Volta-se a falar em Marcinkus
Revista Carta Capital - 27/06/2008
http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=9&i=1290
Paul Casimir Marcinkus
Revista Carta Capital - 27/06/2008
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Paul Casimir Marcinkus
O falecido monsenhor Paul Casimir Marcinkus é acusado na Itália de mais um crime pela amante do boss de um bando romano de inspiração mafiosa, Enrico De Pedis, assassinado há 18 anos. A mulher, Sabrina Minardi, testemunha de um processo em andamento, presta esclarecimentos sobre o seqüestro e o assassinato de Emanuela Orlandi, filha de um funcionário do Vaticano. O fato remonta aos anos 80, e Sabrina diz: "Emanuela foi seqüestrada por ordem de Marcinkus porque seu pai vira algo que não podia ver. Foi assassinada e seu corpo foi jogado em uma betoneira".
O Vaticano reage, denuncia infâmias. Pode ser que a imaginação de Sabrina, consumidora contumaz de cocaína, galope por pradarias insondáveis, mas não são de ficção as ações de Marcinkus, o cidadão americano mais poderoso na história da Igreja Católica. Administrou de 1971 a 1989 as finanças vaticanas, na qualidade de presidente do IOR (Instituto para as Obras da Religião), o banco da chamada Santa Sé.
Debaixo de sua batuta, os recursos do Estado pontifício fermentaram mil vezes. Marcinkus, que esteve no Brasil quando da primeira visita de João Paulo II, ficou profundamente envolvido em mais de um escândalo político e financeiro, inclusive na quebra clamorosa do Banco Ambrosiano de Roberto Calvi, que morreu enforcado debaixo de uma ponte sobre o Tâmisa, vítima de assassínio disfarçado em suicídio.
Parece cinema, mas não é. Como o próprio Marcinkus, jogador de tênis e golfe, cercado por um corpo de baile de secretárias esbeltas e loiras. Papa Wojtyla protegeu seu querido "banqueiro de Deus" por longo tempo, mesmo depois da tentativa da Justiça italiana de incriminá-lo quando do craque do Ambrosiano, espantoso escândalo que mescla Máfia e Maçonaria.
Abandonou-o ao seu destino com as águas mais calmas, em 1989, e o remeteu para uma remota cidadezinha perdida no deserto do Arizona, Sun Valley, que ao certo não precisava de um arcebispo. Ali Marcinkus passou para melhor vida, há dois anos, aos 84. Um livro de recente publicação na Itália, intitulado La Questua (a colheita dos óbulos), de autoria de um brilhante jornalista do diário La Repubblica, Curzio Maltese, ao cabo de uma pesquisa capilar, conta quanto os italianos pagam, via imposto, para sustentar um papa que age como rei, declara-se vigário do Altíssimo, e interfere sinistramente na vida do país. Esclarece também a importância do IOR, hoje mais valioso para os poderosos globais do que bancos suíços e paraísos fiscais.
É possível que a história de Sabrina careça de provas. Ao contrário de outras. Por exemplo, esta: João Paulo I, na noite em que se recolheu ao quarto para o sono que seria eterno, depositou sobre o criado-mudo alguns apontamentos relativos às atividades de Marcinkus. Tomou uma chávena de chá e amanheceu morto. Mais uma: Enrico De Pedis foi sepultado em área de propriedade do Vaticano com a autorização do cardeal-vigário de Roma.
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