Acharam o Ponto G
Letícia Sorg - Revista Época nº 510 de 25/02/2008
Pesquisadores italianos afirmam ter achado a chave do orgasmo feminino. Mas a discussão não acabou.
O ginecologista alemão Ernst Gräfenberg afirmou na década de 50 que uma pequena área da anatomia feminina, quando estimulada, levava as mulheres a orgasmos mais intensos que aqueles obtidos com a estimulação do clitóris. De lá para cá, cientistas do mundo inteiro procuram o elusivo "ponto G", batizado com a inicial de seu "descobridor". Uma pesquisa da Universidade de Áquila, na Itália, publicada no Journal of Sexual Medicine, é a mais recente tentativa da ciência de comprovar a existência do ponto G. Segundo um dos autores, o pesquisador Emmanuele Jannini, algumas mulheres têm um ponto G e outras não. "Será possível determinar, de uma maneira rápida, simples e barata, numa ultra-sonografia, se uma mulher tem ou não um ponto G", afirma Jannini.
O ponto G, afirmou Gräfenberg, se situa em um tecido entre a vagina e a uretra, podendo ser estimulado através da parede vaginal interna. Para encontrá-lo, por mais estranho que pareça, Jannini começou examinando cadáveres. O cientista encontrou diferenças nas quantidades de determinadas substâncias relacionadas ao aumento da atividade sexual. Uma delas é o PDES, enzima responsável pelo processamento do óxido nítrico, substância que ajuda a ereção masculina - os remédios para impotência inibem a ação do PDES para melhorar o fluxo de sangue no pênis.
O passo seguinte de Jannini foi estudar mulheres vivas, para sondar se a presença desses marcadores estava associada a relatos de orgasmos vaginais. Para tentar chegar a essa resposta, Jannini fez ultra-sonografias para estudar o tecido entre a vagina e a uretra. Participaram do estudo nove mulheres que afirmaram ter orgasmos vaginais e 11 que disseram não tê-los. Os pesquisadores concluíram que o tecido daquelas que sentiam o orgasmo vaginal era mais espesso. "A conclusão provável é que há mulheres que têm e outras que não têm o ponto G", afirmou a ÉPOCA Jannini. "Não tê-lo não impede a mulher de ter orgasmos. É uma diferença anatômica como ter olhos castanhos ou verdes, e não um problema de saúde".
Para outra pesquisadora, Beverly Whipple, do Departamento de Enfermagem da Universidade Rutgers, de Nova Jersey, nos Estados Unidos, todas as mulheres têm um ponto G. As diferenças anatômicas encontradas pelos italianos estariam relacionadas apenas a quanto elas exercitam a estrutura vaginal - o que poderia explicar seu espessamento.
Para o ginecologista Fábio Lopes Teixeira Filho, da Universidade Federal de São Paulo, o estudo italiano está longe de colocar um ponto final na discussão. "O grupo de mulheres estudado foi muito pequeno", afirma. O professor também sugere que o estudo seja repetido usando exames mais sofisticados e exatos, como a ressonância magnética e a tomografia. "Parâmetros anatômicos não são o mais importante para determinar a ocorrência do orgasmo vaginal", diz Teixeira Filho. Variações de tamanho do clitóris, por exemplo, não parecem ter influência na ocorrência ou na intensidade do orgasmo. "Fatores como o estresse e o relacionamento do casal costumam ser mais importantes".
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Entrevista com o pesquisador Emmanuelle Jannini
Letícia Sorg - Revista Época nº 510 de 25/02/2008
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EDG81943-5856,00.html
Letícia Sorg - Revista Época nº 510 de 25/02/2008
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EDG81943-5856,00.html
Revista Época - Como o senhor e o grupo de pesquisa chegaram à conclusão de que o ponto G existe?
Emmanuelle Jannini - Usamos técnicas fisiológicas para encontrar o ponto G. Significa que percebemos diferenças anatômicas entre as regiões do períneo e o clitóris em autópsias que realizamos. Minhas descobertas foram as diferenças entre as mulheres. Algumas possuem um profundo corpo clitórico dentro da vagina. Outras não possuem qualquer vestígio desta "corpora cavernosa". Outras possuem ainda a chamada próstata feminina. Todos esses elementos compõem o ponto G. Meu primeiro interesse foi pré-clinico e celular. Utilizamos uma análise bioquímica para localizar o ponto G - uma espécie de marcador clínico - chamado PDES. Mas não podemos perguntar a um cadáver sobre sua vida sexual. Por isso, fizemos novos estudos para relacionar essas descobertas fisiológicas com a performance sexual e a possibilidade de atingir o orgasmo vaginal, comprovando as diferenças clínicas entre as mulheres.
RE - Qual a verdadeira origem do ponto G? Quão longe estamos de entender a anatomia feminina? Alguns dizem que foi um ginecologista alemão que o descobriu...
Jannini - Ele demonstrou que a excitabilidade deste ponto, que estimular essa região é um modo de atingir o orgasmo vaginal. Mas agora a ciência pode comprovar, através de ressonâncias, ecografias - ferramentas simples - que esta parte do corpo é diferente de mulher para mulher. A ecografia é capaz de ver as partes que compõem a vagina por dentro, seus tamanhos.
RE - Qual a importância de estudar este ponto específico da anatomia feminina?
Jannini - Percebi que é importante porque muitas mulheres são chamadas de frias. É porque o órgão comumente utilizado para o prazer é o clitóris. Mas algumas mulheres atingem o orgasmo sem estimular o clitóris. O ponto G não é necessário para alcançar o orgasmo, mas pode ser uma outra porta para a casa do prazer. Mas se você já tem uma porta, para que outra? E por que não? Porém, não tê-la não é doença. Muitas garotas pensam que há algo errado com elas por não terem. Ter o ponto G é como a cor dos olhos. Alguns têm verdes, outros castanhos. Nenhum dos dois é doença.
RE - Mas é importante às mulheres ter outras opções?
Jannini - Sim, mas é importante estabelecer que o órgão é um só. O ponto G é uma maneira interna de atingir o orgasmo. Não gosto de ver a sexologia ligada a opiniões. Quero ver a sexologia ligada a fatos, evidências científicas. Espero que minhas pesquisas possam ser úteis para entender a fisiologia humana, e espero que agora, antes de falar da sexualidade feminina, as pessoas sintam a necessidade de estar um pouco mais ligadas aos fatos científicos.
RE - Mas o senhor percebeu primeiro uma diferença bioquímica, depois buscou as diferenças anatômicas em suas pesquisas?
Jannini - Sim. As diferenças bioquímicas correspondem perfeitamente às diferenças anatômicas. Usei uma ferramenta completamente diferente. A primeira foi bioquímica, uma espécie de foto microscópica. Agora tirei uma macroscópica.
RE - Uma outra pesquisadora disse que todas as mulheres têm o ponto G e que a diferença está em quanto elas exercitam a região. O que o senhor acha dessa crítica?
Jannini - Creio que se uma mulher tem o ponto G, ela tem certeza que todas têm. Se uma garota não alcança o orgasmo vaginal, ela está certa de que nenhuma é capaz de alcançar. É comum usar a si mesmo como um espelho da sexualidade humana, de toda a sexualidade humana. Isto é errado. Existem muitas diferenças anatômicas, as mulheres são diferentes umas das outras. É um erro comum. Em fotos de vaginas de cadáveres posso mostrar que algumas mulheres são completamente desprovidas de uma estrutura semelhante ao do ponto G. Essas evidências, que falam por si mesmas. Estes achados se explicam. A inexistência de células impossibilita o orgasmo.
RE - Mas não seria importante estudar outros fatores envolvido no orgasmo, incluindo a relação entre o casal?
Jannini - Você tem de saber que ainda são necessários outros tipos de estudo. É preciso aumentar o número de descobertas.
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