Antidepressivos e Câncer
Riad Younes - Revista Carta Capital nº 497 de 28/05/2008
http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=6&i=987
A maioria dos pacientes com diagnóstico de doenças graves, como Aids ou câncer, fica triste, ansiosa e até desesperada. Esse tipo de reação é normal para um indivíduo quando recebe a notícia fatídica. Após conversas, exames, explicações e decisões de tratamento, os pacientes normalmente se adaptam ou se conformam com a situação nova, e partem para a luta contra o câncer. Infelizmente, alguns pacientes não conseguem lidar com a situação com eficiência. Mergulham em depressão leve, moderada e, em alguns casos, grave e incapacitante.
Estudos epidemiológicos realizados nos últimos anos têm mostrado, claramente, que os pacientes com doenças graves, associadas à depressão, têm pior evolução da doença. Pior prognóstico, taxas de resposta ao tratamento e de cura significativamente inferiores.
Por que isso? Os cientistas conseguiram demonstrar que as células da defesa do organismo contra as infecções virais graves, como Aids, e contra os tumores malignos, chamadas células NK (natural killer, ou matadoras naturais), estão com a função imunológica comprometida em pessoas com depressão. Essas células NK são responsáveis por identificar e induzir a morte das células cancerosas ou infectadas por vírus. Um estudo realizado pela equipe de D. L. Evans, da Universidade da Pensilvânia (EUA), avaliou a função das células de defesa imunológica NK de 51 pacientes com infecção por HIV (Aids), associados ou não, com depressão.
Os cientistas trataram as células NK do sangue dos pacientes com antidepressivos. Observaram um aumento significativo da atividade imunológica das células após exposição aos antidepressivos. Sua capacidade de identificar e matar as células infectadas. Esses resultados sugerem que o tratamento da depressão em pacientes com Aids, e provavelmente com câncer, não somente devolve aos pacientes seu equilíbrio emocional e psíquico, mas também ajuda a melhorar as defesas do próprio organismo contra as células doentes.
Próstata
Já pensou? Você chega ao posto de saúde perto de casa e toma uma injeção: vacina contra o câncer de próstata. Pronto. Proteção contra o tumor maligno que atinge a maioria dos homens após os 70 anos de idade. Seria um sonho, mas agora parece que essa realidade já está ao alcance da medicina.
Pesquisadores conseguiram identificar um antígeno, parte das células tumorais que podem estimular uma resposta imunológica de defesa. Conseguiram produzir uma vacina contra o antígeno da célula-tronco prostática (PSCA), que é uma proteína da membrana celular presente em mais de 30% dos cânceres de próstata iniciais e em quase todos os tumores de próstata avançados. Essa proteína se expressa também na próstata normal, na bexiga, no cólon etc.
As pesquisas foram realizadas em camundongos, animais de experimentação em laboratório. Os resultados desse estudo foram publicados na prestigiosa revista Cancer Research. A pesquisa foi realizada pela equipe de M. L. Garcia-Hernandez, da University of Southern California, em Los Angeles.
Os cientistas conseguiram inibir o crescimento do câncer de próstata em camundongos, protegendo esses animais com uma vacina específica. A vacina foi administrada em uma injeção inicial, seguida, duas semanas depois, de outra injeção de reforço. Foi dada para camundongos geneticamente modificados para produzirem o câncer de próstata. Os resultados foram muito encorajadores.
Somente 10% dos camundongos vacinados apresentaram câncer após um seguimento de um ano. Por outro lado, todos os camundongos (100%) não vacinados tinham desenvolvido câncer e morrido nesse mesmo período. Os camundongos do grupo que recebeu vacina foram sacrificados e examinados ao término do estudo. Todos tinham desenvolvido pequenos tumores na próstata. Mas, esses tumores não progrediram. Ao exame microscópico, esses pequenos nódulos tumorais tinham, ao seu redor, uma quantidade muito grande de células da defesa do sistema imunológico.
Se os resultados forem confirmados em outros estudos, a vacina finalmente poderá transformar o câncer em uma doença crônica e controlável. Os cientistas alertam que, apesar das observações muito interessantes, esta vacina ainda não foi testada no homem, para se certificar de sua eficácia e da ausência de reações colaterais, como doenças auto-imunes, já que a proteína PSCA é também encontrada em outros tecidos normais. Isso pode levar a uma reação cruzada e afetar órgãos normais com esse antígeno.
Quando esse relato do Riad Younes acontecer, teremos uma qualidade de vida bem melhor: "Se os resultados forem confirmados em outros estudos, a vacina finalmente poderá transformar o câncer em uma doença crônica e controlável". Drauzio Milagres.
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