De Volta à Vida
Suzane Frutuoso - Revista Época nº 496 de 12/11/2007
Como as novas técnicas da medicina estão
conseguindo ressuscitar as vítimas de parada cardíaca.
Um relato da fronteira entre a vida e a morte.
Adilson de Freitas Nascimento, de 55 anos, sabe exatamente onde morreu: na quadra de basquete do Club Athletico Paulistano. Eram 20h45 do dia 6 de abril de 2005, uma quarta-feira agradável, nem quente nem fria. Antes de vestir o uniforme azul marinho e branco do time de veteranos do Clube Paineiras do Morumby, Adilson assistiu ao treino da equipe juvenil e do time de pólo aquático. Daí em diante não se lembra de mais nada.
Tudo o que sabe sobre seu flerte com a morte é baseado no relato dos colegas que naquela noite dividiam a quadra com o atleta que representou o Brasil nas Olimpíadas de Munique (1972), Moscou (1980) e Los Angeles (1984). Adilson não tinha mais a destreza dos 13 anos em que esteve na seleção brasileira. Mas não decepcionou no jogo que se tornaria o mais marcante de sua vida. Fez os primeiros 12 pontos. Estava com a bola na mão, preparando a próxima cesta, quando despencou.
O gigante de 1,95 metro ficou estatelado no chão. Inconsciente. Sem pulso. Sem respiração. Esse é o conceito tradicional de morte clínica, uma das definições possíveis para delimitar o fim da vida. "Morri por três minutos", diz. A situação gravíssima vivida por Adilson é chamada de morte súbita provocada por parada cardíaca. É a causa de 260 mil óbitos por ano no Brasil e de 3 milhões no mundo. Em 95% dos casos, a parada cardíaca não pode ser revertida. Poucos pacientes voltam para contar sua história. A recuperação de Adilson é uma raridade. Mas há uma mudança em curso.
O Sobrevivente
Adilson Nascimento morreu em 06 de abril de 2005 e foi ressuscitado durante um jogo de basquete no Club Athletico Paulistano. Ele é um caso raríssimo de recuperação. Acima, Adilson na quadra onde experimentou a morte por três minutos.
Para algumas pessoas, esses fenômenos são sobrenaturais. Em outubro foi lançado nos Estados Unidos o The Big Book of Near-Death Experiences (O Grande Livro das Experiências de Quase-Morte), a segunda obra da autora P.M.H. Atwater sobre o assunto. Antes de se dedicar ao tema, Atwater foi professora do ensino básico e secretária. Virou escritora depois de pesquisar sobre paranormalidade e estados alterados de consciência. Diz ter entrevistado 4 mil pessoas que passaram pela mesma situação desde 1978. O livro é recheado de desenhos sobre a experiência da quase-morte feitos pelos entrevistados. Alguns deles ilustram esta reportagem.
Adilson não teve morte cerebral, o que significaria o cessar irreversível da atividade do cérebro. Não estava, portanto, legalmente morto, pronto para ser enterrado. Mas estava morto o suficiente para aterrorizar os colegas. Desesperados, eles gritaram por socorro. E tiveram uma ajuda preciosa. Os funcionários do clube haviam acabado de receber treinamento para agir em casos de morte súbita. Um professor de ginástica que assistia à partida debruçado sobre a grade entrou em ação. Começou a ressuscitar o atleta com massagem cardíaca e respiração boca a boca. Elas evitam que a circulação sanguínea seja totalmente interrompida e ajudam o oxigênio a chegar ao cérebro. Em menos de três minutos, outro funcionário trouxe um desfibrilador.
O aparelho emite uma descarga elétrica para corrigir um problema chamado fibrilação ventricular. Em casos como o de Adilson, um caos elétrico faz com que o coração trema em vez de bombear o sangue. Isso leva à parada cardíaca. O desfibrilador emite choques que restauram o ritmo correto dos batimentos cardíacos. Adilson teve a sorte de morrer numa ilha de excelência: havia oito desfibriladores espalhados pelo clube. Situação ímpar no Brasil. A instalação desses aparelhos em locais públicos é obrigatória em cidades como São Paulo, Londrina e Porto Alegre. Mas quem cumpre a determinação? "Não existe controle para saber quais locais têm os aparelhos", diz o médico Hélio Penna Guimarães, da Sociedade Brasileira de Cardiologia. O desfibrilador pode ser manuseado por qualquer pessoa. Por meio de eletrodos, verifica-se se a vítima está sofrendo uma fibrilação. Confirmado o problema, basta apertar um botão para disparar o choque salvador.
Os médicos aprendem que o cérebro começa a morrer por falta de oxigênio quando a pessoa fica cinco minutos sem pulsação cardíaca. Quem sobrevive pode ter seqüelas como paralisia, dificuldade de fala, locomoção e memória. Em dez minutos sem assistência costuma ocorrer a morte cerebral. Uma nova visão sobre esse processo ganha força entre os cientistas. Em vez de disparar um mecanismo de liga-e-desliga, a privação de oxigênio é vista agora como o início de uma cadeia de reações dentro e fora das células. Esses fenômenos podem acontecer nas horas e nos dias seguintes. A ressuscitação bem-sucedida, portanto, é apenas uma batalha ganha. A verdadeira luta pela vida começa depois dela.
A Exceção
Genelice da Silva Lima morreu em 12 de janeiro de 2005. Depois de sofrer três paradas cardíacas no hospital, Genelice permaneceu sem sinais vitais durante 20 minutos. Os médicos duvidaram que ela sobrevivesse sem seqüelas. Estavam enganados.
Genelice da Silva Lima morreu em 12 de janeiro de 2005. Depois de sofrer três paradas cardíacas no hospital, Genelice permaneceu sem sinais vitais durante 20 minutos. Os médicos duvidaram que ela sobrevivesse sem seqüelas. Estavam enganados.
As células ficam estragadas por causa da parada cardíaca, que interrompe o fornecimento de oxigênio. Imediatamente, começam a cometer suicídio. Ao mesmo tempo, ocorre outro processo. Quando o paciente é socorrido e as células voltam a receber oxigênio, o organismo confunde as células reoxigenadas com células anormais. Também ordena o suicídio delas. Os cientistas estão procurando uma forma de interromper esse processo. Várias drogas e técnicas foram testadas em 100 mil pacientes ao redor do mundo. Nada deu certo.
As esperanças estão concentradas num novo recurso: a hipotermia. Os estudos sugerem que baixar a temperatura do corpo do paciente nas 24 horas depois da ressuscitação preserva as células do cérebro. A temperatura normal de 37 graus é reduzida para algo entre 32 e 34 graus. Isso parece inibir o suicídio celular. "Até agora, a hipotermia é a terapia mais bem-sucedida", afirma Kern. Um estudo realizado em cinco países europeus pelo médico Michael Holzer, da Universidade Médica de Viena, na Áustria, revelou que 55% dos pacientes que passaram pela hipotermia induzida com manta térmica sofreram menos seqüelas neurológicas. No grupo sem resfriamento, o índice foi de 39%.
A primeira grande conferência sobre resfriamento foi realizada em fevereiro nos Estados Unidos. "Apesar dos estudos favoráveis ao método e do aval da American Heart Association, a hipotermia ainda não pegou", diz Daniel Herr, do Washington Hospital Center. Menos ainda no Brasil. O resfriamento só pode ser aplicado em pacientes que tiveram fibrilação ventricular e que seriam resfriados até uma hora depois da parada cardíaca. É útil, portanto, a uma pequena parcela dos pacientes. Por enquanto, ela é realizada no país com bolsas de gelo ou mantas térmicas.
Para o cardiologista Fernando Cruz, coordenador do Centro de Estudos do Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio de Janeiro, a hipotermia ainda é controversa. Por isso, o investimento numa máquina cara não se justificaria. "Uma vez estabelecido o dano cerebral, a reversão é difícil", afirma. A hipotermia, diz o médico, seria válida para pacientes que receberam a ressuscitação corretamente desde o início da parada cardíaca. "Isso é raríssimo".
Não há consenso sobre o assunto, mas os cardiologistas estão trabalhando para isso. "Em 2005, a American Heart Association concluiu que a hipotermia era importante e eficaz", diz Sergio Timerman, do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo. Em 2010, deverá definir qual é a melhor técnica e o momento ideal de aplicá-la. "Se salvar o paciente, o custo do aparelho vai ser menor que manter a pessoa na UTI ou deixá-la incapacitada para o resto da vida".
O americano Lance Becker, diretor do Centro de Ciências da Ressuscitação da Universidade da Pensilvânia, estuda a relação entre parada cardíaca e morte celular há mais de duas décadas. O objetivo de Becker é triplicar o tempo de ação de quem tenta ressuscitar a vítima. Evitar que o dano cerebral comece cinco minutos depois da parada cardíaca. Ele acredita que o antídoto contra as lesões é a hipotermia. Mas tem mais dúvidas que certezas. "Ainda não conhecemos os principais aspectos da morte súbita: qual a melhor maneira de realizar a ressuscitação, como controlar o resfriamento do corpo, quais tratamentos são válidos e quais os cuidados necessários para que o estado de quem foi ressuscitado não se deteriore rápido", diz.
O encontro de Adilson com a morte parece ter sido causado pelas artérias entupidas e pela hipertensão. Ele não suspeitava das obstruções, mas sabia que era hipertenso. Suspendeu a medicação por conta própria alguns meses antes de sofrer a parada cardíaca. Foi apenas uma das tantas estripulias que fizeram seu coração sofrer. Desde que abandonou o basquete profissional, virou sedentário. Engordou, passou a se alimentar mal e a se estressar com os negócios.
Edval Paletta quase morreu em junho de 1983. Intoxicado durante o banho pelo gás do aquecedor, desmaiou e parou de respirar. Diz ter assistido do alto aos vizinhos tentarem reanimá-lo. Não acredita em explicações sobrenaturais. Mas às vezes tem dúvidas.
A principal causa de morte súbita são as arritmias (distúrbios no ritmo dos batimentos cardíacos, entre os quais se inclui a fibrilação ventricular). Ela pode resultar de problemas genéticos ou ser conseqüência do estilo de vida inadequado: obesidade, sedentarismo, fumo, colesterol alto, diabetes, hipertensão. Outras causas de morte súbita são a embolia pulmonar, o aneurisma cerebral, os traumas graves e a intoxicação.
Apesar da medida heróica, a equipe não esperava que ela sobrevivesse. Muito menos que voltasse para casa sem nenhuma seqüela neurológica. Apenas 12% dos pacientes ressuscitados no InCor sobrevivem a ponto de receber alta hospitalar. A conclusão faz parte da tese de doutorado da médica Maria Margarita Gonzalez, que será defendida em janeiro na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ela acompanhou 800 pacientes.
Felizmente, casos improváveis de recuperação surpreendem os médicos todos os dias. Genelice permaneceu 32 dias na UTI, 12 deles em coma. A família foi avisada de que provavelmente ela nunca mais andaria. Nem falaria. Talvez ficasse cega. "Quando acordei, ninguém acreditava que eu estava bem", diz. Genelice recebeu pontes de safena e mamária. Uma parte do músculo cardíaco foi reconstituída com uma malha sintética. Evangélica, acredita que sua recuperação foi um milagre. Quando recobrou a consciência, se lembrou de ter estado num jardim florido onde encontrou a mãe e o tio falecidos. "Acho que foi só um sonho", diz.
Experiências de quase-morte são relatadas por até 20% das pessoas que foram salvas da morte súbita, segundo um estudo da Universidade de Southampton, publicado em agosto na revista científica Resuscitation. Na tentativa de explicá-las, os cientistas se dividem em dois grupos.
O primeiro afirma que essas experiências são um fenômeno meramente fisiológico que ocorre no cérebro privado de oxigênio. Trabalhando mal e sob estresse, o cérebro seria inundado por substâncias alucinógenas. A falta de oxigênio também atingiria a parte do cérebro responsável pela visão. Isso seria a explicação para a luz intensa descrita pelos pacientes.
As imagens vistas seriam a retomada de percepções do cotidiano. "O inconsciente captaria involuntariamente movimentos e cenas de que normalmente não nos damos conta", afirma o neurocirurgião Jorge Pagura, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. "Tudo isso criaria as imagens que vêm à tona quando há uma chacoalhada na função cerebral". O outro grupo sustenta que nenhuma teoria baseada unicamente no funcionamento do cérebro explica todos os elementos de uma experiência de quase-morte. Segundo essa corrente, é preciso considerar que a consciência possa existir independentemente do correto funcionamento do cérebro.
O psiquiatra americano Bruce Greyson, da Universidade de Virgínia, argumenta que os pacientes relatam percepções, pensamentos claros e memória num momento em que o cérebro estaria incapacitado de coordenar atividades tão complexas. "O conhecimento atual só pode explicar os fenômenos de quase-morte se ignorarmos muitos dos dados provenientes de nossa experiência prática", afirma. O arquiteto Edval Paletta, de 52 anos, é um cético. Prefere se basear no conhecimento científico para explicar o que viveu há 24 anos. Mas às vezes duvida da própria explicação. Num dia gelado de inverno, Edval resolveu tomar um banho quente, com a porta e a janela do banheiro fechadas. A chave que controlava o gás do aquecedor ficava dentro do banheiro. Edval acabou intoxicado pelo gás e desmaiou. Com a ajuda dos vizinhos, a mulher, Taís, arrombou a porta. Ele diz ter assistido a toda a movimentação do alto.
"Vi as pessoas me retirando do banheiro e me colocando na cama. Já estava sem respiração", afirma. Edval diz ter se sentido em paz, visto o túnel de luz e encontrado a mãe, morta havia cinco anos."Ela me disse para voltar porque meu filho havia acabado de nascer." Edval se recorda de ouvir o vizinho que o reanimava dizer "ele voltou". Ele estaria num estado de semiconsciência? Sofreu alucinações induzidas pelo gás? "Não sei mais em que acreditar. O que vivi foi muito real. Já estou conformado em descobrir apenas quando a morte chegar para valer.
Isabel Cristina de Paula morreu em 18 de abril de 2004. Após ser ressuscitada, disse ter visto um homem de barba e túnica brancas. "Era Deus".
A artesã fluminense Isabel Cristina de Paula, de 33 anos, tem certeza de que se encontrou com Deus. Ela sofre de uma grave arritmia. O coração se altera a cada pequeno susto. Em casos como o dela, a pessoa pode desmaiar com um simples toque de celular. Há três anos, sofreu uma parada cardíaca no hospital. Isabel diz ter visto um homem de barba e túnica brancas, depois de ser ressuscitada. "Ele passou por trás dos médicos como se estivesse ali para me confortar. Para mim era Deus", afirma. Isabel teve um desfibrilador implantado no peito. Nunca mais desmaiou.
Gracie Sprouse quase se afogou aos 11 anos. Diz ter visto um anjo que lhe mostrou um filme de sua vida. Percebeu que fez mal às irmãs.
Eles foram, voltaram e contam o que viram.
As sensações das pessoas que viveram uma experiência de quase-morte.
As sensações das pessoas que viveram uma experiência de quase-morte.
E a explicação da ciência.
Os quase-mortos contam que:
- Se viram flutuando, fora do próprio corpo;
- Assistiram do alto à cena da própria operação;
- Chegaram a um túnel com uma luz brilhante;
- Encontraram pessoas que já morreram.
Os cientistas explicam que:
- A falta de oxigênio prejudica o funcionamento do cérebro;
- O estresse libera no organismo substâncias alucinógenas;
- A percepção de luminosidade pode ficar exagerada;
- O cérebro retomaria imagens de percepções do cotidiano.
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O Outro Lado da Vida
Revista Época nº 496 de 12/11/2007
Estudiosa dos fenômenos de quase-morte,
escritora americana diz que essas experiências estão muito além da compreensão da ciência.
Num período de três meses no ano de 1977, a escritora americana P.M.H. Atwater viveu diversos momentos trágicos: um aborto espontâneo com hemorragia grave, uma infecção nas veias que resultou em trombose, e um colapso do sistema nervoso. Diz que passou por experiências de quase-morte em todas as vezes. Mas a última incluía muito mais do que visões e sensações. Ela diz ter ouvido um chamado de Deus, para ajudar as pessoas a entender o fenômeno que ultrapassa o limite da morte.
Professora de escola infantil e secretária durante anos, virou escritora depois de começar a pesquisar sobre paranormalidade. Afirma conhecer bem terapias de vidas passadas por hipnose. Se especializou em áreas esotéricas como astrologia, numerologia, interpretação de sonhos e símbolos, runas. Dia 19 de outubro, P.M.H lança nos Estados Unidos The Big Book of Near-Death Experiences (O Grande Livro das Experiências de Quase-Morte). O livro é ilustrado com desenhos de pacientes, que representam as experiências de quase-morte que viveram. Ela deu a seguinte entrevista à ÉPOCA:
ÉPOCA - Como a senhora decidiu escrever sobre experiências de quase-morte?
P.M.H. Atwater - Não fiz uma escolha simplesmente. Ouvi uma voz, um chamado, que dizia que eu tinha que escrever sobre essas experiências. Para mim era a voz de Deus. Eu voltei à vida para essa missão. Foi o único motivo pelo qual retornei da morte. Comecei minha pesquisa em novembro de 1978. Já entrevistei mais de 4 mil pessoas, entre crianças e adultos. Fui muito disciplinada na minha tarefa, trabalhei seis dias por semana, dez horas por dia - às vezes mais. Mas quero que fique claro que não apenas escrevo sobre quase-morte. Sou uma pesquisadora do estado de quase-morte. Estudo a experiência, as seqüelas e as implicações de todo conjunto.
RE - Qual o significado da quase-morte?
Atwater - A experiência de quase-morte é um estado de transformação que ocorre com qualquer um, em qualquer idade. Normalmente, acontece dentro de condições como cirurgias, acidentes, doenças, sempre com uma equipe médica ou familiares presentes. Isso é importante porque são eles que darão a outra parte do testemunho sobre o que aconteceu. Quando os sinas vitais cessam e há diminuição da atividade cerebral, há ainda de forma clara e coerente uma consciência do paciente que não é obstruída, que está ativa e traz a compreensão daquele momento. Esse fato isolado desafia tudo o que sabemos sobre o cérebro e o corpo humano. Enquanto ao mesmo tempo confirma o que os místicos vêm dizendo há centenas de anos: somos mais que nosso corpo. Continuamos vivendo mesmo depois de uma forma de morte. Há mais sobre a vida do que imaginamos. Hoje, a experiência de quase-morte é a primeira escolha dos cientistas em todo o mundo para estudar a consciência: o que é e onde estaria localizada.
RE - Qual o propósito do seu livro?
Atwater - Ele foi escrito para que pessoas ocupadas possam ir direto à informação que desejam sem precisar ler o livro inteiro para entender seu conteúdo. É repleto de imagens e histórias sobre chegar próximo à morte e ressuscitações. Essas histórias e desenhos do livro mostram várias cenas de experiências fora do corpo, espíritos de vários tipos. Elas nos desafiam a compreender como nos sentimos em relação ao céu e ao inferno e sobre o que acreditamos na vida. O conteúdo não é só referente ao meu trabalho. Há pesquisas de outros estudiosos, inclusive os céticos.
RE - A senhora não acredita que o fenômeno tenha uma explicação científica?
Atwater - É verdade que há questões cientifícas que podem estar ligadas a vários aspectos das experiências de quase-morte. Mas nem ciência, nem teorias, nem experimentos ou qualquer tipo de argumento pode explicar completamente o fenômeno. O que o causa ou por que acontece. As pesquisas podem mostrar links, mas não podem verificar as causas. E nenhum pesquisador científico, nenhum deles, considerou ou trabalhou com o fenômeno profundamente, de forma completa. Nenhum com um número suficiente de pessoas que viveram as experiências que pudessem suprir de maneira razoável e viável a base da pesquisa.
RE - Mesmo que existam cada vez mais pesquisas mostrando que a falta de oxigenação pode afetar o funcionamento do cérebro e resultar nas imagens e sensações que os pacientes dizem presenciar?
Atwater - Estou engajada em completar minha teoria, que mostra especificamente o que eu passei, e o que acho que significa. Ninguém pode falar, argumentar, provar ou desaprovar nada sobre as experiências de quase-morte sem também incluir o efeito que o fenômeno teve sobre a vida daquela pessoa. O impacto a longo prazo.
RE - Então, a senhora afirma que seu ponto de vista seria a melhor explicação para a quase-morte?
Atwater - As experiências não podem ser completamente explicadas, nem do ponto de vista espiritual e nem do científico. O que posso dizer como pesquisadora é que essas experiências acontecem com pessoas que de alguma maneira precisam delas - ou por fatores que já fazem parte da vida ou que faltam (como uma ligação com a espiritualidade ou até reconhecer a possibilidade de ligação com Deus). Essas experiências servem para sermos honestos conosco. E abrir um espaço na nossa vida para tudo aquilo que significa amor.
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