda de arroz ao consumidor. Cada cliente terá um teto de quatro sacos de 9 quilos do produto por mês. A questão deixou de ser estatística, com impacto nos índices inflacionários mundiais, para adentrar à seara política. São recorrentes as revoltas, os saques e as manifestações em Moçambique, Iêmen, Uzbequistão, Peru, Indonésia, Mauritânia, Camarões, Egito e Senegal.

Como por encanto, o tema segurança alimentar substituiu o petróleo como a maior preocupação do planeta. Isso apesar de o barril ter se aproximado da marca dos 120 dólares e contribuir, de forma significativa, para a alta dos preços dos alimentos, pois muitos derivados são fundamentais na lavoura e no transporte
. Ainda que de maneira equivocada e tardia, o assunto chegou à agenda dos organismos internacionais. Os biocombustíveis foram repentinamente retirados da lista de salvadores do meio ambiente e passaram a figurar na coluna dos principais vilões da inflação mundial. De fato, a produção de etanol do milho tem avançado, nos Estados Unidos, sobre lavouras antes dedicadas ao abastecimento de comida. Mas está longe de ser o caso do etanol brasileiro, produzido a partir da cana-de-açúcar.

A afobação para se achar um culpado obnubilou a boa análise. O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, disse que a produção de combustíveis, em detrimento de alimentos, era uma questão "moral". O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, também resumiu a questão em encher ou não os tanques dos automóveis. Coube ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, o papel de mediador do debate, com uma dose de equilíbrio. Segundo ele, são muitas as razões para a alta de alimentos, que não se esgotam na competição entre biocombustíveis e agricultura.

Há, no horizonte, um motivo para a crescente crítica dos países industrializados aos biocombustíveis e ele não está baseado em repentinas preocupações humanitárias. Tem a ver com negócios e interesses geopolíticos. Está previsto para 19 de maio um encontro ministerial que visa encerrar a Rodada de Doha, iniciada em 2001, da Organização Mundial do Comércio (OMC). O embate se concentra na questão dos subsídios dos países ricos (Estados Unidos, Japão e nações européias) aos produtores agrícolas. Tanto que o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, alertou para a intransigência do Primeiro Mundo, cujos bilhões de dólares e euros destinados ao campo estariam desestimulando o aumento da oferta de alimentos por parte dos países em desenvolvimento.

Amorim acenou, no entanto, a bandeira branca, na terça-feira 22, e disse que o Itamaraty está disposto a aceitar uma abertura negociada do mercado brasileiro às manufaturas estrangeiras, em troca de uma "redução substancial" dos subsídios. O que se teme é o fracasso da rodada, se não ocorrer neste primeiro semestre, em razão da mudança do governo nos EUA, com a eleição presidencial. Os democratas, com boas chances de vitória, são tidos como mais protecionistas do que os republicanos. A questão de fundo não é o etanol, cuja importância foi fortemente defendida pelo presidente Lula, em revide aos ataques do FMI e do Banco Mundial. Há muito mais em jogo.

De acordo com o professor José Maria da Silveira, do Núcleo de Economia Agrícola da Unicamp, quatro fatores explicam a atual crise. Primeiro, e inegável, é a inclusão dos cidadãos chineses e indianos no mercado mundial. São 450 milhões de consumidores que deixaram a linha de pobreza, desequilibraram as leis de oferta e demanda e surpreenderam a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que foi "desleixada" em relação à pesquisa agrícola e assistiu passivamente à produtividade do setor desabar, segundo o economista.

No mundo desenvolvido, os Estados Unidos e a Europa não abrem mão dos subsídios aos agricultores. O resultado foi a falência das chamadas fazendas familiares americanas, que perderam o trem do avanço tecnológico, fato aguçado pela desvalorização do dólar, que ajudou a bombar os preços das commodities agrícolas. De seu lado, os países europeus sentaram em cima do protecionismo, com o estabelecimento de cotas regionais e produção de alimentos de origem controlada e grife, "que não enche a barriga do mundo", como foie gras, azeites, vinhos e embutidos. "Tudo cercado de um modelo empresarial ultrapassado", diz Silveira.

E qual é a saída? Lucilio Rogério Aparecido Alves, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/Universidade de São Paulo), acredita que os mercados vão se definir por si só. "Há um aumento forte na demanda de alimentos, desde 2006, e o Brasil tem um papel importante diante desse cenário, por ter um bom volume de produção disponível e por ser o único país, no mundo, com áreas disponíveis para aumentar a produção", diz Alves, também pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP.

Ele ressalta que as novas lavouras não precisam avançar sobre a Amazônia. "Temos áreas de pecuária não competitiva que podem ceder espaço para grãos, como soja e milho. Se isso vai acontecer ou não, dependerá da relação de preços." Mas o professor destaca que o Brasil tem uma enorme lista de deveres de casa a cumprir, desde desenvolver pesquisas para aumentar a produtividade até realizar melhoras na infra-estrutura. "Isso depende de muito investimento, e não é necessariamente um Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que vai resolver", alerta.

Não há, é óbvio, solução mágica de curto prazo nem o Brasil será capaz, sozinho, de desempenhar o papel de celeiro do mundo. O tema é candente e merece atenção imediata, daí o desespero que tomou conta das autoridades mundiais. Segundo levantamento da organização americana Council on Foreign Relations, além do Brasil e da Argentina, a escassez de alimentos levou vários países a suspender as exportações, para abastecer o mercado interno. É o caso do Cazaquistão, importante supridor de trigo para a Ásia Central, do Vietnã, o segundo maior exportador mundial de arroz e da Índia.

Na reunião de primavera do FMI, em meados de abril, Zoellick, do Banco Mundial, propôs um tipo de New Deal para a Política Global de Alimentos, que incluiria a doação de 500 milhões de dólares dos países ricos para transferências em dinheiro vivo às populações com fome, além da elaboração de programas que resultem em maior produção mundial. Tal iniciativa seria emergencial e não toca no problema central. Falta comida e sobra especulação dos mercados financeiros. Para o semanário britânico The Economist, a crise dos alimentos deveria ser levada tão a sério como a do subprime. Seria urgente a criação de um fundo de ao menos 700 milhões de dólares para ajuda humanitária aos países mais pobres.

Na esteira da carência mundial, entraram em cena os especuladores. A publicação dedicada a finanças Barron's, do grupo The Wall Street Journal, informou em 31 de março deste ano que ao menos 40% das apostas em mercados futuros de commodities estão em mãos de fundos altamente especulativos. Em razão da crise americana do subprime, os investidores em busca de alto retorno migraram para os contratos futuros de alimentos e metais. Para ter uma idéia da força das finanças, entre 31 de dezembro de 2004 e 31 de março de 2008, os preços futuros dos grãos e sementes deram um salto de 163%, de acordo com o conceituado índice CRB da Reuters.

A especulação não surgiu do nada. Tem como base a percepção de que está em curso uma mudança estrutural da economia mundial. Segundo Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs) e antigo observador das rodadas mundiais de comércio, há uma somatória de fatores que fez o mundo acordar para a questão alimentar. O programa de etanol do milho nos Estados Unidos "enxugou" muito da oferta global. Antes mesmo disso, afirma, houve o crescimento acelerado da China, que passou a demandar toneladas de soja e fertilizantes. Assim como a Rússia, grande importadora de carne do Brasil.

Ele cita também a Austrália, que passa por seguidas secas há anos, e desabasteceu o mundo, principalmente, de leite e derivados. Por fim, a desconfiança dos ativos financeiros americanos e europeus com a crise hipotecária do subprime gerou a busca por ativos reais, como grãos e metais preciosos. "Para atender ao aumento da demanda, é preciso o mundo todo produzir mais", diz. Camargo Neto é cético em relação aos resultados da Rodada de Doha, pelas iniciativas protecionistas que se multiplicam mundo afora.

Para o empresário, os arcabouços de organização global, representados pelo FMI, Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio, por exemplo, enfrentam uma crise por ter sido criados para atender às iniciativas das nações ricas. Como o eixo do poder está se movendo em direção aos emergentes, cujas demandas ganharam fôlego, as negociações emperram.

A hora e a vez, segundo especialistas, é do Brasil e dos países africanos. Apostar em inovação tecnológica é a chave para o abastecimento global, com o horizonte de preços em ascensão, diz Silveira, da Unicamp. Trancar os mercados é ato impensado, fruto da inoperância dos acordos multilaterais. O desafio é expandir uma produção agrícola menos intensiva em energia, com respeito ao meio ambiente, e arranjos produtivos que combinem tecnologia e inovação, além de incentivar esquemas de cooperativas para que o crédito chegue ao produtor rural. Não há alternativa.

O mundo precisa mudar, antes que a próxima crise se una à atual. Seria um disparate se, ao mesmo tempo que enfrenta a escassez de comida, o planeta começasse a ter problemas no fornecimento de água potável, a desencadear uma nova disputa global.














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sábado, 26 de abril de 2008

A inflação da fome, o que a imprensa não diz




O que a imprensa não diz sobre a inflação da fome
Observatório da Imprensa - Luciano Martins Costa - 16/04/2008
http://mercadoetico.terra.com.br/noticias.view.php?id=2717





O noticiário dos últimos dias sobre o risco de uma crise inflacionária mundial, que afetaria com especial severidade os países mais pobres, oferece uma excelente oportunidade para se observar a dificuldade que tem a imprensa para dar uma interpretação mais profunda sobre o estado do mundo. Praticamente tudo que se publica é originado em duas ou três agências de notícias, o que induz a acreditar que se trata de uma deficiência planetária.

Vejamos os pontos principais do fenômeno: os preços dos alimentos básicos, in natura – parte do conjunto de mercadorias chamadas de commodities – vêm aumentando progressivamente ao longo dos últimos 16 meses, com uma aceleração acentuada no último trimestre. Trigo e arroz estão no topo da lista dos grãos mais consumidos, respectivamente a Oeste e a Leste do planeta. O milho completa o cardápio dos mais pobres, que são, segundo o informe Indicadores do Desenvolvimento Mundial para 2008, do Banco Mundial, 880 milhões de pessoas.

Esses indicadores vêm apontando o decréscimo do número de seres humanos extremamente pobres, que dispõem de valores correspondentes a menos de um dólar por dia. Essas são as pessoas que a imprensa chama pobres ou miseráveis, cujas vidas se caracterizam pela necessidade de lutar diariamente por alimento. São não-consumidores, não-cidadãos.

Antes que os sarcásticos elaborem a anedota de mau gosto, deve-se afirmar que o número de pobres não está acabando porque eles morrem. A pobreza vem diminuindo no mundo porque, desde o início deste século, os chamados países em desenvolvimento– sofisma menos indigesto para o que se chamava antigamente de Terceiro Mundo – apresentam uma taxa média de crescimento do PIB per capita de 4,8% ao ano. O PIB per capita resulta do cálculo da riqueza produzida pelo país, dividida pelo número de habitantes, o que revela quase uma ficção, conforme se dá a distribuição de riqueza e bem-estar – com os abismos sociais que se conhece.

Atenção para o fato de que o constante declínio da pobreza mundial desde 1993 aconteceu principalmente na zona rural, visto que a miséria nas cidades permanece mais ou menos constante. A ONU estima que 80% do declínio da pobreza rural se deve à melhoria das condições de vida no campo, e não à migração para as cidades. Isso deve ser levado em conta no noticiário sobre a crise que pode afetar a produção de alimentos.



Fronteiras agrícolas

A "inflação de alimentos" tem parte da origem nesse fenômeno: mais gente cisma de comer todos os dias, aumenta a pressão da demanda sobre a oferta, o preço sobe. Essa a explicação que a imprensa nos empurra nas primeiras linhas das reportagens. É como se o editor nos dissesse: "Procura maior, demanda menor, preço sobe. É o capitalismo, seu estúpido". Até o presidente Lula comemorou: é a "inflação do bem", aquela que aparece porque o miserável está saindo da miséria. No fundo, ele tem razão, mas seu raciocínio não completa o desenho.

Tem mais. Nos parágrafos seguintes, os jornais e revistas nos dizem que o preço dos alimentos subiu também porque parte das terras agriculturáveis está sendo utilizada para a produção de biocombustíveis. E os acionistas das empresas petrolíferas sorriem, abrem a caixa de anúncios, investem na semeadura de suspeitas sobre os projetos de substituição da matriz energética petrolífera. Em algum canto, alguém observa que o problema da competição entre o vegetal para consumo e o vegetal para fazer combustível acontece principalmente nos Estados Unidos, onde a disponibilidade de terras agriculturáveis é muito pequena. Nada a ver com o etanol brasileiro. Mas isso fica no pé da matéria.

O Brasil tem um potencial de quase 70% de suas terras agriculturáveis esperando o plantio de vegetais, sejam eles destinados a alimentar pessoas, gado, aves ou preparados para se transformar em álcool ou óleo combustível. Pela mesma razão, não há forma inteligente de justificar o avanço das lavouras sobre o cerrado e a Amazônia. A crença de que o brasileiro tem que escolher entre alimentar seu povo e abastecer seu carro é fruto de uma avaliação divulgada por Lester Brown, criador do WWI – sigla em inglês de World Watch Institute, que no Brasil se chama Instituto Mundial para a Liberdade, o Progresso e a Paz Global –, especialista em economia agrícola.

Muitos outros especialistas o contradizem e consideram sua campanha "comida versus combustível" pura demagogia. Pelo menos no caso do etanol brasileiro, a expansão da lavoura com finalidade de produção de combustíveis necessita apenas de mais ordenamento e mais responsabilidade dos empresários rurais. O Brasil possui uma área total de 845,94 milhões de hectares de terras agriculturáveis, das quais utiliza apenas 263,58 milhões de hectares para atividades agrícolas, ou seja, menos de 32% do seu potencial. Isso indica a possibilidade de expansão das fronteiras agrícolas do país e da capacidade de ampliação da produção de grãos, sem que seja necessário destruir nossa riqueza natural. Além disso, a agricultura brasileira, mesmo em pequenas propriedades, vem melhorando enormemente sua produtividade, na medida em que práticas primitivas de preparação e plantio vão sendo substituídas com a assistência de técnicos qualificados formados por aqui.



Validade endossada

O problema real, no caso brasileiro, tem origens mais antigas do que a invenção do velho Proalcool: trata-se da gestão territorial do país, que nunca considerou seriamente uma reforma agrária com o pressuposto da sustentabilidade. A lavoura avança sobre a floresta porque é administrada por delinqüentes, sob a proteção de governos de estados que formam a Amazônia Legal e sob o olhar complacente do governo federal. A ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, é quase uma extraterrestre nesse ambiente. Muitos desses delinqüentes são agricultores pobres, sem terra, que são tangidos pelo avanço dos latifúndios. Eles queimam a floresta, formam pastagens, soltam o gado, depois fazem o rocio. Atrás deles vem o agronegócio.

Mesmo o álcool de milho, alternativa tecnológica dos Estados Unidos baseada na tradição da agricultura local, não deverá no longo prazo continuar sendo um fator de inibição para a produção agrícola. Com o avanço das pesquisas tecnológicas, estamos perto de poder produzir álcool com a palha e a espiga do milho. Como não consta entre as preferências gastronômicas, nem mesmo dos mais pobres, a degustação de espigas, naturalmente as sementes de milho seguirão sendo destinadas ao consumo humano e animal e as demais partes da planta, inclusive a haste, irão para a usina de álcool.

Claro que os subsídios do governo americano aos seus agricultores representam uma pressão adicional sobre o movimento inflacionário que nasce nos preços dos alimentos. Como é que um agricultor da África ou do Peru pode competir com um produtor do Meio-Oeste americano? Observe-se que os insumos agrícolas são fornecidos por multinacionais, que dominam também o mercado de sementes e equipamentos, e pode-se calcular o que é esse tal de mercado "livre". Esse aspecto adicional da notícia também aparece nas reportagens, meio envergonhadamente, mas não há jornal ou revista que se aventure a colocar em dúvida a validade do sistema econômico que se afirma "liberal".



Sistema de castas

Por último, mas não menos importante, vem outro ângulo da questão, que tem seu endereço muito longe das lavouras de milho, de trigo ou de arroz: o mercado de ações, onde as commodities vêm ocupando um espaço cada vez mais relevante. De olho na inclusão de quase 1 bilhão de indivíduos na lista dos seres humanos que insistem em se alimentar diariamente, e com a perspectiva de consolidação da indústria de combustíveis alternativos – o mercado de commodities também lida com minérios e outros produtos cuja demanda cresce continuamente –, os investidores depositaram fortunas nas bolsas, na expectativa de aumento dos preços. Em algum momento, a expectativa se realiza, os preços começam a subir, mais investimento é derramado na fogueira, e de repente o mundo se assombra com uma inflação de alimentos básicos.

Já não se pode, como teria feito Maria Antonieta, sugerir que, não havendo pão, os pobres comam brioches. Ou, numa versão nacional, não havendo farinha para tapioca, que se coma caviar. Afinal, somos todos politicamente corretos. A imprensa, então, nem se fala. É profundamente ecológica e socialmente responsável. Basta ler os cadernos especiais sobre Amazônia que são publicados de vez em quando.

Você, leitor e leitora, ainda vai ler muito mais sobre essa crise, porque não há recursos no sistema econômico mundial para contê-la antes que provoque muita fome e distúrbios sociais. Não por falta de dinheiro, mas por falta de lideranças, de vontade política, de condições logísticas e de desprendimento.

O dinheiro necessário para salvar alguns milhões de seres humanos ameaçados pela inanição é uma bagatela: 500 milhões de dólares. Isso é uma fração da fortuna pessoal do mais vistoso empresário brasileiro pertencente à cepa dos "sustentáveis". O que você provavelmente nunca vai ler é uma análise honesta da imprensa sobre o sistema econômico que divide os seres humanos em castas e considera que uns podem tudo e outros… bem, esses outros não compram jornais.







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domingo, 3 de fevereiro de 2008

Comer Virou uma Religião



Comer virou uma religião
Suzane Frutuoso - Revista Época - nº 504 de de 14/01/2008

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG81030-9556-504,00.html


O sociólogo diz que as pessoas sentem cada vez mais culpa pelas refeições, em vez de prazer.


O americano Barry Glassner, autor do livro "Os Segredos da Alimentação Saudável" (editora Larousse), lançado em dezembro no Brasil, é um crítico da cultura alimentar contemporânea. Segundo ele, a fixação por alimentos saudáveis rouba o prazer de uma boa refeição. Glassner não tem qualquer vínculo com o universo da nutrição. Como sociólogo, estuda o medo. Ao perceber que muitas pessoas desenvolvem um pavor desproporcional em relação a alguns alimentos, decidiu refletir sobre o assunto. Para isso, entrevistou chefs, nutricionistas, psicólogos, jornalistas e representantes da indústria de alimentos.



Barry Glassner


Revista Época – Por que o senhor afirma que comer hoje é “uma religião”?

Barry Glassner – Historicamente, todas as sociedades construíram preferências e também proibições em relação à comida. Em geral, elas tinham a ver com ensinamentos religiosos. Por exemplo, a proibição da carne de porco tanto no islamismo quanto no judaísmo. No catolicismo, há a exigência do peixe na Sexta-Feira Santa. Nos dias de hoje, apesar de as cobranças das religiões sobre alimentação terem menos importância, um grande número de pessoas come como se seguisse uma religião. Temos rituais no preparo dos alimentos, no modo como comemos. Restaurantes são como templos e conferem status. Imaginamos que alimentos naturais serão especiais para nós de alguma maneira.



RE – Mas buscar uma alimentação saudável, para melhorar a qualidade de vida, não é importante?

Glassner – Sim. Sou a favor de uma alimentação saudável. Devemos ter uma dieta o mais equilibrada possível. Não significa idealizar certos tipos de comida. Por exemplo, comidas com altos teores de gordura são desconsideradas. A indústria criou os alimentos light. Mas a gordura é fonte de energia e também ajuda na absorção de uma série de nutrientes.



RE – O senhor diz que essa busca pela comida saudável se tornou um exagero. Mas o que vemos é o crescimento da obesidade no mundo todo...

Glassner – As explicações sobre a epidemia de obesidade são muito simplistas. As razões para o grande número de obesos não estão claras. A culpa é jogada nas cadeias de fast-food. Olhando cuidadosamente para as evidências, essa explicação não se sustenta. Nos Estados Unidos, dizem que a obesidade cresceu na mesma proporção que a indústria do fast-food ganhou força. Mas não é verdade.



RE – Não?

Glassner – Não mesmo. Nos anos 70, o McDonald’s chegou a 10 mil restaurantes só nos EUA. Outras cadeias de fast-food surgiram e cresceram também. Mas naquela época a epidemia de obesidade não aparecia. Uma verdade óbvia é que as pessoas estão mais gordas porque comem demais. Mais do que precisam. Mas também há pessoas obesas que não comem muito. Como explicar isso? E outras que comem muito e são magras. Temos de olhar para as respostas da ciência, como casos de hereditariedade. E os hábitos das pessoas, como comer muito e não se exercitar.



RE – É possível comer com prazer e ao mesmo tempo combater fatores de risco cardiovasculares como obesidade, diabetes, hipertensão, colesterol alto?

Glassner – É claro que existem pessoas com problemas específicos de saúde e que precisam de dietas especiais. Esse é o caminho para que tenham qualidade de vida, e não há muito o que mudar. Há restrições. Mas a maioria das pessoas que vão atrás de dietas especiais não se encaixa nessas condições de saúde que requerem mais cuidados. Elas querem apenas ser magras ou acreditam que comendo de uma forma específica vão viver mais. Por exemplo, alguém que sofre de diabetes não pode ingerir açúcar. Mas quem não tem, por que deixa o açúcar? Porque essa pessoa acredita que será melhor, quando na verdade pode até fazer falta dentro de sua dieta geral. Torna-se insuportável viver assim. A pessoa perde o prazer de se alimentar com o que gosta e enxerga a comida como algo negativo. Emocionalmente, não é saudável.



RE – O senhor não acha que comida gordurosa é um perigo?

Glassner – Ingerir em excesso alimentos com gordura é ruim para a saúde. Comer brócolis em todas as refeições também não faz bem. Qualquer coisa que se coma além da conta não terá um efeito positivo. Quero deixar claro que o ruim é focar uma pequena variedade de comida. E também se exceder no consumo dessa pequena variedade. Isso traz debilidades para o corpo.



RE – Qual é o povo que mais comete erros na hora de se alimentar?

Glassner – O americano é o pior. Os ingleses também. Esses povos consomem gordura trans demais, a mais artificial e prejudicial. Por outro lado, também consomem em excesso os alimentos livres de qualquer tipo de gordura, os light e diet. E ainda fazem refeições rápidas demais ou pulam refeições. As pessoas esquecem que, se não aproveitam e não sentem prazer durante as refeições, não alcançam reais benefícios para a saúde.


Ingerir em excesso alimentos com gordura é ruim para a saúde.

Comer brócolis em todas as refeições também não faz bem.



RE – O senhor diz que os nutrientes são mais bem absorvidos quando a pessoa come com prazer. Pode dar um exemplo?

Glassner – Um de meus estudos favoritos é o que compara mulheres da Suécia e da Tailândia e a reação delas ao comer um mesmo prato tailandês. As suecas acharam muito condimentado, enquanto as tailandesas absorveram muito mais ferro durante a refeição. Quando a pesquisa foi invertida, serviram-se hambúrguer, batatas e amendoins. Nesse caso, as suecas absorveram uma quantidade de ferro maior. As mulheres absorveram melhor os nutrientes de acordo com o prato que mais lhes agradava.



RE – Qual país é bom exemplo em alimentação?

Glassner – O exemplo famoso é a França. A tradição alimentar do país, de comer devagar e comer coisas de que gostam, é um orgulho para os franceses. Nada de produtos light. Eles comem manteiga, pães, doces... tudo o que os americanos dizem que é prejudicial. Mas as taxas de mortalidade por ataque cardíaco são próximas nos dois países.



RE – O que é uma boa refeição? Como ela pode ser prazerosa e saudável?

Glassner – O que importa é manter pelo menos duas das refeições diárias balanceadas, consumindo uma boa quantidade de frutas, legumes e verduras. As pessoas precisam gostar do que comem.



RE – Posso comer um pedaço de bolo de chocolate todo dia?

Glassner – Se você comer bolo de chocolate todo dia, será um exagero. Moderação é importante. Não coma bolo de chocolate todo dia.



RE – O que é o “evangelho da carência”, que o senhor cita no livro?

Glassner – É o hábito que as pessoas criaram de se submeter a essa visão de não comer de tudo, achando que será bom para a saúde. Elas criam carências nutricionais. Tiram da dieta várias substâncias, mesmo sem necessidade, como açúcar, carboidratos, gorduras. Acaba não sobrando quase nada. É uma estranha noção de que, quanto menos você ingerir, melhor será sua refeição. É uma loucura acreditar que o que faz uma refeição ótima é o que ela não tem.



RE – Quem é o atual vilão da alimentação? E qual vilão foi inocentado?

Glassner – Muda o tempo todo. Hoje, os vilões são alimentos com alto teor de gordura e carboidratos (pães, massas). O problema é que é muito difícil conseguir uma dieta saudável e prazerosa sem esse tipo de comida. É gostoso e ajuda o organismo a funcionar bem. Um bom exemplo de ex-vilão é o ovo. Há 20 anos, o ovo era demonizado por causa do alto colesterol. Hoje, os ovos são considerados um grande alimento porque têm muitos nutrientes e podem ser preparados e combinados em diferentes pratos.



RE – O que leva em consideração na hora em que escolhe uma refeição?

Glassner – A qualidade da comida, o quanto vou aproveitar o prato e o que mais comi durante o dia. Por exemplo, à noite sei que vou jantar peixe – que adoro. Então, não vou almoçar peixe. Escolho outro alimento para comer um pouco de tudo.



RE – O senhor já fez dieta? Corta alguma coisa do cardápio?

Glassner – Não. Nunca. E vejo a dieta como um paradoxo. As pessoas seguem dietas para emagrecer. Mas acabam ganhando peso novamente. Às vezes, até mais. Estudos mostram que pessoas que freqüentemente fazem dieta acabam engordando de novo. Dietas funcionam por um curto período.



RE – Então, seu conselho é “coma o que quiser”?

Glassner – Não. Se você comer excessivamente, não vai se sentir bem depois. Coma suas comidas favoritas, mas em pequenas quantidades. O maior erro que as pessoas cometem é comer grandes quantidades de poucos itens. Aí não agüentam nem comer os pratos que mais gostam.





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