quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Por que eles odeiam tanto o ocidente?




Assim, mais uma vez, Israel abriu as portas do inferno sobre os palestinenses. 40 refugiados civis mortos numa escola da ONU, mais três noutra. Nada mau, para uma noite de trabalho do exército que acredita na "pureza das armas". Não pode ser surpresa para ninguém.

Esquecemos os 17.500 mortos - quase todos civis, a maioria mulheres e crianças - de quando Israel invadiu o Líbano, em 1982? E os 1.700 civis palestinos mortos no massacre de Sabra-Chatila? E o massacre, em 1996, em Qana, de 106 refugiados libaneses civis, mais da metade dos quais crianças, numa base da ONU? E o massacre dos refugiados de Marwahin, que receberam ordens de Israel para sair de suas casas, em 2006, e foram assassinados na rua pela tripulação de um helicóptero israelense? E os 1.000 mortos no mesmo bombardeio de 2006, na mesma invasão do Líbano, praticamente todos civis?

O que surpreende é que tantos líderes ocidentais, tantos presidentes e primeiros-ministros e, temo, tantos editores e jornalistas tenham acreditado na mesma velha mentira: que os israelenses algum dia tenham-se preocupado com poupar civis. "Israel toma todo o cuidado possível para evitar atingir civis", disse mais um embaixador de Israel, apenas horas antes do massacre de Gaza.

Todos os presidentes e primeiros-ministros que repetiram a mesma mentira, como pretexto para não impor o cessar-fogo, têm as mãos sujas do sangue da carnificina de ontem. Se George Bush tivesse tido coragem para exigir imediato cessar-fogo 48 horas antes, todos aqueles 40 civis, velhos, mulheres e crianças, estariam vivos.

O que aconteceu não foi apenas vergonhoso. O que aconteceu foi uma desgraça. "Atrocidade" é pouco, para descrever o que aconteceu. Falaríamos de "atrocidade" se o que Israel fez aos palestinenses tivesse sido feito pelo Hamás. Israel fez muito pior. Temos de falar de "crime de guerra", de matança, de assassinato em massa.

Depois de cobrir tantos assassinatos em massa, pelos exércitos do Oriente Médio - por sírios, iraqueanos, iranianos e israelenses - seria de supor que eu já estivesse calejado, que reagisse com cinismo. Mas Israel diz que está lutando em nosso nome, contra "o terror internacional". Israel diz que está lutando em Gaza por nós, pelos ideais ocidentais, pela nossa segurança, pelos nossos padrões ocidentais.

Então também somos criminosos, cúmplices da selvageria que desabou sobre Gaza.

Reportei as desculpas que o exército de Israel tem oferecido ao mundo, já várias vezes, depois de cada chacina. Dado que provavelmente serão requentadas nas próximas horas, adianto algumas delas: que os palestinenses mataram refugiados palestinenses; que os palestinenses desenterram cadáveres para pô-los nas ruínas e serem fotografados; que a culpa é dos palestinenses, por terem apoiado um grupo terrorista; ou porque os palestinenses usam refugiados inocentes como escudos humanos.

O massacre de Sabra e Chatila foi cometido pela Falange Libanesa aliada à direita israelense; os soldados israelenses assistiram a tudo por 48 horas, sem nada fazer para deter o morticínio; são conclusões de uma comissão de inquérito de Israel. Quando o exército de Israel foi responsabilizado, o governo de Menachem Begin acusou o mundo de preconceito contra Israel. Depois que o exército de Israel atacou com mísseis a base da ONU em Qana, em 1996, os israelenses disseram que a base servia de esconderijo para o Hizbóllah. Mentira.

Os mais de 1.000 mortos de 2006 - uma guerra deflagrada porque o Hizbóllah capturou dois soldados israelenses na fronteira - não foram crimes do Hizbóllah; foram crimes de Israel.

Israel insinuou que os corpos das crianças assassinadas num segundo massacre em Qana teriam sido desenterrados e expostos para fotografias. Mentira.

Sobre o massacre de Marwahin, nenhuma explicação. As pessoas receberam ordens, de um grupo de soldados israelenses, para evacuar as casas. Obedeceram. Em seguida, foram assassinadas por matadores israelenses. Os refugiados reuniram os filhos e puseram-se à volta dos caminhões nos quais viajavam, para que os pilotos dos helicópteros vissem quem eram, que estavam desarmados. O helicóptero varreu-os a tiros, de curta distância. Houve dois sobreviventes, que se salvaram porque fingiram estar mortos. Israel não tentou nenhuma explicação.

12 anos depois, outro helicóptero israelense atacou uma ambulância que conduzia civis de uma vila próxima - outra vez, soldados israelenses ordenaram que saíssem da ambulância - e assassinaram três crianças e duas mulheres. Israel alegou que a ambulância conduzia um ferido do Hizbóllah. Mentira.

Cobri, como jornalista, todas essas atrocidades, investiguei-as uma a uma, entrevistei sobreviventes. Muitos jornalistas sabem o que eu sei. Nosso destino foi, é claro, o mais grave dos estigmas: fomos acusados de anti-semitismo.

Por tudo isso, escrevo aqui, sem medo de errar: agora recomeçarão as mais escandalosas mentiras. Primeiro, virá a mentira do "culpem o Hamás" - como se o Hamás já não fosse culpado dos próprios crimes! Depois, talvez requentem a mentira dos cadáveres desenterrados para fotografias. E com certeza haverá a mentira do "homem do Hamás na escola da ONU". E com absoluta certeza virá também a mentira do anti-semitismo. Os líderes ocidentais cacarejarão, lembrando ao mundo que o Hamás rompeu o cessar-fogo. É mentira.

O cessar-fogo foi rompido por Israel, primeiro dia 4/11; quando bombardeou e matou seis palestinenses em Gaza e, depois, outra vez, dia 17/11, quando outra vez bombardeou e matou mais quatro palestinenses.

Sim, os israelenses merecem segurança. 20 israelenses mortos nos arredores de Gaza é número escandaloso. Mas 600 palestinenses mortos em uma semana, além dos milhares assassinados desde 1948 - quando a chacina de Deir Yassin ajudou a mandar para o espaço os habitantes autóctones dessa parte do mundo que viria a chamar-se Israel - é outro assunto e é outra escala.

Dessa vez, temos de pensar não nos banhos de sangue normais no Oriente Médio. Dessa vez é preciso pensar em massacres na escala das guerras dos Bálcãs, dos anos 90. Ah, sim.

Quando os árabes enlouquecerem de fúria e virmos crescer seu ódio incendiário, cego, contra o Ocidente, sempre poderemos dizer que "não é conosco". Sempre haverá quem pergunte "Por que nos odeiam tanto?" Que, pelo menos, ninguém minta que não sabe por quê.




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Robert Fisk





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Como os árabes vêem os judeus



Como os Árabes vêem os judeus
Rei Abdállah I - Luiz Carlos Azenha - Vi O Mundo - 01/01/2009

http://www.viomundo.com.br/bau-do-azenha/como-os-arabes-veem-os-judeus/


Rei Abdállah I - "As the Arabs see the Jews". The American Magazine, novembro, 1947. E na internet, em http://politics.propeller.com/story/2006/08/03/as-the-arabs-see-the-jews/, em inglês, com a seguinte introdução: "Esse fascinante ensaio, escrito pelo avô do rei Hussein, Rei Abdállah I, foi publicado nos EUA seis meses antes do início da Guerra de 1948, entre israelenses e palestinenses". Tradução de trabalho, para finalidades acadêmicas, sem valor comercial. (Leitura sugerida pelo Embaixador Arnaldo Carrilho, em palestra em São Paulo, em 2007).




É prazer especial dirigir-me ao público norte-americano, porque o trágico problema da Palestina não será jamais resolvido sem a simpatia dos norte-americanos, sem seu apoio, sem que compreendam.

Já se escreveram contudo tantas palavras sobre a Palestina - é talvez o assunto sobre o qual mais se escreveu em toda a história -, que hesito. Mas tenho de falar, porque acabei por concluir que o mundo em geral, e os EUA em especial, sabem praticamente nada sobre a causa pela qual os árabes realmente lutam.

Nós, árabes, acompanhamos a imprensa dos EUA, talvez muito mais do que os senhores pensem. E nos perturba muito constatar que, para cada palavra impressa a favor dos árabes, imprimem-se mil a favor dos sionistas. Há muitas razões para que isto aconteça.

Vivem nos EUA milhões de cidadãos judeus interessados nesta questão. Eles têm vozes fortes, falam muito e conhecem bem os recursos da divulgação de notícias. E há poucos cidadãos árabes nos EUA, e ainda não conhecemos bem as técnicas da propaganda moderna.

Os resultados disto têm sido alarmantes. Vemos na imprensa dos senhores uma horrível caricatura de nós mesmos e lemos que aquele seria nosso verdadeiro retrato. Para que haja justiça, não podemos deixar que esta caricatura seja tomada por nosso retrato verdadeiro.

Nosso argumento é bem simples: por quase 2.000 anos, a Palestina foi quase 100% árabe. Ainda é preponderantemente árabe, apesar do enorme número de judeus imigrantes. Mas se continuar a imigração em massa, em pouco tempo seremos minoria em nossa própria casa.

A Palestina é país pequeno e muito pobre, quase do tamanho do estado de Vermont. A população árabe é de apenas 1,2 milhão de pessoas. E fomos obrigados a receber, contra nossa vontade, cerca de 600 mil judeus sionistas. E nos ameaçam com muitos mais centenas de milhares.

Nossa posição é tão simples e natural, que surpreende que tenha sido questionada. É exatamente a mesma posição que os EUA adotaram em relação aos infelizes judeus europeus. Os senhores lamentam que eles sofram o que sofrem hoje, mas não os querem em seu país.

Tampouco nós os queremos em nosso país. Não porque sejam judeus, mas porque são estrangeiros. Não queremos centenas de milhares de estrangeiros em nosso país, sejam ingleses, noruegueses, brasileiros, o que sejam.

Pensem um pouco: nos últimos 25 anos, fomos obrigados a receber população equivalente a um terço do total de habitantes nativos. Nos EUA, seria o mesmo que o país ser obrigado a receber 45 milhões de estrangeiros, contra a vontade dos norte-americanos, desde 1921. Como os senhores reagiriam a isto?

Por nossa reação perfeitamente natural, contra sermos convertidos em minoria em nossa terra, somos chamados de nacionalistas cegos e anti-semitas impiedosos. A acusação seria cômica, se não fosse tão perigosa.

Nenhum povo da Terra jamais foi menos anti-semita que os árabes. Os judeus sempre foram perseguidos quase exclusivamente por nações ocidentais e cristãs. Os próprios judeus têm de admitir que nunca, desde a Grande Diáspora, os judeus desenvolveram-se com tanta liberdade e alcançaram tanta importância quanto na Espanha enquanto a Espanha foi possessão árabe. Com pequenas exceções, os judeus viveram durante séculos no Oriente Médio, em completa paz e amizade com seus vizinhos árabes.

Damasco, Bághdade, Beirute e outros centros árabes sempre incluíram grandes e prósperas comunidades de judeus. Até o início da invasão sionista na Palestina, estes judeus receberam tratamento mais generoso - muito, muito mais generoso - do que o que receberam na Europa cristã. Hoje, infelizmente, pela primeira vez na história, aqueles judeus começam a sentir os efeitos da resistência árabe ao assalto sionista. Muitos judeus estão tão ansiosos quanto os árabes e querem o fim do conflito. Muitos destes judeus que encontram lar acolhedor entre nós ressentem-se, como nós, com a chegada de tantos estrangeiros.

Por muito tempo intrigou-me muito a estranha crença, que aparentemente persiste nos EUA, segundo a qual a Palestina sempre teria sido, de algum modo, "terra dos judeus". Recentemente, conversando com um norte-americano, desfez-se o mistério. Disse-me ele que a maioria dos norte-americanos só sabem, sobre a Palestina, o que lêem na Bíblia. Dado que havia uma terra dos judeus no tempo de que a Bíblia fala, pensam eles, concluem que nada tenha mudado desde então.

Nada poderia ser mais distante da verdade. E, perdoem-me, é absurdo recorrer ao alvorecer da história, para concluir sobre quem 'mereceria' ser dono da Palestina de hoje. Contudo, os judeus fazem exatamente isto, e tenho de responder a este "clamor histórico". Pergunto-me se algum dia houve no mundo fenômeno mais estranho do que um grupo de pessoas pretenderem, seriamente, reclamar direitos sobre uma terra, sob a alegação de que seus ancestrais ali teriam vivido há 2.000 anos!

Se lhes parecer que argumento em causa própria, convido-os a ler a história documentada do período e verificar os fatos.

Registros fragmentados, que são os que há, indicam que os judeus viviam como nômades e chegaram do sul do Iraque ao sul da Palestina, onde permaneceram por pouco tempo; e então moveram-se para o Egito, onde permaneceram por cerca de 400 anos. À altura do ano 1300 a.C. (pelo calendário ocidental), deixaram o Egito e gradualmente dominaram alguns - mas não todos - os habitantes da Palestina.

É significativo que os Filistinos - não os judeus - tenham dado nome ao país. "Palestina" é, simplesmente, a forma grega equivalente a "Philistia".

Só uma vez, durante o império de David e Salomão, os judeus chegaram a controlar quase toda - mas não toda - a terra que hoje corresponde à Palestina. Este império durou apenas 70 anos e terminou em 926 a.C. Apenas 250 anos depois, o Reino de Judá já estava reduzido a uma pequena província em torno de Jerusalém, com território equivalente a 1/4 da Palestina de hoje.

Em 63 a.C., os judeus foram conquistados pelo romano Pompeu, e nunca mais voltaram a ter nem vestígio de independência. O imperador Adriano, romano, finalmente os subjugou em Circa 135 d.C. Adriano destruiu Jerusalém, reconstruiu-a sob outro nome e, por centenas de anos, nenhum judeu foi autorizado a entrar na cidade. Poucos judeus permaneceram na Palestina; a enorme maioria deles foram assassinados ou fugiram para outros países, na Diáspora, ou Grande Dispersão. Desde então, a Palestina deixou de ser terra dos judeus, por qualquer critério racional admissível.

Isto aconteceu há 1.815 anos. E os judeus ainda aspiram solenemente à propriedade da Palestina! Se se admitir este tipo de fantasia, far-se-á dançar o mapa do mundo!

Os italianos reclamarão a propriedade da Inglaterra, que os romanos dominaram por tanto tempo. A Inglaterra poderá reclamar a propriedade da França, "pátria" dos normandos conquistadores. Os normandos franceses poderão reclamar a propriedade da Noruega, "pátria" de seus ancestrais. Os árabes, além disto, poderemos reclamar a propriedade da Espanha, que dominamos por 700 anos.

Muitos mexicanos reclamarão a propriedade da Espanha, "pátria" de seus pais ancestrais. Poderão exigir a propriedade também do Texas, que pertenceu aos mexicanos até há 100 anos. E imaginem se os índios norte-americanos reclamarem a propriedade da terra da qual foram os únicos, nativos, ancestrais donos, até há apenas 450 anos!

Nada há de caricato, aí. Todas estas aspirações e demandas são tão válidas e justas - ou tão fantasiosas - quanto a "ligação histórica" que os judeus alegam ter com a Palestina. Muitas outras ligações históricas são muito mais válidas do que esta.

De qualquer modo, a grande expansão muçulmana, dos anos 650 d.C., definiu tudo e dominou completamente a Palestina. Daquele tempo em diante, a Palestina tornou-se completamente árabe, em termos de população, de língua e de religião. Quando os exércitos britânicos chegaram à Palestina, durante a última guerra, encontraram 500 mil árabes e apenas 65 mil judeus.

Se uma sólida e ininterrupta ocupação árabe, por 1.300 anos, não torna árabe um país... o que mais seria preciso?

Os judeus dizem, com razão, que a Palestina é a terra de sua religião. Parece ser o berço da cristandade. Mas, que outra nação cristã faz semelhante reivindicação? Quanto a isto, permitam-me lembrar que os cristãos árabes - e há muitas centenas de milhares de cristãos árabes no mundo árabe - concordam absolutamente com todos os árabes, e opõem-se, também, à invasão sionista da Palestina.

Permitam-me acrescentar também que Jerusalém, depois de Meca e Medina, é a cidade mais sagrada no Islam. De fato, nos primórdios de nossa religião, os muçulmanos rezávamos voltados para Jerusalém, não para Meca.

As "exigências religiosas" que os judeus fazem, em relação à Palestina, são tão absurdas quanto as "exigências históricas". Os Lugares Santos, sagrados, para três grandes religiões, devem ser abertos a todos, não monopólio de qualquer delas. E não confundamos religião e política.

Tomam-nos por desumanos e sem coração, porque não aceitamos de braços abertos talvez 200 mil judeus europeus, que sofreram tão terrivelmente a crueldade nazista e que ainda hoje - quase três anos depois do fim da guerra - ainda definham em campos gelados, deprimentes. Permitam-me destacar alguns fatos.

A inimaginável perseguição aos judeus não foi obra dos árabes: foi obra de uma nação cristã e ocidental. A guerra que arruinou a Europa e tornou impossível que estes judeus se recuperassem foi guerreada exclusivamente entre nações cristãs e ocidentais. As mais ricas e mais vazias porções do planeta pertencem, não aos árabes, mas a nações cristãs e ocidentais.

Mesmo assim, para acalmar a consciência, estas nações cristãs e ocidentais pedem à Palestina - país muçulmano e oriental muito pequeno e muito pobre - que aceite toda a carga. "Ferimos terrivelmente esta gente", grita o Ocidente para o Oriente. "Será que vocês podem tomar conta deles, por nós?" Não vemos aí nem lógica nem justiça. Não somos, os árabes, "nacionalistas cruéis e sem coração"?

Os árabes somos povo generoso: nos orgulhamos de "a hospitalidade árabe" ser expressão conhecida em todo o mundo. Somos solidários: a ninguém chocou mais o terror hitlerista do que aos árabes. Ninguém lastima mais do que os árabes o suplício pelo qual passam hoje os judeus europeus.

Mas a Palestina já acolheu 600 mil refugiados. Entendemos que ninguém pode esperar mais de nós - nem poderia esperar tanto. Entendemos que é chegada a vez de o resto do mundo acolher refugiados, alguns deles, pelo menos.

Serei completamente franco. Há algo que o mundo árabe simplesmente não entende. Dentre todos os países, os EUA são os que mais pedem que se faça algo pelos judeus europeus sofredores. Este pedido honra a humanidade pela qual os EUA são famosos e honra a gloriosa inscrição que se lê na Estátua da Liberdade.

Contudo, os mesmos EUA - a nação mais rica, maior, mais poderosa que o mundo jamais conheceu - recusa-se a receber mais do que um pequeníssimo grupo daqueles mesmos judeus!

Espero que os senhores não vejam amargura no que digo. Tentei arduamente entender este misterioso paradoxo. Mas confesso que não entendo. Nem eu nem nenhum árabe.

Talvez tenham ouvido dizer que "os judeus europeus querem ir para a Palestina e nenhum outro lugar lhes interessa".

Este mito é um dos maiores triunfos de propaganda, da Agência Judaica para a Palestina, a organização que promove com zelo fanático a emigração para a Palestina. É sutil meia-verdade; portanto, é duplamente perigosa.

A estarrecedora verdade é que ninguém no mundo realmente sabe para onde estes infelizes judeus realmente querem ir!

Imaginar-se-ia que, tratando-se de questão tão grave, os americanos, ingleses e demais autoridades responsáveis pelos judeus europeus teriam pesquisado acurada e cuidadosamente - talvez por votos -, para saber para onde cada judeu realmente deseja ir. Surpreendentemente, jamais se fez qualquer levantamento ou pesquisa! A Agência Judaica para a Palestina impediu-o.

Há pouco tempo, numa conferência de imprensa, alguém perguntou ao Comandante Militar norte-americano na Alemanha o que lhe dava tanta certeza de que todos os judeus quisessem ir para a Palestina. Sua resposta foi simples: "Fui informado por meus assessores judeus". Admitiu que não houvera qualquer votação ou levantamento. Houve preparativos para uma pesquisa, mas a Agência Judaica para a Palestina fez parar tudo.

A verdade é que os judeus, nos campos de concentração alemães, estão hoje sob intensa pressão de uma campanha sionista, por métodos aprendidos do terror nazista. É perigoso, para qualquer judeu, declarar que prefere outro destino que não seja a Palestina. Estas vozes dissonantes têm sofrido espancamentos severos e castigos ainda piores.

Também há pouco tempo, na Palestina, cerca de 1.000 judeus austríacos informaram à organização internacional de refugiados que gostariam de voltar à Áustria e já se planejava o seu repatriamento. Mas a Agência Judaica para a Palestina soube destes planos e aplicou forte pressão política para que o repatriamento não acontecesse. Seria má propaganda, contrária aos interesses sionistas, que houvesse judeus interessados em deixar a Palestina. Os cerca de 1.000 austríacos ainda estão lá, contra a vontade deles.

O fato é que a maioria dos judeus europeus são ocidentais, em termos de cultura e práticas de vida, com experiência e hábitos urbanos. Não são pessoas das quais se deva esperar que assumam o trabalho de pioneiros, na terra dura, seca, árida da Palestina.

Mas é verdade, sim, pelo menos um fato. Como estão postas hoje as opções, a maioria dos judeus europeus refugiados, sim, votarão por serem mandados para a Palestina, simplesmente porque sabem que nenhum outro país os acolherá.

Se os senhores ou eu tivermos de escolher o campo de prisioneiros mais próximo, para ali vivermos a vida que nos reste, ou a Palestina, sem dúvida também escolheríamos a Palestina.

Mas dêem alternativas aos judeus, qualquer outra possibilidade, e vejam o que acontece!

Contudo, nenhuma pesquisa ou escolha terá alguma utilidade, se as nações do mundo não se mostrarem dispostas a abrir suas portas - um pouco, que seja - aos judeus. Em outras palavras, se, consultado, algum judeu disser que deseja viver na Suécia, a Suécia deverá estar disposta a recebê-lo. Se escolher os EUA, os senhores terão de permitir que venha para cá.

Qualquer outro tipo de consulta ou pesquisa será farsa. Para os judeus desesperados, não se trata de pesquisa de opinião: para eles, é questão de vida ou morte. A menos que tenham certeza de que sua escolha significará alguma coisa, os judeus continuarão a escolher a Palestina, para não arriscarem o único pássaro que já têm em mãos, por tantos que voam tão longe.

Seja como for, a Palestina já não pode aceitar mais judeus. Os 65 mil que havia na Palestina em 1918, saltaram hoje (em 1947) para 600 mil. Nós árabes também crescemos, em número, e não por imigração. Os judeus eram apenas 11% da população, naquele território. Hoje, são um terço.

A taxa de crescimento tem sido assustadora. Em poucos anos - a menos que o crescimento seja detido agora - haverá mais judeus que árabes, e seremos significativa minoria em nossa própria terra.

Não há dúvida de que o planeta é rico e generoso o bastante para alocar 200 mil judeus - menos de um terço da população que a Palestina, minúscula e pobre - já abriga. Para o resto do mundo, serão mais alguns. Para nós, será suicídio nacional.

Dizem-nos, às vezes, que o padrão de vida árabe melhorou, depois de os judeus chegarem à Palestina. É questão complicada, dificílima de avaliar.

Mas, apenas para argumentar, assumamos que seja verdade. Neste caso, talvez fôssemos um pouco mais pobres, mas seríamos donos de nossa casa. Não é anormal preferirmos que assim seja.

A triste história da chamada Declaração de Balfour, que deu início à imigração dos sionistas para a Palestina, é complicada demais para repeti-la aqui, em detalhes. Baseia-se em promessas feitas aos árabes e não cumpridas - promessas feitas por escrito e que não se podem cancelar.

Declaramos que aquela declaração não é válida. Declaradamente negamos o direito que teria a Grã-Bretanha de ceder terra árabe para ser "lar nacional" de um povo que nos é completamente estranho.

Nem a sanção da Liga das Nações altera nossa posição. Àquela altura, nenhum país árabe era membro da Liga. Não pudemos dizer sequer uma palavra em nossa defesa.

Devo dizer - e, repito, em termos de franqueza fraterna -, que os EUA são quase tão responsáveis quanto a Grã-Bretanha, por esta Declaração de Balfour. O presidente Wilson aprovou o texto antes de ser dado a público, e o Congresso dos EUA aprovou-o, palavra por palavra, numa resolução conjunta de 30 de junho de 1922.

Nos anos 1920, os árabes foram perturbados e insultados pela imigração dos sionistas, mas ela não nos alarmou. Era constante, mas limitada, como até os sionistas pensavam que continuaria a ser. De fato, durante alguns anos, mais judeus deixaram a Palestina, do que chegaram - em 1927, os que partiram foram o dobro dos que chegaram.

Mas dois novos fatores, que nem os britânicos nem a Liga nem os EUA e nem o mais fervoroso sionista considerou, começaram a pesar neste movimento, no início dos anos 30, e fizeram a imigração subir a patamares jamais imaginados. Um, foi a Grande Depressão mundial; o outro, a ascensão de Hitler.

Em 1932, um ano antes de Hitler tomar o poder, só 9.500 judeus chegaram à Palestina. Não os consideramos bem-vindos, mas não tememos que, àquele ritmo, ameaçassem nossa sólida maioria árabe. Mas no ano seguinte - o ano de Hitler -, o número saltou para 30 mil. Em 1934, foram 42 mil! Em 1935, 61 mil!

Já não era a chegada ordeira de idealistas sionistas. Em vez disto, a Europa jorrava sobre nós levas de judeus assustados. Então, sim, afinal, nos preocupamos. Sabíamos que, a menos que se detivesse aquele fluxo gigantesco, seria a catástrofe para nós, os árabes, em nossa pátria palestina. Ainda pensamos assim.

Parece-me que muitos norte-americanos crêem que os problemas da Palestina são remotos, que estão muito distantes deles, que os EUA nada têm a ver com o que lá acontece, que o único interesse dos EUA é oferecer apoio humanitário.

Creio que os norte-americanos ainda não viram o quanto, como nação, são responsáveis em geral por todo o movimento sionista e, especificamente, pelo terrorismo de hoje. Chamo-lhes a atenção para isto, porque tenho certeza de que, se se aperceberem da responsabilidade que lhes cabe, agirão com justiça e saberão admiti-la e assumi-la.

Sem o apoio oficial dos EUA ao Lar Nacional preconizado por Lorde Balfour, as colônias sionistas seriam impossíveis na Palestina, como seria impossível qualquer empreitada deste tipo e nesta escala, sem o dinheiro norte-americano. Este dinheiro é resultado da contribuição dos judeus norte-americanos, num esforço pleno de ideais, para ajudar outros judeus.

O motivo foi digno: o resultado foi desastroso. As contribuições foram oferecidas por indivíduos, entidades privadas, mas foram praticamente, na totalidade, contribuições de norte-americanos, e, como nação, só os EUA podem responder por elas.

A catástrofe que estamos vivendo pode ser deposta inteira, ou quase inteira, à porta de suas casas. Só o governo norte-americano, voz quase única em todo o mundo, insiste que a Palestina admita mais 100 mil judeus - depois dos quais incontáveis outros virão. Isto terá as mais gravíssimas conseqüências e gerará caos e sangue como jamais houve na Palestina.

Quem clama por esta catástrofe - voz quase única no mundo - são a imprensa dos EUA e os líderes políticos dos EUA. É o dinheiro dos EUA, quase exclusivamente, que aluga ou compra os "navios de refugiados" que zarpam ilegalmente para a Palestina: as tripulações são pagas com dinheiro dos EUA. A imigração ilegal da Europa é montada pela Agência Judeus Americanos, que é mantida quase exclusivamente por fundos norte-americanos. São dólares norte-americanos que mantêm os terroristas, que compram as balas e as pistolas que matam soldados ingleses - aliados dos EUA - e cidadãos árabes - amigos dos EUA.

Surpreendeu-nos muito, no mundo árabe, saber que os norte-americanos admitem que se publiquem abertamente nos jornais anúncios à procura de dinheiro para financiar aqueles terroristas, para armá-los aberta e deliberadamente para assassinarem árabes. Não acreditamos que realmente estivesse acontecendo no mundo moderno. Agora, somos obrigados a acreditar: já vimos estes anúncios com nossos próprios olhos.

Falo sobre tudo isto, porque só a franqueza mais completa pode ser-nos útil. A crise é grave demais para que nos deixemos deter por alguma polidez vaga, que nada significa.

Tenho a mais completa confiança na integridade de consciência e na generosidade do povo norte-americano. Nós, árabes, não lhes pedimos qualquer favor. Pedimos apenas que ouçam, para conhecer a verdade inteira, não apenas metade dela. Pedimos apenas que, ao julgarem a questão palestina, ponham-se, todos, no lugar em que estamos, nós, os palestinos.

Que resposta dariam os norte-americanos, se alguma agência estrangeira lhes dissesse que teriam de aceitar nos EUA muitos milhões de estrangeiros - em número bastante para dominar seu país - meramente porque eles insistem em vir para os EUA e porque seus ancestrais viveram aqui há 2.000 anos?

Nossa resposta é a mesma.

E o que farão os norte-americanos se, apesar de terem-se recusado a receber esta invasão, uma agência estrangeira começar a empurrá-los para dentro dos EUA?

Nossa resposta será a mesma.







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A Batalha de Gaza - Trunfos do Jornalismo Humanista





Como cobrir guerras sem provocar outras? Como descrever os resultados do ódio sem aumentá-lo? O grande desafio do jornalista em zonas de conflito é pormenorizar o horror para acabar com o horror. Tarefa sobre-humana: impossível ignorar sentimentos, preferências, preconceitos ou fingir objetividade diante da dor.

Jornalistas não são máquinas de escrever. As guerras contemporâneas são conjunto de batalhas, geralmente curtas, grande é a rotatividade dos enviados às frentes de combate. Todos mais ou menos novatos, veteranos tentariam ser mais frios, o público quer sentir as emoções do terreno.

O fator de equilíbrio é o veículo. Cabe ao jornal, revista, rádiojornal, telejornal ou portal de internet abrigar e comparar divergências, somar pontos de vista, exibir o amplo espectro da controvérsia. Juntar interpretações - geralmente encontradas a boa distância das ocorrências - com as vivências in loco. Veicular opiniões e colocá-las a serviço da racionalidade.

Se as partes não oferecerem um mínimo de credibilidade, o conjunto ficará claudicante. O jornalismo é um processo orgânico e não uma colcha de retalhos, desigual.




Sessenta anos

As edições dos jornalões de referência nacional da segunda-feira (05/01/2009) ofereceram um mostruário deste jornalismo múltiplo, pós-individual. Com o feriadão do fim de ano e a invasão da Faixa de Gaza pelo exército israelense, foi o primeiro dia da guerra plena.

Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo e Globo buscaram o equilíbrio - mostrar os dois lados felizmente virou rotina. Despachar repórteres para a região do conflito também (o Globo serviu-se da correspondente).

A Folha saiu-se melhor, a partir da primeira página. Arrasadora, aquela imensa imagem negra, enlutada, e, no canto, as lágrimas correndo no rosto da menina palestina. A longa chamada dividida em tópicos oferece ao leitor (provavelmente recém-chegado das férias/festas) uma visão ampla desta nova batalha da Guerra da Palestina, a mais longa dos séculos 20 e 21 (desde 1948, 60 anos).

Os três diários oferecem praticamente o mesmo espaço (quatro páginas), mas a Folha acrescentou a primeira página quase inteira e a oportuníssima análise de Igor Gielow, de Brasília, na Página 2 mostrando o nonsense da nossa diplomacia.

Além da farta produção dos enviados e correspondentes, os três selecionaram excelentes textos de grandes jornais internacionais (a Folha serviu-se do Financial Times, o Globo usou Washington Post e Independent, o Estado preferiu as agências de notícias).




Partido da racionalidade

A diferença, a grande diferença a favor da Folha foram as entrevistas da última página do primeiro caderno (A-10) com dois lúcidos especialistas: o palestino Bashir Bashir, que leciona na Universidade Hebraica de Jerusalém, e o israelense Eyal Zisser, da Universidade de Tel-Aviv.

Aqui fica visível o que acima foi designado como "fator de equilíbrio", o trabalho de edição, a orquestração. De nada adiantariam entrevistas com delirantes adversários. O leitor ficaria mais confuso, mais vulnerável às simplificações e, sobretudo, ao ódio.

A maestria - a função social do jornalismo - exibiu-se na escolha de dois expoentes da cultura regional. Teoricamente em guerra, divergentes, o palestino e o israelense mostraram como é possível produzir aproximações. Mostraram também o quilate das respectivas elites, o potencial de bom senso e sofisticação cultural ao lado daquele enorme barril de pólvora.

Cobrir uma guerra mostrando como a guerra é insensata, absurda; cobrir uma guerra tomando o partido da racionalidade é um dos trunfos - triunfo - do jornalismo verdadeiramente humanista, tão fácil de entender, tão difícil de praticar.



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Alberto Dines





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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Daniel Dantas - Dinheiro do Opportunity Bloqueado



No Bolso, ao Menos
Cynara Menezes - Revista Carta Capital nº 530 de 28/01/2009

http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=8&i=3202



Daniel Dantas
(Crédito da foto: Marcelo Ximenes/Agência Estado)





Daniel Dantas pode até estar fora das grades e aparentar um poder capaz de mover montanhas a Portugal, mas o "dedo" apontado internacionalmente pela Operação Satiagraha sobre seus negócios tem provocado dores em uma área sensível, o bolso.

Na quinta-feira 22, o governo federal obteve o bloqueio de cerca de 2 bilhões de dólares em contas bancárias mantidas no exterior por Dantas, o maior já feito na história do País. Embora, para não atrapalhar as investigações, os nomes dos donos do dinheiro não tenham sido divulgados oficialmente, CartaCapital apurou que 90% dos recursos pertencem a uma só pessoa: o dono do Opportunity.

Na tarde do mesmo dia, o Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo confirmou que o dinheiro das contas bloqueadas é do Banco Opportunity, mas apresentou números diferentes daqueles divulgados pelo Ministério da Justiça.

Do montante bloqueado, a maior parte está no próprio nome de Dantas, de laranjas e de fundos de investimento dos quais ele é o único beneficiário. Para evitar perder o dinheiro de vez, o banqueiro terá de comprovar que os recursos foram obtidos de forma lícita, ao ser convocado pela Justiça dos países onde colocou os bilhões de dólares que possui. O Brasil, por outro lado, terá de apresentar evidências do contrário. Infelizmente para Dantas, sabe-se que parte significativa dessa quantia não foi declarada ao Fisco.

O vaticínio do "dedo" sobre Dantas foi lançado há duas semanas em reportagem de CartaCapital por um assessor do delegado Paulo Lacerda, defenestrado da direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e nomeado adido policial da embaixada brasileira em Portugal no fim do ano passado. Este seria, para Lacerda, o grande mérito do delegado Protógenes Queiroz, também afastado de sua tarefa após deflagrar a operação contra o banqueiro. Se antes da Satiagraha quase ninguém no exterior ouvira falar das acusações contra o Opportunity, agora todos estão de olho em cada movimento seu. Isso explica a tentativa sôfrega de Dantas nos últimos meses para melhorar sua imagem lá fora (ele anda dando entrevistas a vários jornalistas estrangeiros).

Na mira dos organismos anticorrupção internacionais, o vultoso volume de recursos foi bloqueado graças à cooperação entre Brasil, Reino Unido e Estados Unidos. O bloqueio, segundo a nota divulgada pelo Ministério da Justiça, foi determinado por ordem judicial. A ação foi coordenada pela Secretaria Nacional de Justiça, com a participação do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), da Justiça Federal e da PF.

Para colocar as mãos da lei sobre os 2 bilhões de dólares de Dantas no exterior, as autoridades brasileiras contaram com o auxílio de organismos de fiscalização financeira similares aos que temos aqui. Em alguns casos, o Brasil rastreou o dinheiro e pediu o bloqueio lá fora. Em outros, foi avisado pelas autoridades centrais dos países envolvidos. Os recursos só são bloqueados no exterior se um juiz brasileiro emitir um pedido a um juiz do país em questão e este aceite. Foi o que aconteceu.

Em setembro de 2008, operação semelhante havia conseguido o bloqueio de 46 milhões de dólares em fundos do Grupo Opportunity no Reino Unido, com ao auxílio do Home Office britânico, órgão equivalente ao Ministério da Justiça. A apreensão tinha sido solicitada pelo Ministério Público Federal com base em um acordo internacional sobre crime organizado. Na mesma época, a Justiça brasileira reteve 536 milhões de reais, quando o Opportunity transferiu os recursos para a subsidiária brasileira da administradora norte-americana BNY Mellon. A decisão foi tomada após o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) considerar suspeita a transação.

No caso mais recente, o pedido de bloqueio tornou-se possível porque o órgão de inteligência de lá, equivalente ao Coaf brasileiro, comunicou a existência de operações também suspeitas envolvendo contas do Opportunity. À época, o grupo respondeu ao bloqueio milionário com uma nota econômica em palavras. "O Opportunity reafirma que todas as suas atividades estão em conformidade com a lei", dizia.

Há outro bloqueio em curso, de cerca de 36 milhões de dólares, que vai acontecer em um dos paraísos fiscais onde os investigados pela Satiagraha colocaram suas fortunas. Embora em tese o bloqueio de contas em paraísos fiscais não seja possível, neste caso as autoridades brasileiras contaram novamente com a cooperação providencial dos Estados Unidos. Graças à pressão dos americanos, o país em questão acabou aceitando o pedido do Brasil. O bloqueio deve ser anunciado nos próximos dias.

Enquanto os aliados de Dantas se concentram na tentativa de desmoralizar a Abin e o delegado Queiroz, o dinheiro do banqueiro no exterior ficou na mira. Além de EUA e Reino Unido, a Suíça investiga as movimentações do Opportunity.

As autoridades brasileiras acreditam que as quantias bloqueadas nesta semana foram descobertas antes que a rede de proteção montada pelo banqueiro começasse a agir. Dantas provavelmente só soube do bloqueio dos bens depois que o ministério soltou a nota à imprensa, ao meio-dia de quinta 22. Daqui para frente será mais difícil para as autoridades agirem, porque é quase certo que Dantas comece a transferir tudo o que ainda possui para outros lugares.

"O Ministério da Justiça hoje tem uma posição muito mais proativa", explica o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr. "Ganhamos a confiança das autoridades centrais estrangeiras porque, com os intercâmbios feitos, todo mundo acabou se conhecendo pessoalmente".

Antes, o Brasil esperava ser avisado pelas autoridades estrangeiras de alguma movimentação suspeita de cidadãos do País no exterior. Nos últimos anos, também passou a solicitar às nações que investiguem os recursos de organizações supostamente criminosas, com foco na lavagem de dinheiro.

Tuma Jr. destaca a importância de se estabelecer um círculo virtuoso, em contraponto ao círculo vicioso da corrupção. "Não temos só de prender e processar. Precisamos também cortar o fluxo financeiro dos acusados de corrupção, sufocar as organizações".

A melhor das notícias no caso do bloqueio bilionário feito agora, para o Ministério da Justiça, é a possibilidade de autofinanciar suas iniciativas. Caso o dinheiro seja de fato apreendido, 60% do total pode ser devolvido aos cofres públicos brasileiros - a outra parte seria retida pelo país que fez a apreensão.

Com a quantia arrebatada ao Grupo Opportunity, o Ministério acha que poderá financiar parte do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), que prevê um investimento de 6,7 bilhões de reais até 2012 em ações como a reestruturação do sistema penitenciário, o combate à corrupção policial e a prevenção à violência. O dinheiro de Dantas pode vir a ser usado no combate ao crime no Brasil. Ironia?

Quanto ao banqueiro, fica claro mais uma vez que ele não "conta com facilidades" fora do Brasil. Enquanto aqui os processos contra ele andam a passo de tartaruga (são raríssimos os casos de condenação como a decidida pelo juiz Fausto De Sanctis), no exterior Dantas é um contumaz perdedor. Juízes estrangeiros já o chamaram literalmente de mentiroso e ladrão. Nestas bandas, ele costuma ser definido apenas como "polêmico".







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Erros Que Prejudicam a Declaração do Imposto de Renda




R e p a s s a n d o:





O início do ano costuma pesar no bolso do brasileiro. São tantos impostos para pagar que, sem planejamento financeiro, há um grande risco de tais contas desordenarem o orçamento durante o ano todo. Dentre os principais tributos, há um em especial que, muitas vezes, tira o sono dos contribuintes: o imposto de renda.

De fato, toda a atenção é pouca na hora de declarar as informações para o governo, mas é preciso que o contribuinte esteja preparado para evitar um ou mais dos sete erros básicos que, quando cometidos, podem complicar a situação com o Leão e até levar o contribuinte a cair na malha fina. Esses erros são:



1) Esquecer da nova alíquota de tributação

Em 2009 o governo alterou
a alíquota do Imposto de Renda, como forma de amenizar os efeitos da crise, e incluiu faixas intermediárias. Dessa forma, a primeira faixa de tributação é a alíquota de 7,5%. A alteração é sinônimo de economia, principalmente, para os contribuintes da classe média. Não aproveitar essa mudança é deixar de economizar;



2) Não recolher informações sobre suas movimentações financeiras

O contribuinte que quer evitar problemas costuma guardar seus comprovantes mais importantes sobre suas compras ao longo do ano. Há também quem aproveita o mês de janeiro para obter o maior número de informações sobre suas movimentações. O problema é quando nenhum dos acompanhamentos é feito. Afinal, qualquer incompatibilidade com a
Receita pode causar transtornos na hora de acertar as contas com o Leão;



3) Aproveitar o fim da CPMF para não declarar certas transações

Para quem pensou em levar alguma vantagem com o fim da CPMF e acreditou que, sem essa contribuição, o governo perdeu o controle sobre as transações realizadas e que antes eram identificadas automaticamente, cuidado. Saiba que o Governo se preparou para essa situação e tem condições de acompanhar todas as transações financeiras fazendo uso da
tecnologia;



4) Desconsiderar a Declaração de Informações sobre Movimentação
Financeira (Dimof)

Com ela, as instituições financeiras são obrigadas a enviar para a Receita, a cada seis meses, informações de Pessoas Físicas que tiverem movimentação acima de R$ 5.000, ou de R$ 10.000 no caso de pessoas jurídicas. Por isso, todo o cuidado é pouco
para não ser surpreendido com alguma solicitação de esclarecimento;



5) Omitir determinada transação

É que compras de qualquer valor devem constar na declaração. Não se esqueça que qualquer pessoa que realizou algum tipo de transação com você pode declarar um pagamento ou recebimento de alguma importância. Nesses casos, se os dados não estiverem alinhados, a Receita Federal irá investigar os motivos dessa disparidade. E com o avanço da tecnologia, ficou muito mais fácil para o Governo acompanhar as transações comerciais realizadas no país. Sendo assim, declarar integralmente os gastos e receitas que você teve
em 2008 é essencial para não cair na malha fina;



6) Duvidar da precisão tecnológica

Não queira testar a eficiência das tecnologias utilizadas pela Receita para perceber que os números declarados por determinado contribuinte não bate. Cabe ressaltar que, mesmo pessoas físicas, como inquilinos e funcionários terceirizados, podem apresentar em suas declarações pagamentos recebidos por você. Desse modo, é mais do que necessário a solicitação de notas ou recibos de pagamentos. Em alguns casos, pequenas quantias que seriam
resgatadas pelos contribuintes tornam-se grandes dívidas com o Governo; e



7) Cair na Malha Fina

Ao contrário do que muitos imaginam, cair na Malha Fina pode acontecer com qualquer um e se retratar com o Governo não é tarefa fácil. Só em 2007, 479 mil pessoas tiveram que explicar porque seus números eram incompatíveis com suas rendas ou com os pagamentos recebidos por terceiros.


Preste atenção nos menores detalhes da sua declaração de imposto de renda, pois irregularidades podem transformar um simples pagamento em prejuízo na hora do acerto de contas com o Leão. No entanto, se por algum descuido o contribuinte cair na Malha Fina é preciso estar preparado para a declaração retificadora ou para conceder explicações a Receita Federal nos próximos cinco anos.

E o mais importante: caso a Pessoa Física perca o direito à restituição e no lugar tenha que pagar imposto, os valores serão acrescidos de uma taxa de 20% sobre o montante a ser pago, mais a variação da taxa Selic que até agora esta acumulada em 10,77%, segundo a Receita Federal.








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Pessoas Inconstantes, Motivação Constante







A filósofa Simone Weil, que passou anos de sua vida trabalhando como operária, escreveu em 1979 em sua obra "Experiências da vida de fábrica" a seguinte frase a respeito de seu sentimento da condição de operária: "as coisas representam o papel dos homens, os homens representam o papel de coisas: eis a raiz do mal".

O que Simone queria expressar? Quais lições podem ser tiradas deste pensamento? Ela tinha enraizado em seu coração o sentimento de indiferença, ou seja, representava para sua empresa apenas uma extensão das máquinas, um objeto programado para fazer determinada função, sem vida, sentimentos e expectativas. Será que nos dias de hoje existem trabalhadores nessas condições psicológicas?

Antes mesmos de pensar nos clientes, compradores e usuários dos produtos e serviços, temos que atentar para nossos clientes internos, trabalhar o endomarketing na organização, "endo" originário do grego significa de dentro, "ação interna", ou seja, cada colaborador é um cliente da organização e satisfazer as necessidades destes "clientes" se reverterá em satisfação das necessidades dos consumidores finais.

Uma organização é formada por pessoas. Como diria Mary Parker Fottet "Administrar é a arte de fazer coisas através das pessoas" e não ao contrário como Simone Weil vivenciou em seu local de trabalho. Pessoas são volúveis, inconstantes e nem sempre desempenham o máximo que poderiam. É necessário realizar um trabalho de motivação constante e mesmo assim não será garantido, pois cada pessoa é única e reagi de modo diferente.

Para obter sucesso com a gestão de pessoas devemos trabalhar de forma estratégica desde o momento do recrutamento e seleção até o momento da monitoração, ou seja, a avaliação do desempenho tanto dos funcionários como da estratégia de recursos humanos da empresa. Os funcionários precisam estar aplicados, comprometidos e não apenas envolvidos, cientes de suas responsabilidades e das expectativas que a empresa tem deles.

O processo de motivação deve ser constante, pois pessoas são inconstantes. Às vezes um simples gesto de reconhecimento como uns "parabéns" pode tornar o dia de alguém melhor. As organizações de futuro precisam estar sempre antenadas ao ambiente e se atualizando tecnologicamente, isto também inclui as pessoas, pois o capital humano é a fonte de criatividade e precisa estar em constante desenvolvimento e aprimoramento também. O feedback por parte dos funcionários é uma boa ferramenta para monitorar e aprimorar a gestão de recursos humanos. Sempre adequando o RH a gestão estratégica da empresa.






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O Papa e a Ameaça Gay







Três dias antes do Natal (2008), a televisão deu uma notícia surpreendente e assustadora. Ela mostrou o papa Bento 16 discursando à Cúria Romana, com a seguinte mensagem: "salvar a humanidade do comportamento homossexual ou transexual é tão importante quanto salvar as florestas do desmatamento". Pode-se muito bem imaginar a indignação e o repúdio causados na opinião pública. Por se tratar de uma grave questão, convém analisar o que o papa realmente disse e a que conclusões se pode chegar.

No discurso de Bento 16, a Igreja preza a natureza do ser humano como homem e mulher e quer que se respeite esta ordem da criação. Trata-se da fé no criador e da 'escuta da linguagem da criação'. Desprezar esta linguagem leva o homem à destruição de si mesmo e da obra divina. O que com frequência se entende pelo termo 'gênero' é a autoemancipação humana em relação à criação e ao Criador. O homem quer fazer-se por sua conta, e decidir sozinho sobre o que lhe afeta. Mas deste modo vive contra a verdade, contra o Espírito criador. Os bosques tropicais devem merecer a nossa proteção, mas não menos o homem como criatura, no qual está inscrita uma mensagem que não contradiz a nossa liberdade, mas é sua condição. Grandes teólogos na história consideraram o matrimônio - o laço entre o homem e a mulher por toda a vida - como sinal sagrado da criação e da aliança entre Cristo e os homens. Faz parte do anúncio da Igreja, conclui o papa sobre este assunto, o testemunho a favor do Espírito criador, presente na natureza em seu conjunto e na natureza do homem criado à imagem de Deus.

Não se trata, portanto, do comportamento homossexual ou transexual, mas do conceito de gênero. Ele ameaçaria os papéis do homem e da mulher, decorrentes de criação divina, e o matrimônio heterossexual que o papa defende com ardor. No sentido clássico, 'gênero' é um termo que se refere à rede de crenças, traços de personalidade, atitudes e condutas que marcam a diferença entre homens e mulheres. Na recente teoria de gênero, não há uma coerência necessária entre sexo anatômico, identidade masculina ou feminina, desejo e prática sexual. 'Masculino' e 'feminino' não são substâncias originais nem essências universais, fixadas pelos corpos. Os atributos de gênero são regulados por diretrizes culturais, que estabelecem uma suposta coerência entre eles. Os corpos não têm nenhum sentido intrínseco.

A teoria de gênero é apreciada pelos que refletem sobre a diversidade sexual, pois permite pensar a realidade de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Esta realidade vai além do que apontam o sexo anatômico e a reprodução. A questão é eminentemente interdisciplinar, cabendo a abordagem de diversos saberes. As ciências, na sua legítima autonomia, têm algo relevante a dizer; bem como os que, como o papa, querem escutar a linguagem da criação e serem fiéis aos desígnios do Criador.

Na diversidade sexual, porém, não há escolha ou 'opção sexual'. Ninguém escolhe ser gay (e nem hétero). É uma condição, que corresponde à orientação sexual. A escolha é assumir-se ou não. Na natureza a homossexualidade já foi documentada em mais de 450 espécies animais. No ser humano, ela existe em todas as culturas conhecidas. Entre irmãos gêmeos univitelinos, se um é gay, o outro tem 70% de chance de ser também. E um documento do próprio Vaticano, de 1975, chega a falar da possibilidade da homossexualidade ser algo nato em certas pessoas. A medicina não mais a considera doença, e a psicologia hoje proíbe as terapias de reversão de orientação sexual. Portanto, algumas pessoas são homossexuais e o serão por toda a vida.

Para estas pessoas, a união heterossexual não é o caminho, como se pensou no passado e ainda hoje alguns insistem. Os gays não têm obrigação de se 'curarem' e de se casarem com pessoas de outro sexo. Até porque, para o direito eclesiástico, este matrimônio é nulo. Os gays tampouco são uma ameaça à união heterossexual, como se os héteros fossem gays enrustidos prestes a debandarem diante da possibilidade de união homo.

Ao se reconhecer as especificidades da diversidade sexual, pode-se ter uma outra escuta da linguagem da criação. As diversidades existem de múltiplas maneiras no mundo criado, oriundo da divindade que não se vê. Esta divindade única é formada por uma diversidade de pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo unidos desde toda a eternidade. No ser humano, a orientação sexual também é diversificada. A heterossexualidade não é universal. Quanto à teoria de gênero, ela seria uma emancipação humana em relação à criação caso houvesse 'opção sexual', em que o livre arbítrio do indivíduo neste campo prescindisse de qualquer determinação. Mas a realidade não é esta. Há coisas que antecedem qualquer escolha individual e remetem a uma complexidade maior.

Naqueles dias antes do Natal, outro fato importante envolveu a Igreja Católica e o mundo gay. Travou-se na ONU um debate sobre a descriminalização da homossexualidade em todo mundo, seguindo uma proposta encabeçada pela França. Nações ocidentais se posicionaram a favor e nações islâmicas contra. A delegação da Santa Sé, ainda que divergindo parcialmente da proposta francesa, manifestou-se pela condenação de todas as formas de violência contra pessoas homossexuais. E urgiu as nações a tomarem as medidas necessárias para pôr fim a todas as penas criminais contra eles.

Fica evidente que para a Igreja o comportamento homossexual não é uma ameaça para a humanidade. Convém lembrar que em séculos passados a prática do homoerotismo era crime. Havia até pena de morte para a 'sodomia'. A hierarquia católica, através da Inquisição, julgava os acusados e encaminhava os culpados ao poder civil para serem punidos. O mundo e a Igreja viveram enormes transformações até o presente. Este processo de mudança precisa continuar, para que se busquem melhores maneiras de se conviver com a diversidade sexual.

O discurso do papa à Cúria Romana foi um balanço do ano de 2008. Bento 16 mostrou um importante apreço pela diversidade ideológica e religiosa. Mencionou um rabino de Israel e um patriarca ortodoxo que discursaram no sínodo dos bispos católicos sobre a Bíblia. E citou o filósofo ateu Nietzsche: "A habilidade não está em organizar uma festa, mas em trazer pessoas capazes de suscitar alegria". Assim fica claro que algumas perspectivas fora da Igreja podem enriquecê-la, desde que o cristão não repudie alguém simplesmente por seu rótulo de ateu ou de agnóstico.

Para se escutar a linguagem da criação sobre a diversidade sexual, é preciso ir muito além de uma breve enunciação da teoria de gênero. As perspectivas do mundo secular podem ajudar bastante. Ninguém terá respostas adequadas sem um diálogo aberto e constante entre diversas posições. As manchetes equivocadas atrapalham e são obstáculos a serem vencidos. Assim as luzes da razão podem trazer fecundidade ao pensamento e alegria aos filhos de Deus.




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Luís Corrêa Lima





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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Gaza: Perguntas e Respostas


Gaza: Perguntas e Respostas

Emir Sader - Agência Carta Maior - 06/01/2009
http://www.cartamaior.com.br/


1) A questão de fundo dos conflitos na Palestina é o veto dos EUA e a oposição militar de Israel contra a resolução da ONU do direito de existência de um Estado de Israel e de um Estado Palestino. O Estado israelense existe, porém os EUA - com seu veto no Conselho de Segurança - e Israel, com a ocupação dos territórios palestinos, impedem que a resolução da ONU seja posta em prática - única solução justa e com possibilidade de promover uma paz duradoura na região.

2) Nas eleições mais democráticas de toda a região - conforme atestado da própria Fundação Carter - o Hamas foi eleito. As potências ocidentais promoveram o boicote, junto com Israel, desconhecendo a vontade expressa dos palestinos. Essa é a raiz mais imediata dos conflitos atuais.

3) Se o Hamas é considerado uma organização terrorista e nunca invadiu territórios israelenses, como deve ser considerado o Exército de ocupação israelense?

4) A teoria das "guerras humanitárias" da Otan, formulada por Tony Blair, promoveu o bombardeio e a intervenção na Iugoslávia, acusada de promover uma limpeza étnica. Não se aplica a mesmíssima teoria a Israel?

5) O que se deve fazer para que Israel pare a "carnificina" - a expressão é do Lula - em Gaza?

6) A ruptura da trégua não foi feita pelo Hamas, mas por Israel, que em novembro matou a 6 dirigentes da organização.

7) O presidente da União Européia, presidente da República Checa, disse que "a ação de Israel é defensiva" (sic). Argumento similar utiliza a corrente revisionista da história alemã, que alega que os campos de concentração do nazismo foram uma ação preventiva (sic) em relação à repressão bolchevique na URSS.

8) A tese central do sionismo é a de que Israel é um povo escolhido, segundo sua interpretação dos textos religiosos. Ela vem de muito antes do nazismo. Daí que o holocausto sofrido na Alemanha não poderia ser comparado com nada. Isto é, o sofrimento alheio, inclusive o perpetrado por eles, nunca é igual ao deles. Têm em comum com os EUA a tese de que seria um poço predestinado para resgatar a humanidade da barbárie, impondo-lhe seu sistema político, fundado supostamente na liberdade.

9) Israel justifica o bombardeio indiscriminado de todos os lugares de Gaza, porque em qualquer lugar, segundo eles, - nas mesquitas, nas escolas, nos hospitais, etc. - poderiam estar escondidas bombas e militantes do Hamas. A Universidade atacada seria antro de professores e estudantes do Hamas. Atacam tudo com a mesma visão norte-americana no Vietnã: haveria que tirar a água (o povo) do peixe (os militantes). Assim buscaram destruir o Vietnã inteiro, com bombas napalm e bombas terrestres, que até hoje os vietnamitas ainda estão retirando.

10) Corre por ai um argumento envergonhado de defender a carnificina israelense, perguntando o que faria o Brasil se um país fronteiriço - alguns se atrevem a mencionar o Uruguai - ameaçasse a existência do Brasil, sugerindo que deveríamos fazer com nosso vizinho do sul o que Israel faz com os palestinos em Gaza: uma guerra de extermínio. Em primeiro lugar, o Brasil não ocupa nenhum outro país e se algum governo aventureiro tentasse fazê-lo, não teria nenhuma possibilidade de conseguir o consenso interno que Israel obtêm para fazer a guerra contra os palestinos, há forças democráticas internas que impediriam. Foi preciso uma feroz ditadura militar para poder mandar tropas para a República Dominicana, junto com as dos EUA, para afogar um movimento democrático naquele país. Em segundo lugar, o Uruguai, país de muito longa tradição democrática, nunca significaria riscos de extinção para o Brasil, nem nenhum outro vizinho. É um sofisma esse argumento, da mesma forma que o do Obama visitando Israel na campanha eleitoral, quando disse que se ameaçassem suas filhas dormindo na sua casa, se permitiria qualquer ato de agressão para defendê-las. Seu silêncio atual demonstra como as filhas de israelenses são privilegiadas em relação às dos palestinos, que ocupam diariamente a imprensa, feridas, aterrorizadas ou nas morgues, esperando lugar para serem enterradas. Quem hoje não se indigna diante do massacre israelense e se refugia no silencia ou em sofismas, perdeu a humanidade há muito tempo.

11) Pode-se fazer tudo com os mísseis, menos sentar em cima deles (para adaptar a fórmula clássica à época dos mísseis, antes eram baionetas). Isto é, uma vitória militar pode ser perdida politicamente por Israel. No Vietnã também a proporção era de uma vítima norte-americana por 10 ou 100 vietnamitas (lá também se matava indiscriminadamente e se dizia que eram guerrilheiros; todo morto virava guerrilheiro). Em algum momento se terá que estabelecer um novo acordo político e que acordo Israel acredita possível com o ódio que gera a carnificina que está produzindo e com o repúdio da opinião pública internacional?

12) Nenhum povo do mundo que oprime um outro, poderá viver em paz. Israel nunca terá paz, antes dos palestinos terem o mesmo direito deles - possuir um Estado soberano.

13) Mais do que nunca os judeus de esquerda, progressistas ou simplesmente pacificas, os que não estão de acordo com o massacre de Israel contra o povo de Gaza, tem que se manifestar, para que não se generalize a justa condenação de Israel e do sionismo, com a totalidade dos judeus.

14) Eu não tenho raízes islâmicas, apesar do meu nome. Sou filho de libaneses maronitas/católicos. Minha identificação com os palestinos hoje é a mesma que tive - como tantos - com os vietnamitas. Hoje, SOMOS TODOS PALESTINOS.


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Emir Sader