Oito Dias de Cadeia
Rodrigo Rangel e Solange Azevedo - Foto de Ricardo B. Labastier - Revista Época nº 526 de 16/06/2008
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI5942-15223,00-OITO+DIAS+DE+CADEIA.html
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Agora, estão presos os dois sargentos do Exército que revelaram a ÉPOCA seu relacionamento amoroso.
Laci, a esquerda, foi preso por deserção.
Contra Fernando pesam três acusações, incluindo dar asilo ao companheiro.
Pouco antes do meio-dia da sexta-feira, a rotina na lavanderia do Hospital Geral de Brasília, unidade militar onde trabalha o sargento Fernando de Alcântara Figueiredo, foi interrompida por uma voz de prisão. Colegas de farda avisaram, primeiro ao major que chefia a seção e depois ao próprio sargento, que ele seria levado, preso, para o Batalhão da Guarda Presidencial, a três quadras dali. Era ordem superior. A prisão, de oito dias, foi determinada pelo comandante do hospital. O motivo: transgressão disciplinar. Alcântara tornou-se conhecido depois de revelar há três semanas, em entrevista a ÉPOCA, que mantém um relacionamento amoroso desde 1997 com o também sargento Laci Marinho de Araújo. Laci, ou sargento De Araújo, fora preso na semana seguinte à entrevista, acusado de deserção. Seu companheiro, do lado de fora, vinha denunciando maus-tratos e perseguição.
O Exército havia comunicado ao sargento Alcântara, três dias antes, que ele responderia a três processos disciplinares. Um por ter aparecido na reportagem de ÉPOCA com uniforme considerado inapropriado, outro por faltar ao trabalho no dia em que foi a São Paulo participar de um programa de TV e o terceiro por ter escondido do Exército o paradeiro do companheiro, Laci, que era considerado foragido. A defesa de Alcântara foi apresentada na manhã da sexta-feira, em duas folhas de papel ofício. Menos de três horas depois, veio a ordem de prisão. O sargento foi levado ao Instituto Médico-Legal para ser submetido a exame de corpo de delito, de praxe. Duas horas depois já estava de volta ao Setor Militar Urbano de Brasília. Foi escoltado até a cela, na sede do batalhão.
No Congresso Nacional, uma comissão de parlamentares criada para acompanhar o caso enviou representantes ao hospital. No início da tarde, uma amiga do sargento foi chamada para buscar os pertences que Alcântara não pôde levar: duas carteiras, a dele e a de Laci, e os telefones celulares. Segundo o promotor da Justiça Militar Jorge Cesar de Assis, a punição ao sargento Alcântara é normal no Exército. "Um militar não pode expor a corporação, criticá-la. Por natureza, a vida militar é de sacrifício e cheia de regras em que prevalecem os interesses coletivos, e não os individuais". Para Assis, pode haver o entendimento de que Alcântara cometeu um crime. "O Artigo 193 do Código Penal Militar diz que dar asilo a um desertor ou facilitar-lhe transporte ou meio de ocultação é crime. A pena é detenção de quatro meses a um ano". O promotor afirma ainda que "o Artigo 243 do Código de Processo Penal Militar diz que é dever de qualquer militar prender os desertores". Alcântara não teria seguido a lei.
O advogado Francisco Lucio França, do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo, diz ver a punição de outra forma. "A retaliação e a perseguição estão mais que caracterizadas. O Exército prendeu Fernando para inibi-lo e para que ele não conte o que está acontecendo lá dentro com o sargento Laci". Na semana passada, em um e-mail enviado a Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT), Fernando afirmou: "Lamentavelmente, o Exército tem mantido uma postura intimidadora e vingativa em razão da publicidade de nossa sexualidade".
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Matérias Correlatas Sobre a Homofobia do Exército Brasileiro:
Eles São do Exército - Eles São Parceiros - Eles São Gays (03/06/2008):
Homofobia? Indisciplina? Discriminação? Sargento que assumiu sua sexualidade é preso pelo Exército Brasileiro (09/06/2008):
Exército Prende Sargento Homossexual - Condepe Pede Ação de Lula Contra Prisão de Sargentos Gays (14/06/2008):
Oito Dias de Cadeia (Rodrigo Rangel e Solange Azevedo) (15/06/2008):
Para o Jornal Britânico The Guardian, Sargentos Homossexuais Brasileiros Sofreram Discriminação Humilhante - Preconceito no País da Maior Parada Gay (22/06/2008):
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E a truculência dos militares continua. Vergonha nacional. Instituição cheia de regalias/privilégios, onde se acham acima dos valores/necessidades da sociedade. Só lutam e se mobilizam para não perderem essas mesmas regalias/privilégios. Drauzio Milagres.
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