domingo, 19 de agosto de 2012

O Aborto dos Outros (excelente trabalho)



 
O Aborto dos Outros
Ruth de Aquino - Revista Época nº 517 de 12/04/2008
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG83020-9554-517,00-O+ABORTO+DOS+OUTROS.html


É injusto, ineficaz e criminoso submeter uma mulher a risco de morte ou prisão por abortar.

Ruth de Aquino


É tudo verdade. Um milhão e 54 mil mulheres abortam por ano no Brasil. Cerca de 250 mil sofrem complicações em abortos clandestinos. Há sobreviventes que são algemadas, interrogadas, detidas. Essas são todas pobres. Não fazem parte do universo dos leitores desta revista. O drama das brasileiras que decidem interromper a gravidez, legalmente ou não, é exposto num documentário sensível e revelador da paulista Carla Gallo, de 34 anos. São 72 minutos de respiração ofegante, diante do choro silencioso de personagens reais que se entregam à câmera honesta de Carla.

O filme O Aborto dos Outros é uma ultra-sonografia da alma feminina, no momento delicado em que elas decidem não ter o filho. Uma menina de 13 anos, estuprada a caminho da escola, é a primeira personagem, com 19 semanas de gravidez. No quarto do hospital, ela desenha casas e árvores com sol. O rosto não é mostrado. Mas estão na tela as espinhas adolescentes, as pernas com pêlos e machucados infantis, as mãos nervosas que tiram e botam o anel. A mãe chora: "Minha filha está amparada pela lei, mas sei que Deus é contra isso". No Brasil, o aborto só é legal em casos de estupro ou risco de morte da mãe. A menina fica enjoada com as contrações induzidas pelos médicos. Escorre uma lágrima dos olhos escuros e assustados. Ela quer se livrar logo de tudo.



Carla Gallo



"O filme não poderia ser menos triste, mais leve, já que é a favor da legalização do aborto?", pergunta um espectador à diretora do documentário, logo após a exibição no festival É Tudo Verdade, no Rio de Janeiro. Carla fica pensando em como poderia fazer um filme feliz sobre essas histórias. Impossível. "Nunca é totalmente tranqüilo para as mulheres", diz. "Sempre existe certa dose de dor e conflito". Não há homens acompanhando as mulheres no filme. "A ausência deles é importante. Elas estão sozinhas nessa hora. O aborto é uma questão feminina", afirma Carla.

O filme toma posição clara ao entrevistar médicos e juízes a favor da descriminalização. Como exemplo de hipocrisia, Carla cita um vídeo de 30 segundos do Ipas, organização pela saúde de mulheres. Na rua em São Paulo, pedestres são abordados. Você é contra ou a favor do aborto? Contra, dizem todos. Você conhece alguém que já fez aborto? Sim. Você acha que essa pessoa deveria ser presa? Todos emudecem (veja o vídeo abaixo - duração de apenas 00:33 segundos).

"É como se eu tivesse levantado um tapete", diz Carla. A platéia fica chocada com a proximidade, intimidade e franqueza dos depoimentos. Uma mulher obteve autorização judicial para interromper a gravidez aos seis meses porque o feto tinha duas anomalias letais, e não sobreviveria 24 horas. "Eu queria deixar nascer por causa da religião, mas ia ser mais triste, não? Ver ele nascer e deixar para trás...". Outra diz que abortou por desespero. "Nem fiz a faxina, peguei o trem para casa, tomei remédio, fiquei deitada até a bolsa d'água estourar, sangrou, sangrou, até sair tudo, fiquei gelada. Acho que morri e voltei porque, para Deus, não era a minha hora. Fui denunciada por uma conhecida. Fiquei uma semana algemada no hospital".

Caso de polícia, religião ou saúde pública? O ginecologista Jefferson Drezett, entrevistado no filme, calcula que 70 mil mulheres morram por ano no mundo em decorrência de abortos inseguros. Uma a cada sete minutos. Na semana passada, o papa Bento XVI disse no Vaticano que "aborto é culpa grave".


"Filme mostra o drama de 1 milhão de brasileiras por ano".


É injusto, ineficaz e criminoso submeter mulheres a risco de morte e prisão por abortar. Os países desenvolvidos - entre eles a terra que abriga o Vaticano, a Itália - têm aborto legal e políticas muito mais eficientes de planejamento familiar. A maternidade desejada, consciente e amparada é uma bênção para os filhos.

Imaginei como Carla Gallo deve ter se exaurido ao filmar O Aborto dos Outros. "Chorei durante toda a filmagem", diz ela.

Existem filmes que, quando terminam, pregam você à poltrona. Os créditos passam, mas não os vemos. É porque as cenas mais fortes voltam à mente em desordem cronológica.

Eu fiz aborto. Não me orgulho, nem me arrependo.





Vai Pensando Aí!



(clique na seta acima para ver o vídeo - duração de 00:33 segundos)











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7 comentários:

  1. É uma tremenda hipocrisia a pressão que a sociedade faz em cima do tema aborto. A questão não deveria ser uma guerra entre os que são a favor ou os que são contra o aborto, mas sim em cima do direito da mulher poder escolher o fazer ou o não fazer. Caso opte por fazer, dar então a essa mulher todas as condições legais, psicológicas, médicas e higiênicas. Um abraço. Drauzio Milagres.

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  2. Drauzio é uma questão delicada, para mim que acredito na filosofia espírita, acredito que existem muito mais envolvimentos do que se imagina, mas como vivemos aqui na terra, não devemos apontar o dedo, julgar, não creio que elas tenham que ser presas, acho que é uma decisão particular de cada uma, mas tem gente que não tem vergonha na cara, tive uma conhecida que cortei a amizade, porque ela simplesmente não tomava cuidado nenhum, engravidava e simplesmente assim que percebia mais ou menos no segundo mês abordava, quando a conheci já tinha abordado duas vezes e infelizmente abordou a terceira, antes de abordar me telefonou e eu disse que ela cometia assassinados, afinal das contas ela fez o aborto, me distanciei, só me procurou para ajudá-la no quarto aborto quando ficou desempregada, como ela existem muitas, estas não deveriam ser presas, mas um juiz deveria obrigá-las operar para não mais engravidarem. Bem como vê existe casos e casos, existe quem aborta porque não tem mesmo condições, mas existe quem simplesmente quer tirar por puro egoísmo e irresponsabilidade, tem mães e MÃES, beijos Luconi

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    1. Respondendo Luconi, Joel Munhoz e Beth Muniz.

      Creio no direito da opção de cada um em ser favorável ou não ao aborto, independente de seu credo, valores, princípios e razões, mesmo para aqueles que não tem a coragem de se posicionar e usam a religião, seja ela qual for, para decidirem por eles.

      Mas creio também que não temos o direito de decidir pela mulher. A opção é dela e seja qual for a decisão não podemos interferir.

      Um abraço.

      Drauzio Milagres

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  3. Pois é, amigo Drauzio! É lamentável, a atitude hipócrita e cerceadora da liberdade, de quem faz as leis e administra esse país, assim como também de religiosos que se acham donos da verdade divina, na questão aborto. E se dizem a favor da vida. Mas de que vida que eles estão falando? Só se for da vida privilegiada que eles têm, da posição de "autoridades" que "sabem" o que é o melhor para as pessoas, no caso a mulher. Muito esclarecedor esse texto sobre o documentário da Carla Gallo. Também acho que não é uma questão simplista de ser contra ou a favor do aborto. É respeitar a decisão da mulher, pois somente ela está experienciando a situação e, ainda querem punir ainda mais quem já está sofrendo uma situação difícil e indesejada. Um abraço!

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    1. Respondendo Luconi, Joel Munhoz e Beth Muniz.

      Creio no direito da opção de cada um em ser favorável ou não ao aborto, independente de seu credo, valores, princípios e razões, mesmo para aqueles que não tem a coragem de se posicionar e usam a religião, seja ela qual for, para decidirem por eles.

      Mas creio também que não temos o direito de decidir pela mulher. A opção é dela e seja qual for a decisão não podemos interferir.

      Um abraço.

      Drauzio Milagres

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  4. É tudo verdade!
    O silêncio das pessoas quando instada a responderem a pergunta, revela não apenas como enquanto sociedade somos hipócritas, mas, também, que tudo pode e é permitido, desde que por debaixo dos panos.

    O aborto dos outros, a fome dos outros, a miséria dos outros... Tudo pertence aos outros. Nós somos intocáveis e estamos imunes às mazelas da vida.

    É preciso e necessário abordar o tema sem paixões, dogmas, crenças e preconceitos.

    É uma necessidade, inclusive, de saúde pública.

    Nos “lares” mais abastados, tudo se resolve entre quatro paredes, acéticas, e em camas confortáveis. Às mulheres pobres cabe a humilhação da exposição pública e tratamento marginal.

    Os homens que são contra ao aborto, deveriam pensar nisso antes de “pegarem” – como costumam dizer, uma para se deitarem – como diz a minha mãe.

    Quanto às mulheres, deveriam pensar que a elas cabe a decisão de se deitarem ou não - dependendo da situação (óbvio, que se excetuando o caso de estupro). . Mas, sobretudo, que ao final, são delas o ônus do massacre social.

    Como profissional da área de saúde, não foram poucas às vezes em que me vi nestas situações relatadas no vídeo. Triste.

    Como mulher e cidadã, já socorri mulheres em situações de risco, quando à sociedade lhe hipocritamente lhes virava as costas, e o Estado se omitia.

    Teses são fáceis de serem construídas. No máximo, apenas um neurônio é suficiente. rsrsrs
    Agora, encarar a verdade dos fatos, meu amigo, poucos conseguem. Melhor se esconder atrás do biombo da hipocrisia!

    Este artigo deve ser espalhado, espalhado e espalhado...
    Esse documentário de ser alastrados, alastrado e alastrado...

    O farei, sem temor ou vergonha.
    Não me agrada a covardia!

    Um abraço.
    Para você, um para a Ruth.
    Para os que me lêem,
    E, para os que comigo não concordam.
    É da vida!


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    1. Respondendo Luconi, Joel Munhoz e Beth Muniz.

      Creio no direito da opção de cada um em ser favorável ou não ao aborto, independente de seu credo, valores, princípios e razões, mesmo para aqueles que não tem a coragem de se posicionar e usam a religião, seja ela qual for, para decidirem por eles.

      Mas creio também que não temos o direito de decidir pela mulher. A opção é dela e seja qual for a decisão não podemos interferir.

      Um abraço.

      Drauzio Milagres

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Entre no Blogger O Mundo No Seu Dia-a-Dia e faça seus comentários. Um abraço. Drauzio Milagres - http://drauziomilagres.blogspot.com