Cresce a incidência de infarto em mulheres
Cleide Quinália - CanalRH - 28/08/2008
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) da Universidade de São Paulo (USP) mostra que, nos últimos anos, o número de mulheres em posição de comando nas companhias cresceu cerca de 30%. Este indicador explica, em parte, o aumento do número de ataques cardíacos no público jovem feminino. Hoje, o infarto é considerado a principal causa de morte entre as brasileiras.
De acordo com o Ministério da Saúde, na década de 70, de cada dez pessoas que sofriam do problema, apenas uma era mulher. Hoje, esse número subiu para quatro em cada dez infartos. A doença já supera até mesmo os índices de câncer de mama, uma das patologias que mais assustam as mulheres.
Segundo os especialistas, esse aumento pode ser atribuído, em grande parte, ao novo perfil assumido pelas mulheres. De acordo com a cardiologista e coordenadora do centro de check-up do Hospital Sírio-Libanês, Danielli Haddad, ao entrar para o mercado de trabalho a mulher passou a ter uma carga muito maior de responsabilidades.
Somado às preocupações do cotidiano, vem também o estresse decorrente do trabalho. "Pressões por resultados, competitividade, necessidade de estar sempre atualizada, são fatores que foram incorporados ao dia-a-dia feminino", conta a especialista, que acrescenta: "Hoje, além da atenção à carreira profissional, as mulheres também acumulam as funções de mãe, de esposa e de dona de casa; isso acontece porque, apesar das conquistas no mundo corporativo, as relações maritais permanecem as mesmas, ou seja, cuidar dos afazeres domésticos, preparar o jantar para a família e buscar as crianças na escola, por exemplo, continuam sendo, culturalmente, atribuições da mulher", diz.
Danielli explica que, para dar conta de tudo isso, a mulher entra num ritmo frenético e até mesmo atividades simples, como praticar algum exercício físico ou fazer uma refeição balanceada e tranqüila, parecem não caber na agenda do dia.
A saída encontrada para a escassez de tempo é recorrer aos famosos fast foods - ricos em gorduras e extremamente prejudiciais, já que contribuem para o aumento de peso e do colesterol, dois fatores importantes para o desenvolvimento de hipertensão, diabetes e problemas cardiovasculares.
"O excesso de metas a serem cumpridas deixa a pessoa ansiosa, fazendo com que ela se esqueça de cuidar de si própria, e, pior, estimulando a adoção de hábitos pouco saudáveis, como o fumo, cada vez mais comum entre as mulheres", diz. Uma pesquisa realizada pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, indica que o risco de infarto em mulheres fumantes é seis vezes maior do que nas não-fumantes. Dados estatísticos mostram, ainda, que o fumo é responsável por 40% das mortes de mulheres com menos de 65 anos.
A combinação do fumo ao uso de anticoncepcionais pode resultar também numa fórmula explosiva para o organismo. De acordo com o estudo norte-americano, nesses casos, o risco da mulher sofrer um ataque cardíaco pode ser até 30 vezes maior. A explicação disso está nos hormônios femininos - estrogênio e progesterona - que protegem as mulheres de doenças como o infarto, mas que têm esse efeito reduzido pelo cigarro.
É, aliás, justamente devido à redução desses níveis hormonais que as mulheres ficam mais propensas a problemas cardiovasculares após a entrada da menopausa. O estrógeno promove elevados teores de lipoproteínas de alta densidade (HDL), conhecidas como "bom colesterol", que ajudam a manter as artérias livres de arteriosclerose (acúmulo de gordura no vaso sanguíneo). "Na menopausa, esses níveis caem significativamente, e como a reposição hormonal ainda é uma questão polêmica entre os médicos, o ideal é adotar medidas preventivas desde a juventude", avalia Danielli.
Mudança de hábitos é o primeiro passo
Evitar o infarto é, basicamente, evitar os fatores de risco que podem desencadear o problema. Por isso, a adoção de hábitos mais saudáveis, como alimentação balanceada, exercícios físicos regulares e atividades de lazer que ajudem a combater o estresse, é sempre indicada para quem quer chegar à terceira idade com saúde e qualidade de vida. "Estudos já mostraram que as chances de ultrapassar os 65 anos de idade dependem em 56% do estilo de vida da pessoa", diz a cardiologista.
Segundo Danielli, antes de qualquer coisa, a mulher precisa avaliar o que ela realmente quer para sua vida e onde espera chegar. "Na ânsia de investir na carreira e obter o sucesso profissional, muitas mulheres acabam deixando de lado outros sonhos, como ser mãe, por exemplo; porém, quando se dão conta disso, os anos podem já ter se passado e elas percebem que estão colhendo os frutos da vida que escolheram", explica. "É bem comum encontrar mulheres que chegam à menopausa sedentárias e com quadros de depressão e obesidade".
A cardiologista conta que, no mundo corporativo, as mulheres podem ser divididas em dois grandes grupos: as executivas de alto escalão e as que ocupam cargos variados na empresa. O primeiro grupo, em função da própria posição que ocupa, tem uma preocupação maior com a imagem. Em geral, são mais magras e dispensam mais tempo para cuidar do corpo e da alimentação. Apresentam, também, níveis de estresse e irritabilidade altos. Já o segundo grupo é formado por profissionais que começam o expediente cedo e não têm hora para ir embora. São aquelas que buscam os filhos na creche à noite e enfrentam uma segunda jornada ao chegarem em casa. Essas são as que mais sofrem, garante Danielli. "Elas se sentem culpadas por não conseguirem cumprir bem todas as metas e acabam se esquecendo de si próprias".
Além da mudança de comportamento e da adoção de "gotas diárias de felicidade" para combater o estresse, Danielli ressalta a importância da realização de check-ups periódicos, principalmente a partir dos 40 anos. Essa avaliação, no entanto, deve ser antecipada quando a mulher tem histórico familiar de infarto ou morte súbita (principalmente em parentes de primeiro grau); pais ou irmãos com aumento do colesterol; sintomas como falta de ar, palpitações e dores no peito; tomadas de pressão freqüentemente acima de 135 x 90 mmHg; é tabagista, diabética, ou está acima do peso; já apresentou doença cardíaca na infância ou simplesmente planeja realizar alguma prática esportiva.
O acompanhamento médico permite um melhor controle do paciente, evitando-se, assim, que eventuais problemas avancem para quadros clínicos mais complicados, diz ela. Segundo a médica, muitas empresas já oferecem programas de check-up, levando em conta justamente os altos índices da doença observados entre executivos. Mas outras ações também contribuem para prevenir o problema, como os programas de qualidade de vida, ginásticas laborais e intervalos para descanso implantados pelas corporações.
O que é e quais os sintomas do infarto
O infarto é a falta de circulação em uma área do músculo cardíaco, cujas células morrem por ficarem sem receber sangue com oxigênio e nutrientes. Ele é causado pelas placas de gordura que entopem as artérias coronárias, interrompendo o fluxo de sangue para o coração.
Os sintomas mais conhecidos são dores no peito, que se estendem para o braço esquerdo, e formigamento. No entanto, outros sinais podem indicar o princípio da doença, como dor abdominal ou lombar, diarréia, suores frios, palidez, náuseas e vômitos. Por isso, é preciso ficar atento a qualquer alteração do organismo. De cada três pessoas que sofrem ataques, uma não sente dores no peito. Em mulheres, idosos e diabéticos, a incidência do sintoma é significativamente menor.
Principais cuidados:
- Fazer check-ups periódicos, principalmente acima dos 40 anos, ou se a pessoa faz parte dos grupos de risco;
- Evitar alimentos ricos em colesterol e o uso excessivo de sal;
- Atenção ao consumo excessivo de álcool;
- Abolir o uso de cigarros e drogas;
- Fazer exercícios físicos sob orientação médica, lembrando que caminhar é melhor do que correr;
- Adotar hábitos de vida mais saudáveis, para combater o estresse;
- Incorporar ao dia-a-dia, atividades que ajudem a relaxar ou proporcionem momentos de alegria, como hobbies, passeios etc.;
- Prevenir ou tratar doenças como diabetes, hipertensão e distúrbios relacionados ao colesterol.
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