sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Israel - Um governo que massacra civis



Ao que tudo indica, as "necessidades demográficas" do governo israelense vêm dando lugar, gradativamente, a necessidades políticas mais urgentes. Como um governo que massacra civis em nome de suas pretensões eleitorais, então, pode reivindicar qualquer espécie de "vantagem moral" sobre quem a elas reage legitimamente?




Marcelo da Silva Duarte



Quando o primeiro-ministro israelense Ehud Olmert aprovou a expansão de assentamentos judeus na área ocupada de Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, em março do ano passado, um porta-voz de seu governo afirmou que isso iria "cobrir as necessidades demográficas de Jerusalém".



Não seria nem a primeira e nem a última vez que o governo israelense sabotaria o processo de paz retomado durante a Conferência de Annapolis, nos EUA, em novembro de 2007, quando então Israel assumira o compromisso de não expandir assentamentos em territórios ocupados, o que fora interpretado pela comunidade internacional como condição para a retomada do diálogo entre judeus e palestinos.



Para não deixar dúvidas que tudo não passava de jogo de cena, dias antes da referida Conferência o governo israelense haviam lançado processo licitatório para a construção de 307 novos imóveis no assentamento de Abu Ghneim, numa parte da Cisjordânia anexada por Israel após a ocupação de 1967. E, no final de março do ano passado, dias após Olmert aprovar a referida expansão de assentamentos na Cisjordânia, autoridades israelenses anunciaram a construção de 600 casas em uma colônia judaica em Jerusalém Oriental, área vista pelos palestinos como a capital de um futuro Estado nacional.



Na verdade, Israel jamais interrompeu um só plano de expansão de assentamentos desde que assumiu esse compromisso, na Conferência de Annapolis. O ritmo das construções, inclusive, só se intensificou, especialmente na Cisjordânia e em áreas que Israel disse que devolveria aos palestinos, diante de um eventual acordo de paz.



Ato contínuo, o portavoz dos interesses judeus na Organização das Nações unidas (ONU) logo tratou de criar um fato político capaz de lançar uma cortina de fumaça sobre a política colonialista israelense. Em visita a Jerusalém, em março último, o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, após encontro com Ehud Olmert, afirmou à imprensa que "o Hamas, o Irã e a Síria estão fazendo todos os esforços para 'sabotar' as negociações entre israelenses e palestinos".



Segundo Cheney, Síria e Irã apoiariam as ações do Hamas contra Israel.



Não era gratuita a velhacaria estadunidense. Já se sabia, à época, a "intenção declarada de Barack Obama de abrir conversações com a República Islâmica do Irã", uma "das principais preocupações das administrações cessantes em Tel Aviv e Washington". Donde, portanto, a atual ofensiva contra Gaza ser também "uma tentativa de provocar uma reação iraniana que permita a retaliação israelense e dos EUA". Ainda segundo Michael Warschawski, ativista da esquerda israelense e diretor do Centro de Informação Alternativa de Jerusalém, "Nos últimos dias, o vice-ministro da Defesa israelense, Ephraim Sneh, bem conhecido pela sua obsessão anti-iraniana, vinculou sistematicamente os foguetes do Hamas (sic) ao Irã, sem, evidentemente, apresentar quaisquer provas".



Noves fora o fato das principais ações de sabotagem ao processo de paz retomado em Annapolis terem partido do governo israelense, o caso é que os EUA jamais teriam moral alguma para criticar o suposto apoio da Síria e do Irã a insurgentes palestinos, uma vez que a Casa Branca colabora militarmente com Israel e assinou embaixo de todas as anexações judias de territórios palestinos posteriores à ocupação israelense de 1967, as quais, nunca é demais lembrar, jamais foram reconhecidas pela comunidade internacional.



Aliás, é em função dessa referida ocupação e das conseqüentes anexações que toda e qualquer ação palestina, seja ela patrocinada ou não por insurgentes, é uma reação a essas arbitrariedades israelenses e à partição do território palestino em 1948, então sob controle do Reino Unido desde 1917.

"Lutamos com uma vantagem moral".



Por considerar que o Estado judeu não estava cumprindo seus compromissos, o Hamas não prorrogou, em dezembro último, a trégua de seis meses estabelecida ainda em junho com Israel.


A mídia oficial, no entanto, vem se encarregando de veicular a versão de Israel para a não prorrogação do cessar-fogo, ignorando tanto as reiteradas sabotagens israelenses ao processo de paz quanto a ordem mesma dos fatos.



Já se sabe que Israel preparava há seis meses o genocídio em Gaza. Também já se sabe que os ataques palestinos contra o sul de Israel, na noite do último dia 23, ocorreram em resposta à morte, pelo exército judeu, de cinco militantes das Brigadas de Ezedin al-Qassam, braço armado do Hamas. E se sabe ainda que, em novembro último, foi Israel que atirou a primeira pedra após o cessar-fogo estabelecido em junho, em incursões por terra e ar em Gaza, que resultaram na morte de 6 palestinos.


Portanto, ainda que isso fosse historicamente relevante, não foi o Hamas que pôs fim ao cessar-fogo.



Embora não seja relevante, mentir sobre isso tem sido a tônica israelense. Para suas autoridades, os ataques palestinos de dezembro último foram o motivo do início da ofensiva judia. A estratégia foi tão bem sucedida que o governo alemão considerou o Hamas como o único responsável pela escalada da violência na Faixa de Gaza, embora saibamos que a recente história alemã não o autorize a apontar responsáveis.



Para Ehud Barack, ministro israelense da Defesa, Israel luta "com uma vantagem moral" sobre os palestinos. Enquanto "Eles disparam contra civis deliberadamente, - afirmou Barack, Nós encurralamos os terroristas e evitamos, na medida do possível, atingir civis quando a gente do Hamas atua e se esconde intencionalmente em meio à população".



Hoje, 6 de janeiro, o exército israelense atacou a escola Al-Fakhura, no campo de refugiados de Jabaliya, no norte da Faixa de Gaza, matando 40 palestinos, entre os quais estariam várias crianças. Centenas de pessoas estavam dentro da escola administrada pela ONU tentando se abrigar dos combates que ocorrem nos arredores do campo de refugiados, entre soldados israelenses e palestinos.



Quando se está em meio a um fogo cruzado, supõe-se que uma escola é um bom abrigo, principalmente quando se sabe que israelenses possuem a "vantagem moral" de não disparar mísseis deliberadamente, ao contrário dos palestinos.



Tudo isso tem se passado como se também já não se soubesse que as motivações israelenses são mais políticas do que militares.



Autoridades israelenses, no entanto, negaram a sugestão de que estariam agindo "por ver uma janela de oportunidade com Bush deixando a Presidência dos Estados Unidos e Barack Obama se preparando para entrar na Casa Branca", segundo informou a Reuters.



"Por que tudo tem de estar conectado aos EUA? Uma data muito mais importante para Israel é 10 de fevereiro", teria dito um assessor israelense, referindo-se à eleição parlamentar que se aproxima.



Ato falho? Não se sabe. O que há de concreto é que "O bombardeio de Gaza aconteceu porque atendia aos interesses políticos das partes envolvidas", segundo afirmou Adrian Hamilton em recente artigo publicado na Folha de São Paulo, no último dia 02. Ehud Barak, ministro da Defesa de Israel, "o impeliu, a ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, o aplaudiu, e o primeiro-ministro Ehud Olmert o sancionou porque há uma eleição programada para fevereiro, e o líder da oposição e arquifalcão Binyamin Netanyahu está na dianteira nas sondagens de intenção de voto. Barak, como líder do Partido Trabalhista, e Livni, como líder do partido governista Kadima, estão determinados a ser mais guerreiros que ele".



Talvez seja por isso, então, que a popularidade dos trabalhistas israelenses venha subindo desde o início do genocídio em Gaza.



Segundo pesquisa divulgada no último dia 02 pelo diário israelita Maariv, 95% da população israelense apóia a recente incursão em Gaza, 80% sem reservas. Depois do início da ofensiva, 44% dos israelenses passaram a ter uma "opinião positiva" sobre o trabalhismo de Ehud Barack.



Os trabalhistas estavam em maus lençóis antes da ofensiva israelense. Seus atuais 19 lugares no Parlamento ameaçavam ser reduzidos para 12. Sondagens posteriores à ofensiva, porém, estimam que os trabalhistas poderão obter 16 lugares.



O Likud, a principal força de oposição ao atual governo, no entanto, continua a manter a dianteira nas pesquisas. O partido, dirigido por Benjamin Netanyahu, que já foi primeiro-ministro israelense, deverá obter 32 lugares, contra 28 do também governista Kadima, de Tzipi Livni.



Ao que tudo indica, as "necessidades demográficas" do governo israelense vêm dando lugar, gradativamente, a necessidades políticas mais urgentes. Como um governo que massacra civis em nome de suas pretensões eleitorais, então, pode reivindicar qualquer espécie de "vantagem moral" sobre quem a elas reage legitimamente?



Um comentário:

  1. Quero deixar bem claro que, antes que me acusem, eu pessoalmente não tenho nada contra Israel, e muito menos contra os Judeus, mas fico extremamente revoltado contra essas ações covardes e desmedidas que os governantes e os militares israelenses estão fazendo contra a população civil da Palestina/Gaza. Nada se justifica. Tudo é puro interesse político/eleitoreiro e da indústria bélica. É uma pena que a ONU esteja totalmente desacreditada para fazer alguma coisa. Espero que um dia esses políticos e militares israelenses venham a ser julgados pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por Crimes Contra a Humanidade. Essas ações belicistas de Israel ainda causará muita dor e sofrimento aos judeus no mundo todo, e que por isso, sejam julgados pelo seu próprio povo. Um abraço. Drauzio Milagres.

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