sábado, 14 de fevereiro de 2009

Um Muro se Fecha ao Redor de Israel




Um Muro se Fecha ao Redor de Israel

Luis Nassif On-line - 01/01/2009
Benny Morris - The New York Times - Estadão
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/01/01/a-logica-e-a-sinuca-de-israel/




Muitos israelenses têm a percepção de que os muros - e a história - estão se fechando ao redor de seu Estado, nascido há 60 anos. É a mesma percepção sentida por Israel no início de junho de 1967, pouco antes de desencadear a Guerra dos Seis Dias, que levou à destruição dos exércitos egípcio, jordaniano e sírio no Sinai, na Cisjordânia e nas Colinas do Golan. (…)

Hoje, Israel é um Estado muito mais poderoso e rico. Em 1967, havia 2 milhões de judeus no país - atualmente há 5,5 milhões - e os militares não dispunham de armamento nuclear. Entretanto, a maior parte da população olha para o futuro com um forte pressentimento.


O pressentimento tem duas motivações gerais e quatro causas específicas. Os problemas gerais são simples. Em primeiro lugar, o mundo árabe e islâmico - apesar das esperanças cultivadas pelos israelenses desde 1948, e não obstante os tratados de paz assinados pelo Egito e pela Jordânia em 1979 e 1994 - nunca aceitou a legitimidade da criação de Israel, e continuam opondo-se a sua existência.

Em segundo lugar, a opinião pública do Ocidente está reduzindo gradativamente seu apoio a Israel e vê com maus olhos o tratamento que o Estado judeu dispensa a seus vizinhos e à comunidade palestina. A memória do Holocausto é cada vez mais tênue e esvai-se gradativamente, enquanto os países árabes aumentam aos poucos seu poder.

Israel enfrenta uma combinação de ameaças terríveis. No leste, o Irã avança de modo frenético com seu programa nuclear, destinado, segundo os israelenses, à produção de armas atômicas. Além disso, as ameaças feitas pelo presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, de destruir Israel, mantêm os líderes políticos e militares de Israel em um estado de suspense e preocupação.

Ao norte, o grupo xiita libanês Hezbollah, que também promete destruir Israel, rearmou-se totalmente após a guerra contra os judeus em 2006. Segundo estimativas do serviço secreto israelense, o Hezbollah dispõe de 30 mil a 40 mil foguetes de fabricação russa, fornecidos por Síria e Irã - o dobro do que tinha em 2006. Alguns destes foguetes podem alcançar Tel-Aviv e Dimona, onde estão as instalações nucleares de Israel. Se houver uma guerra entre Israel e o Irã, é evidente que o Hezbollah participará.




Desafios

No sul, Israel se depara com o movimento islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza e cuja declaração de princípios promete destruir Israel e estabelecer governo islâmicos. Hoje, o Hamas tem milhares de soldados e um arsenal de foguetes: os Kassam, de fabricação caseira, os Katiusha, financiados pelo Irã, e os Grads, contrabandeados do Egito.

Em junho, Israel e o Hamas assinaram uma trégua de seis meses. Essa calma instável tem sido violada periodicamente pelas facções armadas em Gaza, que disparam seus foguetes contra cidades israelenses. Por sua vez, Israel reage bloqueando o envio de suprimentos para Gaza.

Em novembro, o Hamas intensificou os ataques com foguetes e, de modo unilateral, anunciou o fim da trégua. A população e o governo israelense deram, então, plenos poderes ao ministro da Defesa, Ehud Barak. O ataque aéreo de Israel contra o Hamas, no sábado, foi seu primeiro passo. A maior parte das instalações das forças de segurança do Hamas e das repartições públicas viraram escombros e centenas de combatentes do grupo perderam a vida.

Mas o ataque não resolverá o problema básico - constituído pelo fato de que a Faixa de Gaza é habitada por 1,5 milhão de palestinos desesperados, empobrecidos, governados por um regime fanático e aprisionados por barreiras e postos de controle de fronteira sob a vigilância de Israel e do Egito.

Uma enorme operação terrestre israelense em Gaza, buscando destruir o Hamas, provavelmente atolará nos becos dos campos de refugiados, antes de atingir seu objetivo. É mais provável que ocorram pequenas incursões com veículos blindados para acabar com o lançamento de foguetes e matar combatentes do Hamas. Essas incursões, porém, também dificilmente derrotarão a organização.

A quarta ameaça imediata à existência de Israel é interna, e é representada pela minoria árabe do país. Nas duas últimas décadas, os cidadãos árabes em Israel - 1,3 milhão - têm assumido posições radicais. Muitos defendem uma identidade palestina e a adoção de metas nacionais palestinas. (…)

O aspecto demográfico da população, se não a vitória árabe na guerra, contém a receita dessa dissolução. A taxa de natalidade dos árabe-israelenses estão entre as mais elevadas do mundo, com quatro ou cinco crianças para cada família (em contraposição a dois ou três filhos nas famílias israelenses).

A persistir a tendência atual, os árabes serão a maioria da população de Israel até 2040 ou 2050. Já daqui a cinco ou dez anos, os palestinos (os árabe-israelenses somados aos que vivem na Cisjordânia e na Faixa de Gaza) formarão a maioria da população da Palestina (a região que se estende entre o Rio Jordão e o Mediterrâneo).

(..,) O que essas ameaças específicas têm em comum é o fato de não serem convencionais. (…)

São desafios que os israelenses, presos a normas democráticas ocidentais, acham difíceis de enfrentar. A sensação de Israel, de muros que se fecham ao seu redor, causou na semana passada uma violenta reação.


Considerando essas novas realidades, não deverá surpreender a ocorrência de novas e mais poderosas explosões.


*Benny Morris é professor de História do Oriente Médio da Universidade Ben-Gurion e autor de 1948: A History of the First Arab-Israeli War (1948: Uma história da primeira guerra árabe-israelense).





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Um comentário:

  1. Quero deixar bem claro que, antes que me acusem, eu pessoalmente não tenho nada contra Israel, e muito menos contra os Judeus, mas fico extremamente revoltado contra essas ações covardes e desmedidas que os governantes e os militares israelenses estão fazendo contra a população civil da Palestina/Gaza. Nada se justifica. Tudo é puro interesse político/eleitoreiro e da indústria bélica. É uma pena que a ONU esteja totalmente desacreditada para fazer alguma coisa. Espero que um dia esses políticos e militares israelenses venham a ser julgados pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por Crimes Contra a Humanidade. Essas ações belicistas de Israel ainda causará muita dor e sofrimento aos judeus no mundo todo, e que por isso, sejam julgados pelo seu próprio povo. Um abraço. Drauzio Milagres.

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