domingo, 17 de maio de 2015

Eu sou bipolar, e daí?


Eu sou bipolar, e daí?
- Francisco Miguel de Moura -





Eu sou bipolar igual à cerca de 2% da população mundial, isto levando-se em conta apenas a parte dos que são portadores do distúrbio em grau elevado - os doentes. E daí? Os que apenas têm surtos temporários?

A tristeza e a apatia se tornam a forma de muitos de nós, pessoas que vivemos o mundo pelo lado negativo, tudo cinza como se fôssemos daltônicos. E por quê? Ora, a tristeza é o modo de ser do homem, único animal que sabe que vai morrer, ainda que não possa precisar o dia. Na sua fase mais pessimista, o poeta Hardi Filho escreveu que "A vida é triste da raiz ao fruto / Aqui na terra, onde se vive no erro, Onde o homem bruto mata o seu bezerro/ E vem a morte e mata esse homem bruto".

Mas a verdade é que bipolaridade é uma doença. Não se sabe bem se de origem física ou mental, se adquirida ou genética; certo é que medicamentos são aplicados pela medicina, em conjunto com medidas de profilaxia social, como o trabalho (principalmente em grupo), a meditação, a oração, a leitura de bons livros, etc. Ou seja, deve ser tratada com seu antídoto: humor, coisas agradáveis (nada de muita solidão) e estímulos outros para ajudar o paciente a recuperar sua auto-estima.

A depressão grave predispõe a pessoa a outras doenças graves, por isto não se deve descuidar dela. Saber sair das crises, ileso. Não deixar prolongar as novas quedas. É difícil porque ela é traiçoeira. Mas quando você se lembra de que passou algum tempo na vida sem sentir gosto para nada: comida, bebida, sexo, sem vontade de sair à rua, sucumbindo em bobagens negativas... E tem consciência de que isto não é normal, pronto.

Você vai à busca de todas as suas forças, tomando remédio, conversando com os familiares e amigos, expondo a situação, lendo livros bons, assistindo a filmes positivos (sem ficar totalmente ocioso). Vai à busca de alimentação melhor, sem deixar a insônia instalar-se (nem a depressiva sonolência). Esse é o caminho.

Eu sou um depressivo crônico, já sofri muitas crises graves, mas aprendi como evitar, com alimentação e medicamentos moderados, trabalho intelectual e material, também leves, divertimentos, etc.



Sim, sou um bipolar, e daí?

Sou escritor e não estou sozinho, muitos foram assim. Antero de Quental e Fernando Pessoa, pra começar com grandes poetas da nossa língua, eram maníaco-depressivos. Outrora, na antiguidade, o nome do distúrbio era melancolia; depois trocaram para PMD (psicose maníaco-depressiva). Modernamente tem o apelido de TB (transtorno bipolar).

Desde Aristóteles, não foi respondida a pergunta: Existe alguma relação entre o portador de melancolia, mania depressiva ou bipolaridade e a criatividade de homens de gênio - escritores, filósofos, cientistas e artistas?

Balzac, Hemingway, Virgínia Woolf, Hans Cristian Andersen, F.Scott Fitzgerald, Gógol, Graham Green, Ibsen, Edvard Munch, Joseph Conrad, Herman Melville, Emily Dickinson, Florbela Espanca, Mary Shelley e Robert Stevenson já foram enquadrados na categoria da bipolaridade.

Assim, tenho consciência de que estou em boa companhia. Mas não é mole viver com esse distúrbio. Ele faz a gente sofrer muito e ninguém sabe.

As pessoas nos dizem: "Ah! Você não apresenta nada de doente, você é normal".










4 comentários:

  1. Meu amigo poucas pessoas reconhecem que sao bipolar.Felizmentecom pouco remedio e muito papo a gente consegue sobreviver.

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  2. O sofrimento e a angústia de quem tem "Transtorno Bipolar" é muito grande. Precisamos entender isso é respeitar esses altos e baixos dessas pessoas. Drauzio Milagres.

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  3. é muito, muito mesmo ruim essas ocilações que o transtorno nos traz, quando eu acho que estou melhor, vem uma avalanche sobre mim.Eu mesma já me acostumei, mas as pessoas pouco entendem ou eu tenho a falta de sorte de encontrar pessoas q me compreendam neste pequeníssimo ciclo que me restou de pessoas que conheço(pelo menos eu acho que conheço)
    ...

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  4. Sou bipolar, e daí? Tenho 53 anos, descobri que tinha problemas aos 17 anos, mas desde cedo já me achava estranho em certas situações. Estudei e passei em 3 vestibulares na federal do Amazonas: enfermagem, administração e por fim, em 2017 passei para Direito na UFAM para deficientes, tinha decidido assumir minha doença, mas a banca julgadora na hora da matrícula concluiu que eu não me enquadrava no CID de PCD, desisti do recurso e depois de quase 2 anos com depressão decidi levantar sacudir a poeira e dar a volta por cima: ( não sei se ainda cabe recurso), trabalho como corretor de imóveis, sou concursado público e faço faculdade de direito particular na Estácio. Já Desisti de muita coisa na minha vida: um ótimo emprego no Bradesco, uma excelente carreira numa multinacional ( Masa-foxconn), concursos que deixei pra lá, etc. Tudo é uma questão de decisão: decidi ser feliz e ajudar o próximo e Deus me dá a força e condições para tal. Se eu for contar tudo aqui, daria um livro, pois começa desde a minha 1a. internação como paciente no hospício 1986 para voltar no ano de 2002 como cuidador/estagiário, como técnico de enfermagem, fiz questão de enfrentar meu "fantasma". Espero que minha decisão de contar minha vida, aqui uma pincelada, possa ajudar outros.

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