domingo, 26 de agosto de 2007

Igreja Versus Estado



Igreja vs. Estado - La Mala Educación
Mino Carta - Revista Carta Capital nº 446 de 30/05/2007

http://www.cartacapital.com.br/2007/05/igreja-vs-estado-la-mala-educacion


A progressiva interferência do Vaticano na política italiana prova as ambições temporais de Bento XVI.

O jornalista Michele Santoro, da RAI, a televisão estatal italiana, titular de programas de entrevistas merecedores de gordas audiências, prepara a exibição de um documentário da BBC sobre padres pedófilos, apresentado em outubro do ano passado e intitulado Sex Crimes and Vatican. O vídeo já foi exibido pelas tevês de vários países, entre outros, Espanha, Portugal, Dinamarca, Canadá, além de Grã-Bretanha. A iniciativa de Santoro soa a ouvidos sensíveis, e nem tanto, como espécie de revide às crescentes interferências do Vaticano na vida política da Itália.

O papa Ratzinger dispensa apresentações e suas atitudes em relação a assuntos momentosos, como aborto, eutanásia, camisinha, avanços científicos de vários calibres, obtiveram e obtêm larguíssimas repercussões midiáticas. Sem contar a condenação explícita do divórcio, pois, segundo Bento XVI, a ruptura do sagrado vínculo do matrimônio é a própria peste, que se supunha extinta há séculos.

O Parlamento italiano debate exatamente nestes dias projetos de lei destinados a introduzir alterações importantes no que diz respeito ao reconhecimento das uniões de fato, inclusive entre homossexuais. Quem votar a favor, anuncia o papa, será automaticamente excomungado. Agressão insuportável ao Estado laico, tanto mais em um país que legalizou o divórcio há décadas.

A Itália de hoje é rica (mas já foi mais) e problemática, assoberbada pelo problema da imigração e vitimada por um largo período de estagnação industrial do qual está a sair somente agora. Até parece que o bem-estar entorpeceu as consciências e escândalos a envolver autoridades precipitaram a progressiva falta de confiança nas classes dirigentes. O Vaticano aproveita-se e os políticos, salvo raras exceções, silenciam, quando não se apressam a engolir hóstias.

Domingo, 13 de maio, uma manifestação foi organizada em Roma para celebrar não apenas as mães, mas também, e sobretudo, a família em peso. Com o apoio de entidades variadas e, por trás do pano, pela oposição de centro-direita. Chamou-se Family Day, em inglês mesmo, para espanto do fantasma de Dante Alighieri.

Participaram 800 mil pessoas e até compareceu um ministro de centro-esquerda, Clemente Mastella, da Justiça, ex-democrata-cristão. A estrela foi, porém, o divorciadíssimo Silvio Berlusconi. Não perdeu a viagem e lançou seu anátema diante das câmeras da tevê: católico não pode ser de esquerda. Bento XVI excomunga, Berlusconi também.

Enquanto os políticos governistas produzem shows de equilibrismo dignos do Cirque du Soleil, alguma reação vem de jornalistas de prestígio. Um deles é Santoro, que durante o governo de Berlusconi foi condenado ao ostracismo. Recuperado o emprego, a RAI já adquiriu o direito de exibição de Sex Crimes and Vatican. Trata-se dos crimes de pedofilia cometidos por sacerdotes em diversos países.

Além de inspirarem um filme recente de Almodóvar, La Mala Educación, custam caro a muitas dioceses. Um seminarista siciliano submetido a abuso sexual por um de seus mestres, faz poucos dias foi ressarcido com 50 mil euros. Cifra exígua em comparação com quantias determinadas por tribunais americanos. Em 2003, a diocese de Boston negociou com as vítimas ressarcimentos entre 80 mil e 300 mil dólares para cada molestado. Resultado: desembolsou 85 milhões de dólares e a catedral de Santa Cruz foi hipotecada. Em dezembro passado, a diocese de Los Angeles já pagara 60 milhões a 46 vítimas de abusos sexuais, mas centenas de processos continuam em pleno andamento.

"O delito contra o sexto mandamento cometido por um clérigo contra menor de 18 anos" é assunto privativo da Congregação para a Doutrina da Fé, e "está sujeito ao segredo pontifício". Assim soletra um documento datado de 18 de maio de 2001 e assinado por Josephus Cardeal Ratzinger. O qual foi incriminado em 2005 pela Corte Distrital de Harris County, Houston, Texas, por ter acobertado o responsável pela diocese, arcebispo Joseph Fiorenza, e os sacerdotes Juan Carlos Patino Arango e William Pickand, em meados da década de 90. Acabou por ser excluído do processo, na qualidade de chefe de Estado estrangeiro.

O documentário da BBC pode ser visto no Google vídeo e por isso não será surpresa para muitos italianos se a RAI enfim o transmitir. Na quinta-feira 31, conforme a programação. Mas ainda há quem duvide ao recear que alguma voz mais alta se levante. O que não espantaria quem supõe que boa parte dos telespectadores peninsulares aprovaria o papa como rei e Silvio Berlusconi como primeiro-ministro vitalício.









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Um comentário:

  1. A Igreja Católica voltará para o seu passado "sombrio" com esse tal de Ratzinger no comando (Papa Bento XVI). Será ele o Anti-Cristo? Há quem afirme que sim. Esse é o Papa fashion, o Papa que veste prada. Um abraço. Drauzio Milagres.

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