segunda-feira, 9 de junho de 2008

Sargento que assumiu sua sexualidade é preso pelo Exército - Homofobia? Indisciplina? Discriminação?




Sargento que assumiu sua sexualidade é preso pelo Exército Brasileiro.
Militar, Gay e Agora Detento. Indisciplina ou Discriminação?
Solange Azevedo - Revista Época nº 525 de 09/06/2008
Fotos de Sérgio Lima e Ed Ferreira
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI5430-15228-1,00-MILITAR+GAY+E+AGORA+DETENTO.html


O Exército prende por deserção o sargento Laci de Araújo, que admitiu a ÉPOCA ter um relacionamento com um colega de farda. O caso repercutiu no exterior.



Indisciplina ou Discriminação?
Laci protesta ao ser levado pela Polícia do Exército, em Brasília.



Laci Marinho de Araújo, o sargento De Araújo, é uma vítima da intolerância?
Ele foi preso na madrugada da quarta-feira, depois de dar uma entrevista ao programa SuperPop, da RedeTV!. De Araújo e o também sargento Fernando Alcântara de Figueiredo, que mantêm um relacionamento estável há mais de dez anos, conversavam ao vivo com a apresentadora Luciana Gimenez quando a emissora foi cercada por viaturas da Polícia do Exército. Os sargentos falavam sobre a reportagem de capa de ÉPOCA da semana passada, em que os dois assumiram ser um casal gay, fato inédito nas Forças Armadas.

"Eu não vou me entregar. Vou me matar para não ir preso", afirmou De Araújo ao ver as imagens dos militares do lado de fora da emissora, armados com fuzis e pistolas. Depois de horas de negociação com coronéis, o sargento foi levado para um hospital militar, na região central da capital paulista. O Exército considera De Araújo um desertor. O sargento alega ter problemas de saúde.

O tom desesperado do sargento em rede nacional sensibilizou o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) de São Paulo. Os advogados Francisco Lucio França e Ariel de Castro Alves foram até a sede da emissora. "Quando chegamos lá, por volta de meia-noite, pedimos que os oficiais do Exército nos mostrassem o mandado de prisão. Eles não tinham. O documento só chegou, por fax, lá pelas 4 horas da manhã", diz França. "Pela Constituição, não é necessário haver mandado de prisão para crimes propriamente militares, como o caso de deserção", afirma o promotor da Justiça Militar Jorge César de Assis. "Muitas vezes o documento é expedido apenas por precaução, pois o militar pode reagir e ocorrer algum problema". A data do mandado de busca domiciliar e prisão, assinado pela juíza-auditora substituta Vera Lúcia da Silva Conceição, é 3 de junho, pelo menos 72 horas depois de a reportagem de ÉPOCA chegar às bancas.



Um texto da BBC sobre a reportagem de ÉPOCA chegou a ser o mais lido no site britânico.



O caso ganhou a primeira página dos principais sites brasileiros e de jornais como a Folha de S.Paulo. Com o título "Gay soldier's fate grips Brazil" (algo como "O destino do soldado gay comove o Brasil"), a notícia chegou ao topo das mais lidas no site da rede britânica BBC, que reproduziu a reportagem de ÉPOCA. O interesse internacional pela história dos dois sargentos é compreensível – a questão da homossexualidade assumida nas Forças Armadas é polêmica no mundo inteiro.

Até o presidente da República se envolveu no caso. Na noite da quinta-feira, Lula discursou na abertura da Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (GLBT) - segundo a Secretaria Especial de Direitos Humanos, ligada à Presidência, primeiro evento do gênero no mundo promovido por iniciativa governamental. Sem fazer referência direta à polêmica que envolve os sargentos, Lula disse estar "orgulhoso" pelo momento de "reparação" vivido no país. "Talvez (o preconceito) seja a doença mais perversa e impregnada na cabeça do ser humano", afirmou. "Ninguém pergunta a opção sexual de vocês quando vão pagar Imposto de Renda. Por que, então, discriminam na hora em que vocês decidem o que vão fazer com o próprio corpo?" Lula posou para fotos com um boné pintado com as cores do arco-íris e segurando a bandeira-símbolo do movimento GLBT.



Horas depois, Lula ataca o preconceito na
Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais.



No dia da prisão do sargento De Araújo, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, tentou se distanciar da polêmica. Disse que a captura do militar deve ser examinada "na perspectiva das regras disciplinares do Exército" e que o problema não seria de "discriminação". Jobim tentou encerrar a entrevista coletiva quando um jornalista perguntou se homossexualidade é tabu nas Forças Armadas.

O sargento Alcântara foi ao Congresso buscar ajuda para o parceiro. O senador Eduardo Suplicy (PT) e outros parlamentares foram designados para acompanhar o caso. "Ao chegar ao hospital, em Brasília, pedi aos militares que retirassem as algemas do sargento e lhe servissem alguma refeição. Ele estava sem se alimentar praticamente o dia inteiro", afirmou Suplicy. "Poderia ter havido mais bom senso por parte das autoridades do Exército".

Suplicy foi acionado pelo Condepe quando De Araújo estava preso no hospital militar em São Paulo, antes de ser transferido para Brasília. O acordo feito entre os advogados da entidade e oficiais do Exército previa que o sargento não fosse levado sem uma avaliação de especialistas civis indicados pelo Conselho Federal de Medicina. O psiquiatra Paulo César Sampaio, ligado ao Condepe, visitou De Araújo na capital paulista. Segundo ele, o militar "sentia que era perseguido por todos e que o mundo estava contra ele". Só uma investigação mais detalhada poderá fornecer um diagnóstico preciso. Em 2007, De Araújo passou seis meses fora do trabalho. Alegou problemas de saúde. Transferido por seus superiores para um batalhão em Osasco, na Grande São Paulo, o sargento não se apresentou ao novo posto. Por isso foi considerado desertor. Segundo o Exército, esse é o motivo de sua prisão. O sargento está sujeito a uma pena de seis meses a dois anos atrás das grades e à expulsão das Forças Armadas.

Além de acusar o Exército de discriminação e de dizer estar na mira do comando por ter denunciado indícios de corrupção no hospital militar de Brasília, o parceiro do sargento De Araújo alega que a transferência do hospital de São Paulo para o da capital federal foi truculenta. "O coronel Fernando Storte entrou no quarto gritando que quem mandava no hospital era ele. E que se o Laci não descesse seria sedado e transferido à força", afirma Alcântara
. De acordo com o sargento, naquele momento, uma enfermeira entrou no quarto carregando uma seringa. "Um helicóptero da Força Aérea pousou no pátio interno do hospital. Fomos levados para a Base Aérea de Cumbica. Embarcamos num avião Bandeirante e fomos para Uberlândia. Só então chegamos a Brasília". Ainda segundo Alcântara, ao desembarcarem na capital federal, De Araújo foi jogado no chão, algemado e atirado dentro de uma viatura do Exército.

ÉPOCA tentou falar com o sargento De Araújo e não obteve autorização das Forças Armadas para entrevistá-lo. Em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx) informou na quinta-feira que "em decorrência de seu atual quadro de saúde, o militar permanecerá sob cuidados médicos, no Hospital Geral de Brasília, mas à disposição da Justiça Militar". O CCOMSEx afirmou "não terem fundamento" as acusações contra o coronel Storte e a denúncia de agressão no desembarque de Laci na capital federal. Na manhã da sexta-feira, De Araújo foi transferido do hospital para a carceragem da Polícia do Exército. "Tiraram os remédios dele (antidepressivos e comprimidos para vertigem) e disseram que ele só voltará a tomá-los com receita de um médico militar", diz Alcântara, o companheiro do sargento.





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Matérias Correlatas Sobre a Homofobia do Exército Brasileiro:


Eles São do Exército - Eles São Parceiros - Eles São Gays (03/06/2008):

Homofobia? Indisciplina? Discriminação? Sargento que assumiu sua sexualidade é preso pelo Exército Brasileiro (09/06/2008):

Exército Prende Sargento Homossexual - Condepe Pede Ação de Lula Contra Prisão de Sargentos Gays (14/06/2008):

Oito Dias de Cadeia (Rodrigo Rangel e Solange Azevedo) (15/06/2008):

Para o Jornal Britânico The Guardian, Sargentos Homossexuais Brasileiros Sofreram Discriminação Humilhante - Preconceito no País da Maior Parada Gay (22/06/2008):












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Um comentário:

  1. É assustador ver como a sociedade se cala frente a esses "mandos" e "desmandos" dos militares. São cheios de privilégios e regalias e se acham acima das leis e das obrigações de respeitar essas mesmas leis que eles deveriam zelar. Todos sabem que as suas ações são truculentas. Drauzio Milagres.

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