O Que Obama Deveria Dizer Sobre o Iraque
Fareed Zakaria - Revista Época nº 528 de 30/06/2008
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Fareed Zakaria
Barack Obama precisa fazer um discurso sobre o Iraque. Senão ele vai ficar na posição inusitada de ter sido clarividente sobre a guerra em 2002 e mesmo assim ser pego de surpresa pelos fatos em 2008. A razão mais importante para fazer isso não é política. O Iraque está perdendo importância como assunto eleitoral, e a maioria das pessoas concorda com o julgamento de Obama de que não valia a pena lutar essa guerra. Isto é o que ele deveria dizer:
"Em seis meses, teremos um novo presidente. Mas não está claro se vamos estabelecer um novo rumo na atual Guerra do Iraque. O senador McCain prometeu continuar a estratégia de Bush – ficar no Iraque sem um horizonte em vista, sem critérios ou medidas que nos digam quando os soldados americanos poderão voltar para casa. Eu parto de uma premissa diferente. Acredito que a Guerra do Iraque foi um grande equívoco estratégico. Ela nos desviou da luta contra a Al Qaeda e o Taleban no Afeganistão - as pessoas que lançaram o ataque de 11 de setembro e que continuam poderosas e ativas hoje. Enfrentamos ameaças no Iraque, mas as duas maiores são a Al Qaeda (que está ferida, mas não morta) e o Irã. Ambas as ameaças são uma conseqüência direta da invasão. Não havia Al Qaeda no Iraque antes de 2003, e a influência do Irã expandiu-se muito de lá para cá.
A guerra resultou em mais de 4 mil mortes de americanos em combate, quatro vezes isso de feridos graves e dezenas de milhares de mortos iraquianos. Mais de 2 milhões de iraquianos fugiram do país e mais 2 milhões foram desalojados dentro do país. O preço em dólares também foi assombroso. Nos últimos cinco anos, os Estados Unidos gastaram perto de US$ 1 trilhão na invasão e ocupação do Iraque. É dinheiro suficiente para reconstruir todas as escolas, pontes e estradas na América, criar um sistema de assistência médica universal e financiar vários projetos de energia alternativa. Qualquer benefício que a invasão do Iraque produza, ele não pode justificar esses gastos em vidas e recursos.
Nada que possamos fazer hoje, em junho de 2008, pode reduzir esses gastos ou trazer de volta a vida dessas pessoas corajosas. O general Petraeus diz que, sem progresso político no Iraque, os esforços militares não produzirão nenhum sucesso durável. Todos os ganhos de hoje poderiam desaparecer quando os americanos forem embora - e eles vão ter de ir algum dia.
"Sou um opositor da guerra há muito tempo.
Mas sou um apoiador apaixonado do povo iraquiano".
A discordância que tenho com o governo Bush é que ele parece acreditar que o tempo vai fazer magicamente com que esses ganhos durem. Sem progresso político, a velha desconfiança e as velhas milícias vão se levantar novamente. Só uma genuína partilha do poder vai criar um governo e um Exército que serão vistos como nacionais e não sectários. É o único caminho para um Iraque viável sem uma grande presença militar americana.
Eu disse várias vezes que não podemos dar um cheque em branco para o governo iraquiano. E acredito que a pressão do Congresso foi um fator importante em fazer a liderança iraquiana começar a se mexer em questões políticas importantíssimas. Acredito que devemos continuar mantendo essa pressão sobre o governo em Bagdá. A melhor pressão continua sendo a ameaça de retirada de tropas. Eu estabeleci como meta a redução das tropas americanas em uma ou duas brigadas por mês, começando no início de 2009.
Sou um opositor da guerra há muito tempo. Mas sou um apoiador apaixonado do povo iraquiano. Eles merecem um futuro decente depois de décadas de tirania e cinco anos de caos. Devemos fazer de nosso compromisso com o Iraque um compromisso que seja limitado, temporário, e assim, sustentável. E também precisamos estar cientes de que há um mundo muito mais vasto, com o Taleban no Afeganistão, com as crescentes ambições do Irã, uma China emergente, uma Rússia que ressurge, uma Venezuela obstrucionista. Tudo isso requer atenção. O teste de um comandante-em-chefe não é ficar obcecado por um campo de batalha, mas manter todos em vista e usar os recursos e as táticas de uma maneira que crie uma grande estratégia geral, uma estratégia que mantenha o povo americano seguro e o mundo em paz".