Acredite, vivemos no melhor dos mundos
Domenico De Masi - Revista Época nº 493 de 29/10/2007
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG79759-8723-493,00.html
"Nenhum vento é favorável para o marinheiro que não sabe para onde ir", disse o filósofo Sêneca. A desorientação que marca nossa vida pós-industrial também deriva de nossa incapacidade de traçar as coordenadas de nosso presente e definir com lucidez os portos de nosso futuro. O que acontece então é que as relações sociais e a tenacidade de atingir objetivos se atenuam. Nós nos tornamos apáticos e nosso estilo de vida se torna banal.
É claro que nem todos reagem do mesmo  modo: os de personalidade forte transformam sua desorientação em busca criativa.  Mas os de personalidade fraca perdem a confiança em si mesmos e nos outros. É  essa a encruzilhada que nos aguarda. Creio que foi o escritor argentino Jorge  Luis Borges quem disse: "Quando chegar a uma encruzilhada, entre nela". Mas como  seguir por um caminho que ainda não foi traçado? Em que balizas podemos confiar  para reduzir nossa desorientação?
 Apesar disso tudo, ainda podemos nos  apoiar em algumas certezas tranqüilizantes: a cada ano, conforme lembrei num  artigo anterior, o Produto Interno Bruto do planeta cresce, em média, 3%. Nunca  antes a vida humana teve duração tão longa. Nunca pudemos produzir tantos bens e  tantos serviços com tão pouco esforço físico. Nunca as minorias foram tão  respeitadas. Nunca tantos cidadãos estiveram inseridos na gestão da coisa  pública. Nunca tivemos, como hoje, a capacidade de debelar a dor física. Ante um  sistema social cada vez mais complexo, dispomos de informatização e tecnologia  cada vez mais aptas a dominar essa complexidade.
 Além dessas confortantes certezas, a  orientação poderia vir da promoção da sabedoria e da alegria da beleza: duas  coordenadas que o mundo clássico – de Sócrates a Sêneca – cultivou com toda a  sua prodigiosa criatividade e que ainda hoje permitem traçar um bom itinerário a  quem se aventura na pós-modernidade.
 Essas duas coordenadas possibilitam que  coloquemos cada coisa em seu justo lugar na escala de valores, sem nos deixar  atropelar pela manipulação da mídia em geral, que nos induz a supervalorizar o  fútil e ignorar o essencial. Elas nos permitem controlar a infindável  necessidade de riqueza e poder, para trazer nossa atenção para necessidades  fundamentais de introspecção, amizade, amor, divertimento e  convivência.
 No final, a promoção da sabedoria e a  alegria da beleza conseguem revelar, por trás de cada razão para o medo, também  uma ocasião para a esperança. A explosão demográfica pode ser desfeita por um  atento controle de nascimentos. As ondas migratórias podem compensar nosso  declínio demográfico com novas forças de trabalho e novas importações culturais.  A tecnologia moderna, que provoca desocupação quando acolhida sem critérios,  pode assegurar o bem-estar e o tempo livre pode ser introduzido com  discernimento. Os movimentos ambientalistas podem manter viva a consciência  ecológica. Os novos instrumentos disponíveis para garantir a transparência podem  construir uma muralha contra a violência e a corrupção.
 Para ativarmos a força benéfica das  mudanças e para conquistarmos nossa bússola orientadora, será preciso que nos  armemos de uma utopia positiva, feita de fantasia e realidade, de emoções e de  regras. É preciso convencer-se de que o nosso não é o melhor dos mundos  possíveis, mas que nos resta o melhor dos mundos que já existiu.
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Num mundo de tanta dor, guerras, violência, corrupção, fome, injustiça e tantas outras coisas ruins, é sempre muito bom ler e ouvir pensamentas, opiniões e idéias positivas sobre a realidade que vivemos. Um abraço. Drauzio Milagres.
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