quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Dificuldade de Contar Calorias





Tenho, estrategicamente, guardado na sala de consulta um livro que contém milhares de dados sobre os alimentos. Alimentos preparados, ingredientes naturais, desidratados, artificiais, quase tudo está na lista. É claro que, como médico, eu o utilizo para dar alguns conselhos e muitas broncas nos pacientes, mas jamais para definir meu próprio almoço ou jantar. Pois agora descobre-se que, mesmo fazendo o que as autoridades de saúde e os médicos dizem, os pobres dos pacientes não estão totalmente seguros do quanto estão comendo em termos de calorias e outros índices do que escolhem para comer.

Um artigo da revista New Scientist de 15 de julho, escrito pelo jornalista científico Bijal Trivedi, denuncia que a maioria das descrições de conteúdo alimentar de cada produto utiliza uma tabela ultrapassada e errônea. Esta, feita com base em uma invenção de Wilbur Olin Atwater e de E. B. Rosa, o calorímetro - aparelho que queimava os alimentos e media o quanto era liberado de energia na combustão. Apoiado nisso, em 1896, ele publicou as tabelas Atwater de valores calóricos dos alimentos. Foi também Atwater quem provou a teoria da Lei de Conservação em seres humanos, definindo que um homem necessita de 2.500 Kcal (quilocalorias) por dia para se manter, e, uma mulher, 2.000 Kcal.


O maior problema é que os números de Atwater eram aproximados, admitindo-se erros de até 25% para mais ou para menos. Por sua vez, o ser humano não incinera a comida, como fazia o calorímetro de Atwater-Rosa, mas a digere, com um custo maior de energia, reduzindo o ganho calórico de 5% a 25%, dependendo do tipo de alimento, da quantidade de fibras que contém e da consistência apresentada. Essas são algumas afirmações do nutricionista Geoffrey Livesey, de Norfolk, Inglaterra.

Alimentos mais macios engordam mais, são fáceis de mastigar e acabam sendo mais absorvidos e, por algum motivo, transformam-se em gordura abdominal. É o que prova um estudo japonês de Kentaro Murakami, publicado no American Journal of Clinical Nutrition em 2007. No estudo, 450 estudantes voluntárias descreveram seus hábitos alimentares e tiveram a atividade mastigatória medida. As que comiam alimentos mais duros e, portanto, faziam mais esforço mastigatório, apresentaram uma circunferência abdominal menor. Tinham a cintura mais fina.

O modo de preparo dos alimentos também não entra na conta da tabela de calorias de Atwater, utilizada até hoje. Porém, de acordo com Richard Wrangham, um antropólogo que estuda a influência do preparo dos alimentos na evolução humana, o cozimento faz com que consigamos retirar mais calorias e mais proteínas dos alimentos. Isso permitiu que nós, humanos, os controladores do fogo, desenvolvêssemos um cérebro maior, mesmo este precisando de mais combustível para funcionar. Existem estudos interessantes sobre o tema. Um deles mostra que somos capazes de digerir 90% dos nutrientes de um ovo cozido, ao passo que, se o ovo estiver cru, não digerimos nem a metade do total. Também há experiências de que as cenouras cozidas exigem 40% menos energia para serem digeridas, quando comparadas a cenouras cruas.

A esta altura, pouco pode ser feito para corrigir as informações que vêm nas embalagens dos alimentos. Uma frase contendo explicações sobre a absorção e o aproveitamento das calorias contidas em cada porção reduziria a margem de erro dos consumidores. De acordo com o artigo, um erro pequeno, de 20 Kcal por dia, pode significar o ganho de um quilo de gordura em um mês. Um espanto!


* * * * * * * *


Rogério Tuma





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Entre no Blogger O Mundo No Seu Dia-a-Dia e faça seus comentários. Um abraço. Drauzio Milagres - http://drauziomilagres.blogspot.com