Se telefonar, não dirija
Riad Younes - Revista Carta Capital nº 556 de 29/07/2009
http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=6&i=4681
Riad Younes - Revista Carta Capital nº 556 de 29/07/2009
http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=6&i=4681
O uso de telefones celulares revolucionou a comunicação entre as pessoas de forma que muitos esqueceram como vivíamos sem este aparelho fundamental à evolução da espécie.
Tão logo um cidadão adquire o santo instrumento da felicidade humana, imediatamente se torna seu escravo. Viciado em fazer ligações e responder imediatamente a chamados.
Qualquer dúvida, por mais banal, torna-se uma urgência inadiável. A mão se estende rapidamente ao celular. A ligação é feita. Alívio geral. Na maior parte do dia, isso, além de cômico, não faz muito mal. Exceto ao bolso.
Caso a pessoa esteja dirigindo, no entanto, falar ao telefone pode se tornar uma tragédia. Estudos científicos realizados há cinco anos demonstraram, claramente, a relação entre o uso de telefone celular e o aumento do risco de acidentes automobilísticos graves.
A maioria dessas pesquisas aponta para um aumento de 4 a 5,9 vezes nas chances de o motorista se distrair e bater o carro. Recentemente, foram disseminados ao redor do mundo aparelhos capazes de garantir ao motorista a possibilidade de continuar a sua conversa telefônica sem precisar segurar o celular com uma das mãos. Os famosos métodos hands free, ou mãos livres: são fones de ouvido ligados diretamente ao telefone ou a tecnologia blue tooth, conectados sem fio, e ainda equipamentos viva-voz. Todos permitem telefonar mantendo as mãos ao volante.
O problema parecia ter sido resolvido, mas estudos publicados recentemente chamam a atenção para o perigo dessas tecnologias. Uma pesquisa realizada na Universidade do Arizona, em Phoenix, demonstrou que o emprego de equipamentos hands free não conseguiu reduzir de forma clara os riscos de acidentes automobilísticos. Basta falar ao telefone, segurando ou não o aparelho, que este risco aumenta em mais de quatro vezes. O pesquisador D. L. Straver, da Universidade de Utah (EUA), demonstrou que dirigir enquanto se fala ao telefone tem o mesmo nível de risco de acidentes que dirigir bêbado, intoxicado por etanol.
O problema do uso do celular ao volante não é de mãos, mas de cérebro. Problema de foco e atenção. Quando um indivíduo fala ao telefone, constatou Straver, ele mobiliza uma parte importante do cérebro, responsável pela capacidade de atenção.
Um estudo extenso publicado recentemente na revista científica Traffic Injury Prevention fez uma revisão detalhada de todas as pesquisas divulgadas em revistas médicas e chegou à seguinte conclusão. O uso de telefone celular por motoristas aumenta substancialmente o risco de acidentes, tanto para homens ou mulheres, quanto para velhos ou jovens, usando ou não tecnologia hands free.
Os especialistas em segurança de trânsito sugerem leis para banir totalmente o uso de celular ao volante dos carros. Vai ser uma guerra contra os lobbies da indústria dos celulares e de seus acessórios.
* * * * * * * *
Riad Younes